Por Amirah Sharif

No domingo passado, 9 de maio, comemorou-se o Dia das Mães. Lembrei com alguns amigos que mãe de pet também comemora a data. Mas, em tempos de pandemia, foi prudente não aglomerar. Por isso, adiamos os presentes, encontros e abraços. Afetos permaneceram com cada um de nós. Ouso dizer que quem tem um animalzinho dentro de casa não adia afeto, porque ele e o amor estão ali vivos, presentes. Correm ao nosso encontro ou se aconchegam a nós diariamente. Para quem só tem filhos com quatro patas, o Dia das Mães é para agradecer o tanto que se tem de afeto, carinho e amor.

Gratidão

O tratado de gratidão de São Tomás de Aquino tem três níveis de gratidão: um nível superficial, outro intermediário e um terceiro mais profundo.

O nível superficial é do reconhecimento intelectual, o cerebral, cognitivo do reconhecimento; o segundo nível é do agradecimento, por dar graças a alguém por aquilo que ele nos proporciona; o terceiro nível, mais profundo, é do vínculo, do sentirmos unidos e comprometidos com essas pessoas.

Em inglês ou em alemão se agradece no nível mais superficial da gratidão. Quando se diz: thank you ou zu danken, estamos agradecendo no plano intelectual.

Na maior parte das línguas europeias, quando se agradece, é no nível intermediário de gratidão. Quando se diz merci, em francês, gracias, em espanhol ou grazie, em italiano, quer dizer dar uma mercê, dar uma graça, estou grato por aquilo que me trouxe, por aquilo que me deu.

Mas é só em português que se agradece com o terceiro nível, o nível mais profundo do tratado de gratidão. Nós dizemos OBRIGADO, que quer dizer isso mesmo. Fico obrigada, fico vinculada, fico agradecida. No meu caso, fico agradecida por ser protetora de animais, por ser mãe de filhos com quatro patas, que me ensinam diariamente o que são travessuras, bagunça, disputas, respeito pelo outro, pelas diferenças, o viver com alegria, praticando amor, carinho e afeto.

Homenagem

Neste ano, especificamente, o meu coração ficou apertado, ao pensar no sofrimento das mães sem seus filhos com quatro patas e sem seus filhos humanos; mães sem filhos, sem afeto e sem amor. Pensei nas mães que perderam os filhos para a Covid-19, pensei na D. Déa Lúcia, mãe do Paulo Gustavo. A morte desse talentoso ator nos impactou e nos alertou de que a juventude e a saúde não nos protegem deste vírus.

Havia lido, ano passado, uma entrevista com Paulo Gustavo, em que ele dizia se proteger muito. Inclusive, certa vez, se viu colocando álcool no rosto e até dentro do nariz, para não pegar o tal “corona”. Por isso, quando soube que havia contraído o vírus, fiquei surpresa, mas na esperança de que ele iria vencê-lo, também porque o consagrado humorista poderia pagar bons médicos e ter um tratamento de excelência. Mas, infelizmente, o desfecho foi trágico. A morte de Paulo Gustavo nos deu a certeza de que ninguém está seguro.

Na despedida, D. Déa Lúcia disse: “Meu filho, obrigada por você ter me escolhido para ser sua mãe”. Acredito nisso. Escolhemos antes nossos pais, nossas companhias. Por essa razão, também agradeço a Deus pela oportunidade de poder proteger e cuidar de suas criaturinhas.
Animais podem contrair coronavírus?

Já ouvi muitos tutores indagarem aos veterinários sobre a possibilidade de os animais de estimação contraírem a Covid-19. Há ainda muitas dúvidas, daí é importante saber o que a ciência descobriu até agora.

Cães e gatos podem contrair um coronavírus próprio de suas espécies. Isso é fato. Mas esse vírus nada tem a ver com a Covid-19. Nós, tutores e protetores, podemos ficar mais aliviados e tranquilos. No entanto, é prudente acompanhar as pesquisas, pois se trata de uma nova doença. O que é novo precisa ser desvendado e conhecido. As informações oficiais e atualizadas sobre esses estudos se encontram em boletins como o da World Small Animal Veterinary Association (WSAVA). É uma entidade séria em que veterinários de todo o mundo se baseiam. Aproveito a oportunidade, para colocar a coluna à disposição dos leitores que queiram apresentar algum estudo ou pesquisa sobre esse tema. Meu e-mail é asharif@bol.com.br

Por enquanto, também estou acompanhando os boletins da WSAVA.
E se o humano pegar a doença?

Se o humano pegar a doença, deve ficar isolado. Não deve ficar na companhia de seus bichinhos. Atitudes de celebridades infectadas, que postam fotos ao lado de seus peludos nas redes sociais, não devem ser seguidas. Não é essa a medida correta! Pessoas infectadas devem usar luvas, máscaras, higienizar as mãos com álcool gel antes e depois do contato com seus animais. Os pets NÃO contraem a Covid-19, mas a higienização é necessária para estar na companhia deles. Essa é a orientação dos veterinários.

Apenas para ilustrar a informação de que pets não contraem ou transmitem o vírus, um importante laboratório veterinário americano, a Idexx, publicou o resultado de um teste de Covid-19 desenvolvido para pets, realizado em milhares de animais. Para a alegria de todos nós, tutores e protetores, todos deram negativo!

Adoção

Passei mais um domingo com disposição de viver. Se eu pudesse me encontrar com a mãe de Paulo Gustavo, lhe diria: adote dois peludinhos. Um poderia se chamar Paulo, o outro, Gustavo. O amor que emociona, o amor da gratidão, estará sempre a seu lado. Pensemos nisso e agradeçamos aos nossos filhos de quatro patas pela oportunidade de praticar o amor incondicional, o amor das mães de todos os seres.

Finalizo hoje com versos da canção “Tocando em frente”, de Almir Sater e Renato Teixeira: “é preciso amor pra poder pulsar, é preciso paz pra poder sorrir, é preciso a chuva para florir… todo mundo ama um dia, todo mundo chora, um dia a gente chega e no outro vai embora”…


AMIRAH SHARIF é jornalista, advogada, protetora dos animais e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. asharif@bol.com.br