Por Amirah Sharif

Certo dia desta semana, resolvi observar os cachorros de rua que frequentam a minha “pensão”. Vou abrir um parêntesis para esclarecer que coloquei dois canos: um em cada lado da porta principal de entrada da casa onde moro para que os animaizinhos de rua possam se alimentar de boa ração e beber água filtrada.

O líder

E ao observá-los, percebi que há reclamações, mas não há briga entre eles. Então, parti para verificar qual é a orientação que parte do líder. É uma orientação que acena para a guerra ou que acena para a paz? É uma orientação que acena para o confronto ou que acena para o entendimento? O líder se alimenta e os demais aguardam. O líder sai e aí chega um no caninho, enquanto dois outros latem, latem, latem, mas não avançam e nem partem para a briga até que todos conseguem comer e beber e, então, seguem o líder. Se as reclamações ficarem mais acaloradas, o líder dá uns dois, três latidos e sai estrada afora junto com Badu, seu fiel escudeiro. Curiosamente, esse valente líder é uma “menina”, é a super Laurinha!

A marmita

Aqui, entre os humanos, circulou um vídeo do empresário Cássio Cenali em que ele pergunta a uma senhora em quem ela irá votar. Ela declarou o voto e, então, o “cristão” lhe disse que, a partir daquela data, ela não teria mais marmita. O que mais me entristeceu foi o fato de Ilza Ramos sorrir o riso do constrangimento, da falta de poder, de quem não tem nada. Ela não foi agressiva, não revidou, não gritou. Ela sorriu e, assim, concluiu-se o ritual da humilhação. Foi para o “tronco”. O tronco, nesse caso, é a fome.

Escravidão: presente!

Dentre tantas e tantas contribuições que o escritor, político, advogado e diplomata Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, o Joaquim Nabuco, nos proporcionou, uma delas se destacou: sua luta implacável pelo fim da escravidão.

“A escravidão não é uma opressão ou constrangimento que se limite aos pontos em que ela é visível: ela espraia-se por toda parte; ela está onde vós estais; em nossas ruas, em nossas casas, no ar que respiramos, na criança que nasce, na planta que brota do chão”.

Ensinamento de Laurinha

A cachorrinha de rua Laurinha percebeu, na sua intuição canina, que deve haver respeito entre eles, que não deve e não pode haver desentendimentos para que a matilha permaneça forte e unida. Laurinha sabe que ocupa essa função de líder e sabe que tem responsabilidades. Uma delas é a alimentação do grupo, portanto, se naquela rua, há uma humana que enche um caninho com ração “comível” a uma certa hora da manhã, então, todos devem se beneficiar e, para isso, têm que ter respeito e consideração uns pelos outros e não ataques e brigas. Não há ali espaço para a brutalidade. Laurinha não perde a resposta canina para problemas caninos e, assim, segue sendo líder.

É como diz o genial Chico César, em sua canção, “Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa e da bondade da pessoa ruim. Deus me governe e guarde, ilumine e zele assim”.

Amém, a todos os animais do planeta e a nós, pertencentes a uma raça intitulada humana.

AMIRAH SHARIF é jornalista, advogada, protetora dos animais e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. asharif@bol.com.br

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