Por Siro Darlan –
O JORNAL TRIBUNA DA IMPRENSA LIVRE, seguindo sua linha editorial de publicar séries qualificadas, escritas por seu Diretor Executivo Luiz Carlos Prestes Filho, como foi o caso da Série Especial “Compositoras e Compositores do Brasil”, dando voz e vez para ouvir e divulgar a música clássica mundial e brasileira entrevistou o talentosíssimo musico brasileiro Marcos Balter. Criador de uma música “imprevisível”, segundo o The New York TImes, Marcos Balter talvez seja o mais estimulante compositor brasileiro de sua geração. Com uma produção ao mesmo tempo consistente e multifacetada, ele conta com obras apresentadas em espaços prestigiosos como o Carnegie Hall, Köln Philharmonie, a French Academy at Villa Medici, New World Symphony Center, Park Avenue Armory, Teatro de Madrid, Tokyo Bunka Kaykan, Baryshnikov Arts Center, Teatro Amazonas, Le Poison Rouge, e o Museum of Contemporary Art of Chicago, entre outros.
Nascido no Rio de Janeiro mas com carreira quase que completamente construída nos EUA, Balter falou ao Estado da Arte (revista cultural hospedada no portal do jornal O Estado de S. Paulo) sobre seus anos de formação, suas mais recentes inquietações estéticas e o desafio da encomenda de “Things fall apart”, para a Los Angeles Philharmonic. Conhecido no mundo internacional da música, como é regra, infelizmente, não é tão conhecido em seu torrão natal.
Indagado por Luiz Carlos Prestes Filho sobre a ausência inegável e negros e mulheres na atual Academia Brasileira de Música, respondeu:
“Marcos Balter: O fato da ABM não ter nenhum compositor negro não é uma surpresa. Uma academia totalmente branca, completamente centrada em músicos de formação clássica, e com somente 9 mulheres dentre suas 40 cadeiras, não pode nunca nos representar.”
A Academia Brasileira de Música (ABM) – uma das mais antigas e renomadas instituições culturais do país, com gigantesco valor cultural e educativo, fundada em 1945 por Heitor Villa-Lobos e que acaba de completar 76 anos -, ao invés de reconhecer a importância desse debate no cenário cultural do Brasil, tenta negar essa realidade com argumentos históricos que desmentem a realidade atual. Para que não haja dúvidas, o leitor fica convidado a consultar o site da Academia Brasileira de Música (https://abmusica.org.br/), para constatar que a presença de músicos e mulheres negras faz parte de uma saudosa história. Não fosse esse o cenário de machismo e racismo estrutural não estaríamos perdendo tantos talentos nacionais e o reconhecimento desse grande músico brasileiro que precisou sair do país para receber o reconhecimento da cultura musical internacional.
Marcos Balter não é o primeiro, nem será o último dos brasileiros a ter que sair do Brasil para ver reconhecido seu brilho no exterior.
Mas o que está em debate não é apenas o talento de um grande artista, mas o combate a essa estrutura escravocrata que ainda domina nosso país, infelizmente negado por aqueles que não desejam a mudança e mantém a maioria do povo colonizado à cultura europeia, branca e dominadora. Ademais a influência musical predominante na música brasileira que encanta o mundo tem origem africana. Marcos Balter que é brasileiro e negro, sempre compôs, mesmo antes de ler música. Começou a estudar música aos quatro anos de idade, passando pela Escola de Música Villa-Lobos e posteriormente pelo Conservatório Brasileiro de Música. Paralelamente, tinha aulas particulares de piano com a Linda Bustani, harmonia com o Antônio Guerreiro, e composição na pré-adolescência com o saudoso Almeida Prado em Campinas. Quando estava no segundo ano de bacharelado em Música na Uni-Rio, ganhou uma bolsa de estudos na Texas Christian University, e terminou o curso lá, já emendando no mestrado. De lá foi para a Northwestern University, em Chicago, onde terminou o doutorado.
Embora tenha ido para os Estados Unidos, aos vinte anos, não chegou a desenvolver uma carreira no Brasil antes de se mudar. Também não tem muitos contatos com pessoas na cena de música contemporânea brasileira, apesar de sempre acompanhá-la com muito interesse, ainda que de longe. E, se até mesmo para compositores locais as oportunidades são tão escassas, compreende perfeitamente o motivo pelo qual a sua obra não seja tão conhecida no nosso país. A maioria das apresentações da sua música no Brasil acontece em turnês de artistas estrangeiros. Claro que isso deve entristecer o compositor, por essa fata de reconhecimento, que se repete de forma lamentável no texto da resposta dada pela Academia Brasileira de Música, que ao invés de somar, reconhecer o racismo estrutural e prestar a Marcos Balter uma justa e merecida homenagem, por seu sucesso e por levantar bem alto a representação da música brasileira, prefere tapar o sol com a peneira, e negar o óbvio.
Essa é a política do jornal Tribuna da Imprensa Livre, abrir a Tribuna para todos os pensamentos, os mais variados, sem ideologias ou fundamentalismo, mas estaremos sempre do lado da cultura, da cidadania, dos direitos humanos e da liberdade de expressão.
SIRO DARLAN DE OLIVEIRA – Editor e Diretor do Jornal Tribuna da imprensa Livre; Juiz de Segundo Grau do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ); Mestre em Saúde Pública, Justiça e Direitos Humanos; Pós-graduado em Direito da Comunicação Social na Universidade de Coimbra (FDUC), Portugal; Coordenador Rio da Associação Juízes para a Democracia; Conselheiro Efetivo da Associação Brasileira de Imprensa; Conselheiro Benemérito do Clube de Regatas do Flamengo. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.
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