Redação –
Em depoimento à Polícia Federal, o deputado Alexandre Frota afirmou que o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, à época que este chefiava a Secretaria de Governo da Presidência da República, teria lhe confidenciado que estava ‘sofrendo pressão de pessoas ligadas ao governo para que ele de alguma forma auxiliasse, financiasse ou contratasse de alguma forma canais que operassem portais de apoio ao presidente Bolsonaro’.
Segundo Santos Cruz teria relatado a Frota à época, ‘diversas vezes foi levado a ele propostas de contratação de serviços’ que seriam prestados pela empresa do blogueiro Allan dos Santos.
LINCHAMENTO VIRTUAL – O parlamentar afirmou à PF que a resistência de Santos Cruz frente a tais demandas acabou fazendo com que ele passasse a ser vítima do ‘linchamento virtual’ coordenado pelo ‘gabinete do ódio’.
Em depoimento, Frota disse ainda que a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito das Fake News inclusive identificou diversos conteúdos de ataque a Santos Cruz, tendo rastreado contas e IPs relacionados à estrutura que, segundo ele, foi montada para ‘linchar’ opositores do governo Bolsonaro.
As informações foram apresentadas por Frota no depoimento prestado à Polícia Federal no último dia 29 no inquérito que apura o financiamento e divulgação de atos antidemocráticos.
ALGO IMORAL OU ILEGAL – Os detalhes sobre o depoimento do parlamentar foram divulgados pela Folha de S.Paulo e pelo Jornal Nacional e confirmadas pelo Estadão, que também teve acesso ao depoimento.
As indicações de Frota quanto a Santos Cruz se deram em resposta a um questionamento da Polícia Federal. A corporação perguntou se o deputado tinha conhecimento de que o então Ministro Santos Cruz teve de agir para evitar que ‘algo imoral ou ilegal’ acontecesse na utilização de recursos da área de comunicação do governo.
Como mostrou o Estadão, a Polícia Federal investiga, no âmbito do inquérito sobre os atos antidemocráticos, se o governo Bolsonaro direcionou verbas de publicidade para financiar páginas na internet dedicadas a promover manifestações contra a democracia. A relação do grupo investigado com o governo chegou às autoridades justamente através da CPMI das Fake News, que repassou informações sobre anúncios da Secretaria de Comunicação da Presidência da República em sites e páginas ligadas aos investigados.
A CHAVE DO COFRE – Quem controla a Secom desde o início do governo Bolsonaro é o chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten, mas a chave do cofre do órgão e consequentemente o controle da liberação de recursos fica nas mãos do Secretário Geral da Presidência, atualmente o ministro Eduardo Ramos. Santos Cruz foi seu antecessor na pasta, tendo deixado o governo em junho de 2019, sob desgaste, após ser criticado pela rede bolsonarista.
À época, a queda de Santos Cruz, primeiro ministro militar a deixar o governo Bolsonaro, representou uma vitória para a ala olavista do governo, dos filhos do presidente e de Wajngarten. Como mostrou o Estadão, a posição de Santos Cruz, considerada ‘linha dura’ com a distribuição da verba incomodava tanto os políticos como a equipe econômica.
O CASO ALLAN SANTOS – O nome de Allan do Santos não foi citado por Alexandre Frota somente ao tratar das supostas propostas de contratações do blogueiro. O deputado disse não ter relação com o representante do site bolsonarista Terça Livre, mas indicou que, após as eleições 2018, ‘percebeu que o mesmo tinha uma grande influência junto ao Presidente da República, tanto que antes da aproximação do governo federal com o chamado Centrão fazia parte do núcleo duro ideológico e possuía transito livre dentro do Palácio’.
O parlamentar também foi indagado pelos investigadores se pertencia a um grupo do Whatsapp chamado Genis House/QG Estado Maior. Frota respondeu que não, mas disse que sabia da realização de reuniões na casa do blogueiro por meio de um assessor parlamentar do deputado Felipe Lerça.
Como mostrou o Estadão, Allan dos Santos mantinha um grupo de WhatsApp com deputados bolsonaristas e ‘outras pessoas de baixo escalão do governo’, sendo que as conversas resultavam em reuniões na residência do blogueiro, no Lago Sul, bairro nobre de Brasília. Um dos integrantes do grupo era o assessor parlamentar Tércio Arnaud Tomaz, apontado como integrante do ‘Gabinete do Ódio.
DISSE O ASSESSOR – Em depoimento, o assessor especial disse que o blogueiro o adicionou em um grupo criado ‘para que pudesse se reunir’ semanalmente na residência do blogueiro ‘para discutir temas relacionados ao governo federal com pessoas que estão dentro do governo’.
Tércio Tomaz afirmou que ‘nunca’ participou dos encontros, mas que continuou no grupo ‘como forma de se informar de temas de interesse’.
Fonte: Agência Estado
MAZOLA
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