Redação –
Num movimento para se afastar do grupo de deputados mais próximo ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido), e de olho na disputa pela sucessão da presidência da Câmara em fevereiro, uma série de partidos vai oficializar um movimento que pode enfraquecer o chamado Centrão.
Duas das maiores siglas, o DEM e o MDB, juntos com 63 cadeiras, já anunciaram que vão desembarcar do grupo conhecido como blocão, que hoje reúne formalmente nove legendas e reúne mais 200 parlamentares, dentre eles muitos do Centrão, ligados a partidos como PP, PTB, Solidariedade e PL.
MANOBRA – Um dos focos do movimento em curso é enfraquecer a articulação do líder do PP, Arthur Lira (AL), um dos principais nomes do Centrão e que se aproximou de Bolsonaro nos últimos meses. Lira é visto como potencial candidato à sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na presidência da Câmara.
O blocão hoje é composto por PL, PP, PSD, MDB, DEM, Solidariedade, PTB, PROS e Avante. O grupo foi formado para dar força aos partidos na briga por postos importantes em comissões, ter mais representatividade e buscar unidade em determinadas votações. DEM e MDB sempre buscaram se desvincular do Centrão.
Na prática uma grande parte do blocão, o Centrão é resquício do período de Eduardo Cunha (MDB-RJ) na presidência da Casa, durante o governo de Dilma Rousseff (PT). Com a sucessão na presidência da Câmara se aproximando, os partidos começaram a se organizar em um movimento que pode atrapalhar os planos de Bolsonaro em ter uma base governista coesa no segundo semestre, período de votações importantes, como a reforma tributária, e de emplacar o sucessor de Maia.
NOVO BLOCO – O PSL, por exemplo, articula junto ao PSC, que também não faz parte do grupo, a formação de um novo bloco com PTB, PROS e Solidariedade na tentativa de ser majoritário na Câmara. Segundo parlamentares, os três primeiros estão praticamente fechados na nova composição. Já o Solidariedade está em negociações avançadas.
Desde que o PP, liderado por Arthur Lira, começou a se aproximar do governo, em meados de abril, líderes do DEM e do MDB já ensaiavam marcar posição e deixar claro que os partidos não são do governo. O líder do DEM, Efraim Filho (PB), afirma que a ideia é ir atrás de mais “autonomia”. “Vamos atrás de poder nos posicionar de forma independente. [A continuidade no bloco] Foi prorrogada um pouco mais por causa da CMO [Comissão Mista de Orçamento]. Era estratégica a permanência pela comissão, agora não precisa mais”, diz.
Segundo ele, a decisão não vai mudar o relacionamento das siglas com o governo. “Seguimos com a postura de nos inserir nos temas que temos identidade, como a agenda econômica, e a autonomia para divergir para com o que não concordamos, como a pauta de costumes”, diz Filho.
NOME VIÁVEL – Apesar da justificativa oficial ser a de ter mais autonomia nas votações, por trás da decisão, há a intenção de construir uma candidatura à Câmara. Para isso, ao deixarem o bloco, os partidos conseguiriam enfraquecer Lira, que hoje também comanda o grupo, e construir junto à oposição um nome viável.
Hoje, o líder do MDB, Baleia Rossi (SP), é considerado um nome que pode ser apoiado por Rodrigo Maia. O outro nome apoiado pelo presidente da Câmara é o de Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). O fato de o parlamentar ser do mesmo partido de Lira, porém, tem feito ele perder força.
Parlamentares das outras siglas, como PTB e Solidariedade, afirmam que a decisão de deixar o blocão têm mais a ver com a possibilidade de participarem de um outro grupo no qual podem disputar relatorias de projetos importantes e apresentar destaques em plenário com mais força. Eles avaliam que hoje Lira acaba fazendo todas as negociações importantes e os partidos menores acabam preteridos.
“NATURAL” – O PSL, por sua vez, tem uma intenção adicional por trás da formação do bloco e vai articular o lançamento de Luciano Bivar (PE), que preside o partido, ao comando da Câmara. Pelas redes sociais, Arthur Lira tentou evitar polêmicas, e afirmou que era natural que o bloco se desfizesse após a votação do orçamento. Segundo ele, o grupo seria desfeito em março, mas foi mantido até agora devido à pandemia. “Não existe o bloco do Arthur Lira”, escreveu.
O líder do DEM refuta a tese de que a ideia seria enfraquecer Lira. “Bronca zero com o Arthur [Lira]. Foi uma decisão em busca da autonomia. Claro que o fato de o Arthur ser líder do bloco, todo ele assina. Do ponto de vista pragmático, o MDB e o Democratas já vinham tendo sua independência. É vida que segue, um caminho sem volta”, afirma.
Fonte: Folha de SP
MAZOLA
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