Por Miranda Sá –
Como não podia deixar de ser, foi nos Estados Unidos, que nesses inícios do século 21 os ideais sociais democráticos de justiça trabalhista, liberdades cidadãs e progresso econômico se desviaram pelos atalhos áridos, empedrados e espinhosos como mostravam as antigas estampas do caminho do céu….
Desta vez levou para o inferno com a submissão do pensamento social-democrático tornando-se servil de minorias políticas agressivas. Esta situação retratou, em 2024, o termo “Woke”.
Quem sabe tenha sido abertura dos armazéns do subconsciente de um país onde a escravidão negra foi mais explorada, castigada e com revoltante consequência na História Contemporânea pela formação de uma cultura racista marcada nas pegadas das sinistras cavalgadas da Ku-Klux-Klan.
O uso do termo “Woke”, passado do verbo Wake, surgiu de uma gíria usada pelas comunidades afro-americana com o significado literal de “acordar, despertar”. Depois queria dizer “estar alerta para a injustiça racial” e processualmente se ampliou para “todas as injustiças”….
Sofreu, em empo e espaço, mudanças multifacetadas, referindo-se às diferenças raciais e sociais mais agressivas naquela época. É fácil encontrar-se isto no filme “Faça a Coisa Certa”, de 1989 – uma tragicomédia escrita e dirigida por Spike Lee, que veio a ser um clássico que mostra as tensões num bairro negro de Nova Iorque. Profetizou o caso ocorrido com a morte de Rodney King, três anos depois, 1992.
Resumindo, foi uma revolta nascida pelos protestos de um ativista inconformado em ver a decoração de uma pizzaria apenas com artistas brancos, quando deveria exibir atores afrodescendentes, com o quê, o proprietário italiano “Sal” Fragione, não concordava; e, numa confusão nascida de protestos, chegam policiais e matam Buggin’ Out, um negro que arrancou algumas estampas na parede do estabelecimento.
Ainda no cinema, cinco anos depois, temos a espetacular película Forrest Gump – O Contador de Histórias, dirigido por Robert Zemeckis, com roteiro de Eric Roth, com Tom Hanks no papel-título, coadjuvado com Robin Wright e Gary Sinise, mostrando o lado da despreocupação popular quando se tem emprego e comida na mesa.
Exalta o pacifismo do povo norte-americano protestando contra a Guerra do Vietnã e a expulsão de Forrest, um herói, pelos panteras negras, por socar um agressor de sua namorada.
Causou espécie entre os “wokeístas” a imponente corrida de Gump de Oceano a Oceano, acompanhado ao meio por admiradores. Repórteres de tevê e rádio perguntam a ele se fazia um protesto e qual o motivo político e social para isto. A reposta foi curta e grossa:
– “Corro porque tive vontade de correr…”.
Dividiu-se a opinião pública (e por incrível que pareça, acadêmica) sobre a adoção do Woke como sinônimo de políticas liberais relativas à justiça social e racial, sendo que o termo – já dicionarizado pelos dicionários Oxford – (“DESPERTO!”).
Então, caiu nas graças dos socialistas novaiorquinos (como seriam aqui, os do Leblon) levantando palavras-de-ordem pela igualdade racial e social, feminismo e o movimento LGBTQIA+.
O pior de tudo foi o ódio desta auto-assumida esquerda contra a indiferença pelas suas tentativas de impor uma agenda nacional exigindo normas culturais deles próprios. Quem não concorda com eles é fascista, preconceituoso, racista ou transfóbico…. Isto levou as pessoas simples, tratadas pelo identarismo como “minorias” e não como cidadãos ou trabalhadores, a votar nos republicanos. Alguém escreveu que “Trump faturou esse sentimento”.
No palco realístico da política brasileira, a cultura Woke foi uma sopa no mel no prato lulopetista. Não poderia deixar de ser; o partido não adota uma ideologia a não ser o oportunismo, pois nasceu da genialidade do general Golbery para evitar a expansão do PCB de Prestes e o PTB de Brizola.
É esta a lição: criou-se o PT com o pelego da Volkswagen Lula da Silva cultuado pelos obreiristas da esquerda católica, filha de um conúbio do Tomismo e a Rerum Novarum de Leão 13.
Agora adota o wokeísmo que que o levou à acachapante derrota das últimas eleições, que nem ocorreu nos States…
MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo. mirandasa@uol.com.br
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