Por Yêda Schmaltz e Caio Ferraz –
Lições de um Brasil maior do que meu (pre)conceito sobre Cultura.
Como poeta e brasileiro me sinto mal quando ouço alguém dizer que não gosta de música sertaneja do tipo que era cantada pela goiana Marília Mendonça.
Seria como se eu, carioca e urbanamente cheio de arrogância, dissesse que não gosto de poesia goaiana.
Detalhe: Cora Coralina, Leodegária Brazília de Jesus e Yêda Schmaltz são três poetas de Goiás que me ensinaram o sentido e o valor das coisas boas do país que vai além do Leme ao meu Vigário Geral.
Leiam que lindeza a poesia de lá do sertão de Goiás, nesta poesia vejo muito a sensibilidade e a criatividade de Marília Mendonça.
O DESVIO
“A mim pouco me importa
aberta ou fechada a porta,
vou entrar.
E pouco me importa estar
sendo amada ou não amada:
vou amar.
Que a mim me importa tanto
eu mesma e o sentimento,
quanto!
A mim pouco me importa
se a tua amada é doente,
se a tua esperança é morta.
E me importa muito menos
se aceitas solenemente
a nossa vida parca e torta.
Porque a mim me importaria
deixasse de ser eu mesma
e a poesia.
A mim pouco me importa
se a lira quebrou a corda:
vou cantar.
E pouco me importa estar
no picadeiro do circo:
vou rodar.
Que a mim me importa tanto
eu mesma e o sentimento,
quanto!
A mim pouco me importa
se estamos todos presos
por uma invisível corda.
E me importa muito menos
sermos todos indefesos
ante o destino que corta.
Porque a mim me importaria
deixasse de ser eu.
Tribuna recomenda!
MAZOLA
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