Por Miranda Sá –
Quatro leitores do meu artigo “DA TRANSCENDÊNCIA” cobraram-me uma definição sobre a minha crença religiosa; três deles são novos no meu mailing list e assim é evidente não têm de acompanhado meus textos sobre a religião, assunto que abordei muitas vezes.
Então vai: sou um a-religioso assumido. Depois de muitos, diversos e longos estudos; dei uma atenção preferencial às religiões monoteístas ocidentais, originárias do culto primitivo do sol e adotado com a burocracia e a hierarquia sacerdotais pelo faraó Akenaton, disciplinando o que já era reconhecido pelo seu bisavô, Amenófis II.
O historiador Will Durant escreveu que as reformas de Akenaton apareceram como “a primeira expressão clara do monoteísmo – setecentos anos antes do profeta Isaías –, um avanço intelectual gigantesco na Idade Antiga, por suplantar as velhas divindades tribais e o politeísmo controlado pelo poder estatal.
Esta “transformação religiosa dramática e revolucionária”, como aprendemos em salas-de-aula, não foi bem assim. Estudioso do tema, Freud reconheceu a existência anterior do culto de Aton; a novidade foi que Akenaton oficializou-o como organização monacal com o preceito até então desconhecido, o monoteísmo universal.
Compreendemos então que o que Akenaton fez foi levar adiante o projeto da 18ª Dinastia do Novo Império que teve com Amenófis II o início dos confrontos entre o faraonato e os sacerdotes de Amon que realmente governavam; ele recusou-se a à situação do “reina, mas não governa”.
Assim, conseguindo vencer a demanda, Amenófis II reduziu o poder dos patrocinadores de Amon e passou a cultuar nos círculo íntimos palacianos o culto deAton – o Disco Solar -; esses ritos influenciaram seu bisneto, Amenófis IV (1353-1336 a.C.) que assumiu o trono e, no quinto ano de reinado pôs o culto a Amon e divindades secundárias fora da lei e aboliu todos os privilégios dos seus sacerdócios.
Assim, condenando a devoção a Amon, Amenófis IV proclamou Aton como uma única divindade, fazendo-se seu intérprete como a encarnação viva dele. Trocou o próprio nome de Amenófis IV, assumindo-se como Aquenaton, faraó e sumo-sacerdote.
Então a religião estatal estabeleceu princípios éticos e rituais criando uma espécie de mandamentos, onde encontramos na primeira categoria – “Não reconhecerás nenhum deus além de mim, e outra, como – “Não cultuar objetos, animais ou estátuas”, e mais – “Não rezar à noite, nem usar o nome do deus nas horas de descanso”. Além do mais, condenou a mentira e o roubo com castigos físicos na terra e eternos após a morte.
Este cenário de um deus único e verdadeiro que iluminava os dias, abrangia toda a Natureza, animais, homens e plantas; o que levou estudiosos e pesquisadores fazerem uma comparação entre Aquenaton e Moisés, pelo abandono de deuses e mera ficção, adotando o monoteísmo.
Temos, por exemplo, uma curiosa teoria levantada pelo pesquisador e autor de obras históricas, Ahmed Osman, no seu livro “A História Secreta” levantando a hipótese de que Moisés e Akenaton foram a mesma pessoa. Diz que se baseou em descobertas arqueológicas, documentos históricos e estudos de Freud.
Osman relata que ambos personagens nasceram no Gósen, e lá foram iniciados nos mistérios de ATUM, a divindade primordial venerada no Templo de Om, em Heliópolis; e este aprendizado participativo incutiu-lhes a crença de um Deus Único.
Ocorre que Moisés foi reconhecido como patriarca na Torá – O Velho Testamento -, enquanto Akenaton sofreu uma queda misteriosa do trono e o seu nome foi apagado dos registros e proibido de ser pronunciado. As referências a ele eram: Grande Herege, Faraó Herético e Faraó Rebelde.
Foi tão forte, entretanto, a adoção do Disco Solar como divindade única e universal que a condenação sofrida por Akenaton persistiu, e há quem o encontre algo dela nos ensinamentos de Baruch Spinoza, *1632 – + 1677), filósofo de origem judaico-lusitana, filho de uma família perseguida pela Inquisição.
Spinoza nos legou a ideia de identificar Deus como Natureza como um ser cósmico de infinitos atributos; contradiz a visão católica (e tendências protestantes) de um deus sendo adorado com a imagem e semelhança do homem.
A concepção divina da Natureza spinoziana foi aceita por Einstein e Freud, aos quais me junto humildemente; e, assim, deixo respondido o quesito religião….
MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo. mirandasa@uol.com.br
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