Redação

Mesmo diante de uma crise fiscal, que levou até mesmo ao corte de expediente das Forças Armadas, o governo federal aumentará o desembolso com a parada de Sete de Setembro, a primeira do presidente Jair Bolsonaro (PSL). O contrato assinado pela gestão pública para a montagem e organização da cerimônia militar prevê um custo de R$ 971,5 mil, 15% mais do que no ano passado, quando o então presidente Michel Temer (MDB) gastou R$ 842,3 mil — em valores corrigidos pela inflação (IPCA). Em agosto, Bolsonaro admitiu que sua administração enfrenta uma crise financeira, disse que está fazendo milagre para manter as contas em dia e ressaltou que a equipe ministerial está apavorada.

Nesta segunda-feira, dia 2, afirmou que não considera anunciar um pacote de proteção ambiental diante da falta de recursos. “Não tem pacote. Eles [ministros] estão viajando para colher dados e ver o que a gente pode fazer. Eu até perguntei para os ministros: temos recursos? Não tem recurso”, disse. Na última semana, o comandante do Exército, general Edson Pujol, autorizou que o expediente às segundas-feiras do mês de setembro seja cortado para contribuir com a economia de despesas. O próprio presidente já disse que não há recursos nem mesmo para a alimentação de recrutas. Em comunicado ao Alto Comando do Exército, Pujol diz que o quadro orçamentário do Comando do Exército neste ano sofreu um contingenciamento de 28% do previsto para as despesas discricionárias, incluindo os programas estratégicos.

Ele diz ainda que o orçamento do Exército autorizado para 2019 é pouco mais da metade (54%) da dotação recebida em 2015. Em relação ao desfile de Sete de Setembro, a previsão é de que a parada na Esplanada dos Ministérios reúna neste ano um público de cerca 30 mil pessoas, com uma estrutura de arquibancadas para 20 mil. Ao todo, em torno de 3 mil militares participarão do desfile, que deve ter duração de uma hora e 20 minutos.  A cerimônia terá a participação de contingentes de fora da capital federal, como a Banda Marcial do Corpo de Fuzileiros Navais do Rio de Janeiro, e de aeronaves trazidas de São Paulo, Rio de Janeiro e de Goiás. A Esquadrilha da Fumaça encerrará a solenidade.

Segundo assessores do Palácio do Planalto, a intenção do presidente é utilizar a data comemorativa para pregar que sua eleição representa uma nova independência, com a derrota dos partidos de esquerda. Ele também pretende reforçar discurso em defesa da soberania nacional, sobretudo em relação à floresta amazônica. O tema ambiental deve ser inclusive explorado em seu pronunciamento em cadeia nacional de televisão e rádio, em mais um capítulo do embate público iniciado no mês passado entre Bolsonaro e o presidente da França, Emmanuel Macron.

Em uma tentativa de melhorar a imagem do governo, que apresentou piora segundo a última pesquisa Datafolha, o Palácio do Planalto também iniciou uma série de ações de marketing. Entre elas está o estímulo para que o comércio conceda descontos até sábado, dia 7, no que foi apelidado de “Semana da Pátria”. A ideia foi inspirada nas celebrações da independência nos Estados Unidos, comemorada no dia 4 de julho, quando o setor varejista costuma oferecer uma série de promoções e descontos em virtude da data histórica. O último levantamento do Datafolha apontou que a reprovação ao presidente subiu de 33% para 38%, de julho a agosto.

Para este ano, o governo Bolsonaro quer também transmitir a mensagem de que o feriado nacional não é apenas uma data para celebração militar, retirando a impressão deixada nas últimas décadas pelo regime ditatorial. “A comemoração tradicionalmente reúne civis e militares. Nós deveríamos sempre que possível clarificar como a mais importante data a ser comemorada por toda a nação brasileira”, disse à Folha o porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros. (fonte: Folha, por Gustavo Uribe)