Por Iata Anderson –

Começou o que a imprensa insiste em chamar de “melhor campeonato do mundo”, com o mesmo número de participantes das principais Ligas europeias, arrecadação e público inferiores, com menos craques internacionais, isso é claro, considerando que os melhores jogadores brasileiros estão jogando fora há muitas temporadas.

Melhor de tudo foi a homenagem prestada pela CBF ao maior jogador do planeta de todos os tempos, com um minuto de aplauso para o Rei Pelé, eterno. Mudanças significativas na arbitragem, descontando o tempo perdido, padrão copa do mundo, intolerância às caídas dos goleiros (Wilton Sampaio no jogo do Santos contra o Grêmio) e punição por reclamação, uma delas, de Gabi custou ao Flamengo a liderança do campeonato no confronto com o Fluminense. Muito tarde, mas bem recebida, deu para ficar otimista com relação aos insuportáveis jogadores indisciplinados que britam em todos os cantos do país. Dizem que pela primeira vez todos os clubes do Rio foram vencedores na mesma rodada, o que não acontecia desde o primeiro Brasileiro, em 1971. Grêmio e Vasco voltaram para a primeira divisão com vitórias e Cruzeiro e Bahia foram derrotados.

CBF homenageará Rei Pelé na primeira rodada do Brasileirão

O Vasco fez direitinho o dever de aula, mostrou que não voltou ao Top do Brasileirão para se divertir, tampouco sofrer, liquidou o Atlético em 10 minutos e começou bonito o principal campeonato de clubes do Brasil. Tenho repetido que técnico nenhum, incluindo Guardiola, o melhor de todos para meu gosto, ganha ou perde jogo sozinho. Mauricio Barbieri, da nova geração, chegou ao topo que é dirigir o Vasco, graças ao trabalho que fez no Bragantino, deve ter pedido alguns jogadores, foi montando seu time e fez uma grande surpresa ao primeiro e bicampeão brasileiro, em casa. Encaixou no grupo, o pessoal aceitou sua proposta e os resultados vão aparecendo. Diziam, nossos antepassados, que um bom time começa pelo goleiro, parte do problema vascaíno está resolvido. Leo Jardim foi o melhor em campo, evitou o empate e deixou no torcedor o gostinho de Ufa, finalmente. É um time em ascensão, sem grandes estrelas, mas arrumadinho, bom preparo, boa pegada. A chegada do zagueiro Leo deu uma ajeitada na defesa, Jair encaixou muito bem com Alex Teixeira e Andrey Santos – de muito talento – acertaram o time e deixaram o resto para Gabriel Pec, o melhor do time, fazer. Esse é o novo Vasco, de volta, abatendo o Galo em sua rinha, mostrando que veio para disputar vagas nas prateleiras de cima, se não pedir muito. O Atlético, com seus desfalques comparando com o time campeão de 2021, sofre a “Hulkdependência” e nada pode fazer se o dia não for favorável ao goleador paraibano. Teve 92 minutos, após os dois gols do Vasco, para empatar o jogo e ficou tocando bola lateralmente, um vício moderno dos clubes brasileiros, até encontrar uma brecha para cruzar na área. Se o árbitro não tivesse encerrado o jogo, estariam até agora no chuveirinho para “encontrar” o gol de empate.

Não vi o Fluminense derrotar o América Mineiro, por força de trabalho. Jogou no mesmo horário do Real Madrid, que derrotou o Cádiz, fora de casa, por 2×0, sem seis titulares, inclusive Vinicius Jr, poupado, como Kroos. A escolha é profissional, não pessoal, até porque gosto muito de ver o time de Fernando Diniz que saiu na frente, liderança conquistada sobre o Flamengo, na contagem dos cartões amarelos. Tenho falado do seu trabalho, penso até que deveria ser chamado para a seleção brasileira. A CBF está perdendo tempo, como o Flamengo com JJ, mas é assim mesmo. Ficou seis anos esperando alguma coisa de Tite e o time foi eliminado nas quartas de final. Vi a estreia do Lelê, poucos minutos, mas aplaudi o gol que ele fez sacudindo o goleiro e assinando um golaço, agora valendo título brasileiro, o Fluminense como candidatíssimo, se o rio descer seu rumo certo. É muito cedo, ele apareceu e brilhou no campeonato carioca, nível técnico bem inferior, mas leva muito jeito. Pelo menos deixou boa impressão quando esteve no Volta Redonda.

Esse é o Botafogo que eu conheço. Não por coincidência, o goleiro apareceu, salvou “gols certos” e o Fogão arrancou com uma excelente vitória sobre o São Paulo, jogando em casa, gramado novo, torcida em festa como há muito não se via. Coincidência incrível – como no jogo do Vasco – fez o primeiro gol antes dos cinco minutos, mas cedeu empate 11 minutos depois, com Caleri, no primeiro ataque do São Paulo. Longe das noites quentes do verão, o clima ameno parece ter motivado a torcida, que não calou um minuto, tentando fazer a sua parte, não joga, mas ajuda, enquanto o tricolor aumentava a pressão no meio-campo e ataque, em busca da virada. Mas encontrou um Botafogo motivado, alegre, querendo marcar sua volta à primeira divisão somando três pontos. A primeira meia hora foi dominada pelo São Paulo, tranquilo em campo, totalmente adaptado ao novo piso do Nilton Santos, nova versão sintética de gramado. A disputa pela bola seguia empatada do meio-campo, com poucas chances de gol, até o cruzamento de Vitor Cuesta, da esquerda, para a cabeçada de Eduardo, aos 43 minutos, marcar o gol da vitória alvinegra, marcando sua volta à elite do futebol brasileiro.

Festa a torcida do Flamengo faz em qualquer situação. Estrear vencendo no campeonato brasileiro, no Maracanã, sobram razões para deixar o Rio vermelho e preto durante a semana, mesmo no momento atual, muito longe do que sonham seus torcedores. A festa foi total, desde o primeiro gol, de Ayrton Lucas, aos 17 minutos, 10 minutos depois do primeiro chute a gol, dele mesmo, que anda sobrando na turma. Como acontece sempre, a mudança de técnico motivou o time, mas os defeitos eram os mesmos. Sobrava vontade, faltava técnica (não confundir com tática, isso não mudou) principalmente no meio, onde Gerson se esforçava para levar o time à frente. Bruno Henrique no banco e o time sem ataque. Gabigol preocupado com a estética, esquece de jogar para reclamar – ninguém vê isso no Flamengo ? – advertido com cartão amarelo (17 minutos de jogo) que custou a liderança para o Fluminense. Se estava na reserva, por que não usar o jogador mais veloz do grupo, liberado depois de 10 meses. Aos 39 minutos, um raro contra-ataque, com 4 jogadores, três correram na mesma direção, pelo meio, nenhum abriu para receber o que seria um passe para o segundo gol, quem sabe, matar o jogo. Everton Ribeiro errou o passe. Pesou a fase má desse jogador, que é bom, mas parece desgastado emocionalmente. Aos 54 minutos, Gerson fez boa jogada pela direita e sofreu pênalti de Andrey. Sem marcar há 10 jogos, Gabi mostrou porque é um dos melhores no mundo, ali nos 11 metros. Um golaço, no ângulo, no canto do goleiro. O Flamengo dominava e facilitou as coisas para Jorge Sampaoli que estava numa cabine, podendo assumir com outro clima para o jogo de quarta-feira, pela Libertadores. Aos 50’ , Pedro fez um belo gol, após tabela, pelo meio, fechando o placar e aumentando a festa no Maraca. Na verdade, foram três lindos gols, uma vitória convincente, mas tem muito trabalho a ser feito, considerando que o adversário do dia não consta na lista dos primeiros no ranking.

Na minha cabeça ficou a dúvida: ganhou motivado pela chegada do novo treinador ou pela saída de Vitor Pereira… 

IATA ANDERSON – Jornalista profissional, titular da coluna “Tribuna dos Esportes”. Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como as Organizações Globo, TV Manchete e Tupi; Atuou em três Copas do Mundo, um Mundial de Clubes, duas Olimpíadas e todos os Campeonatos Brasileiros, desde 1971.

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