Redação

Márcio Coimbra, cientista político que já integrou o governo Bolsonaro em 2019 e agora é coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais do Mackenzie, vê um “racha” nas Forças Armadas quando o assunto é o apoio ao governo, circunstância que impede um golpe de Estado.

Ele acredita que a democracia brasileira está em um momento de maturidade e afirma que a sociedade, especialmente do ponto de vista econômico, está globalizada e não pode se isolar.

HAVERIA SANÇÕES – “Teríamos sanções da União Europeia, dos EUA e de outros países. Os impactos comerciais de um presidente da República tentando subverter a ordem institucional e constitucional seriam enormes”, explicou.

Coimbra acredita que os comandantes das Forças que estão do lado da Constituição têm tentado ignorar as posições de Bolsonaro para se manterem em seus cargos, de modo que, se precisarem se manifestar de forma rígida em um futuro próximo, tenham como fazê-lo.

O cientista político não descarta, no entanto, que Bolsonaro esteja falando sério quanto a tentar impedir o processo eleitoral.

MOBILIZAR A BASE – “Bolsonaro pode levar isso à frente, ele está sempre tentando mobilizar a base; e por isso precisa criar conflitos. A base dele é de confronto, não de entendimento. Ele precisa sempre de um inimigo para antagonizar”, disse.

Para Coimbra, quando Bolsonaro atenta contra as eleições democráticas, comete “um crime de responsabilidade, passível de impeachment. Mas o objetivo dele é tumultuar o processo eleitoral, porque sabe que diante da situação atual, vai perder. Está seguindo a mesma cartilha do Trump nos EUA”, alerta.

Nesse sentido, segundo Coimbra, o grande risco não diz respeito às Forças Armadas, mas aos policiais militares. “Eu não vejo como grande problema qualquer coisa em relação às Forças Armadas, mas vejo em relação às polícias militares, que me gera muito mais preocupação”, salientou.

FAZENDO PRISÕES – Desde que os protestos de rua da oposição foram retomados, diversos manifestantes já foram presos ou abordados por policiais militares em atos ou fora deles, após exporem faixas contra Bolsonaro. Em março, a PM do Distrito Federal prendeu cinco manifestantes que portavam uma faixa com os dizeres “Bolsonaro genocida”.

A corporação afirmou que eles foram enquadrados na Lei de Segurança Nacional (LSN), já que havia, na faixa, uma charge em que o presidente aparecia pintando uma suástica.

Em maio, outro caso chamou a atenção: um militante do PT em Goiás foi parado por um soldado da PM-GO por ter, em seu carro, um adesivo que chamava Bolsonaro de genocida. O militar constrangeu o manifestante e disse que o enquadraria na LSN por calúnia. O homem foi detido, mas o delegado não viu enquadramento legal para autuá-lo conforme a Lei de Segurança Nacional.

Fonte: Correio Braziliense


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