Por Lincoln Penna –
Vocês já perceberam que há no ar uma sensação de que estamos chegando ao fim como humanidade?
Talvez esteja expressando aquele fim que todos nós mais cedo ou mais tarde teremos. Mas sem nos deixar levar pelo determinismo manifestado por alguns céticos, como se não houvesse solução, é necessário tomarmos ciência do que nos espreita, de maneira a enfrentar essa realidade plena de desafios.
Tenho acompanhado o que se produz nos meios acadêmicos e nos noticiários que divulgam os estudos acerca dos rumos acelerados dos impactos globais provocados pelas agressões ao meio ambiente, e começo a tirar alguns ensinamentos. De todos os estudos e matérias divulgadas há no mínimo preocupações que não devem se circunscrever às autoridades, mas a todos os indivíduos que tenham compromisso com os caminhos da humanidade.
É inegável a existência gradual de fontes naturais de abastecimento em virtude do progressivo processo de poluição das águas, um dos efeitos mais facilmente constatáveis, principalmente nos grandes centros urbanos. A atmosfera a apresentar mudanças bruscas a afetar a biodiversidade com implicações que levam à extinção de inúmeras espécies, também tem sido cada vez mais constatadas por quem se insere minimamente na vida das grandes ou pequenas comunidades.
Discorrer sobre essa devastação é acrescentar o mais ao mesmo. O que importa não é ter apenas consciência dessa tendência de aniquilamento que nos conduzirá com certeza à nossa extinção em prazo mais curto do que muitos estão ainda a imaginar. É preciso que cada qual aja como mensageiro dessa catástrofe anunciada e com isso se possa gerar um movimento em favor da vida planetária, o que evidentemente inclui a preservação da vida humana. O alerta está aceso. Iniciativas nesse sentido devem estar sendo promovidas e do ponto de vista do tempo pode-se afirmar que elas já se encontram no momento emergencial.
Adiar essas providências certamente será tarde demais. E não haverá outra oportunidade.
Afinal, se milhares de espécies de vida foram varridas da face da Terra, não seria a espécie humana que sobreviveria, quando é ela através de um modo de vida predatório a responsável por essa destruição. Não só a humanidade não sobreviveria, como tem apressado sua própria morte. O agravamento dos meios e mecanismos de produção a atingir não apenas vidas alheias como a de todos que concorrem ativa ou passivamente por essa situação de caos completo não é um terrorismo para encobrir possíveis questões que afetam os povos do mundo. É, na realidade, um fato em construção, cujas conseqüências iremos amargar em definitivo.
A humanidade está diante de dois caminhos para fazer uma escolha inteligente, que é a escolha da vida que possa eternizar para os nossos horizontes a existência da espécie humana. Esses caminhos estão delineados: de um lado, a continuação de um modo de vida, centrado na economia capitalista dos meios de produção e nas suas relações dele decorrentes. A permanência do capitalismo sem adjetivos que o disfarcem será penosa para as próximas gerações, como já tem sido para as atuais, com resultados que têm feito a humanidade refém das defesas agressivas da natureza, daí os vírus com os quais temos convivido com mais freqüência.
O outro caminho precisa ser descoberto com a máxima urgência. O anticapitalismo é o instinto que move essa alternativa. Ele não tem nome definitivo, mas podem designá-lo como socialismo, porém o que importa é que ele possui um princípio ativo capaz de estimular os povos a adotá-lo. Este princípio é o da solidariedade múltipla, fraternal, voltada para a comunhão de todas as etnias, culturas, e espécies, presentemente ameaçadas também de extinção, não por causa de efeitos naturais do planeta, mas da ação de um modo que nos faz mal. E que por isso precisa ser eliminado de nosso convívio.
Claro que essa escolha na humanidade depende da posição que cada qual ocupa no processo de produção, porquanto existem os que tiram vantagens desse modo de vida pouco se importando dos seus resultados nefastos para os seus descendentes. Para essas classes, proprietárias desses meios de produção, o que importa é o desfrute momentâneo de seus fartos e falsos recursos monetários. Todavia, eles são minoria desprezível e assim demonstram em momentos em que vivemos destituídos que são de compaixão, que não é um vocábulo necessariamente bíblico como alguns possam pensar, mas é a junção do amor pelo próximo, seja ele o de seu irmão humano ou das várias representações de seres da natureza.
A paixão conjunta e harmoniosa guardada as diferenças, que só enriquecem a vida em sua variedade múltipla.
LINCOLN DE ABREU PENNA – Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP); Conferencista Honorário do Real Gabinete Português de Leitura; Professor Aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Presidente do Movimento em Defesa da Economia Nacional (Modecon); Colunista e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre.
MAZOLA
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