Por José Carlos de Assis –
Rio de Janeiro, 18 de janeiro de 2020.
Querida Greta,
Sou jornalista econômico, professor e autor de mais de 25 livros de Economia Política e de outros temas, com a idade de 71 anos. Como vê, estamos nas duas extremidades da pirâmide demográfica, porém com níveis de energia para a luta não muito diferentes entre si. A diferença que existe, na verdade, não é de caráter pessoal, mas institucional. Você vive no mundo da comunicação livre, balizada pela concorrência entre os agentes midiáticos. Eu vivo no mundo em que a comunicação é fortemente inibida pelo bloqueio da concorrência.
Trabalhei nos principais jornais brasileiros. Para mim, havia plena liberdade de imprensa. Até que um dia, no principal jornal da época, dei uma manchete em que uma professora de economia usou a expressão “ciranda financeira” para descrever o ambiente de forte especulação em nosso mercado. Fui convidado a deixar o jornal, o qual, sintomaticamente, se dizia paladino da democracia e da liberdade de expressão. Isso aconteceu em fins dos anos 70. De lá para cá a coisa piorou muito, fora nos blogs.
A grande mídia brasileira está amordaçada pela “financeirização” da economia. Suas páginas e seus espaços publicitários estão dominados por propaganda institucional dos bancos, financeiras e fundos. Eles manipulam um processo complexo pelo qual se controla todo o fluxo de informação no país. Em nome da defesa da liberdade e do capitalismo, desestruturam totalmente a economia nacional das pequenas e médias empresas mediante a olipolização e monopolização dos setores econômicos estruturados pelo crédito.
Você é muito jovem, talvez não compreenda plenamente a palavra “financeirização”. Essa palavra é prima de “bancarização”, que significa atrair os pobres para a teia dos bancos, sobretudo aposentados no caso de crédito consignado. Há cada vez menos grandes bancos no mundo e cada vez mais serviços “prestados” por eles de forma automática, sem intervenção de operadores. Os clientes é que fazem operações como saques e transferências. Isso significa, resumindo, que os bancos ganham mais dinheiro por cada trabalhador que emprega.
A compreensão do processo de financeirização depende do entendimento do conceito marxista de mais-valia. O trabalho, diziam Marx e outros clássicos, é fonte de todo o valor. Esse valor é objetivamente criado pela força de trabalho, que por sua vez também tem o seu valor, proporcional à subsistência do trabalhador. Todo valor criado acima do valor da força de trabalho chama-se mais-valia, apropriada principalmente pelo capital. Com a financeirização, os bancos “roubam” do setor produtivo parcelas crescentes dessa mais valia social.
Você vai a Davos. Boa viagem. Não seja porém portadora das utopias dos ricos. Faça como fez o Papa Francisco num documento recente, denunciando a financeirização selvagem. O mundo pode viver muito tranquilamente sem os grandes bancos, os tais bancos “grandes demais para quebrar” ,que em última análise são os produtores das grandes crises financeiras. Como economista, e sem medo de comprometer minha reputação com isso, lhe digo que vem outra por aí, talvez pior que a de 2008. O povo não pode pagar essa conta de novo. Sós nos EUA foram mais de 30 trilhões de dólares enterrados no mercado para salvar os bancos.
Vamos lá, “Pirralha” muito amada, mostre por que veio ao mundo. No Brasil você bem sabe que estamos entregues aos mais primitivos, mais incompetentes e mais arrogantes dirigentes políticos da História. Você pode perfeitamente nos ajudar a botar para fora do poder essa casta de mentecaptos que chegou a ele por um desses acidentes do destino. Tendo em vista a força de sua retórica de adolescente aparentemente inofensiva, temos para você uma tarefa de feiticeira nórdica, de coração bondoso: dar uma pequena folga à bondade, no seu tempo, e nos ajudar a liquidar também com os que querem liquidar a nossa Amazônia!
Com muito amor,
José Carlos de Assis
MAZOLA
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