Redação

O ministro Luís Roberto Barroso, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), disse em nota nesta 6ª feira (9.jul.2021) que é crime de responsabilidade tentar impedir a realização das eleições.

A declaração é uma resposta ao presidente Jair Bolsonaroque sugeriu que o Brasil pode não ter eleição em 2022 se até lá não houver voto impresso auditável.

“A realização de eleições, na data prevista na Constituição, é pressuposto do regime democrático. Qualquer atuação no sentido de impedir a sua ocorrência viola princípios constitucionais e configura crime de responsabilidade”, afirmou o ministro. Eis a íntegra da nota (201 KB).

No início da noite, o ministro também se manifestou em suas redes sociais. Toda 6ª feira, Barroso compartilha dicas de livros e músicas em seu perfil no Twitter. Desta vez, sugeriu a leitura de “A ditadura escancarada”, de Elio Gaspari. A canção foi “Cálice”, de Chico Buarque e Milton Nascimento. “Quando um homem de bem responde um insulto com outro insulto, ele permite que o mal vença. Não é preciso responder. O mal consome a si mesmo”, escreveu o ministro.

Mais cedo nesta 6ª, Bolsonaro chamou Barroso de “idiota” e “imbecil” e voltou a criticar a posição contrária do magistrado com relação ao voto impresso“É uma resposta de um imbecil. Lamento falar isso de uma autoridade do STF. Só um idiota para fazer isso aí”, disse o presidente.

Segundo Barroso, as declarações de Bolsonaro são “lamentáveis quanto à forma e ao conteúdo”. Também afirmou que desde a implementação da urna eletrônica, em 1996, o país não registrou casos de fraude eleitoral.

“Desde a implantação das urnas eletrônicas em 1996, jamais se documentou qualquer episódio de fraude. Nesse sistema, foram eleitos os Presidentes Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro. Como se constata singelamente, o sistema não só é íntegro como permitiu a alternância no poder”, diz a nota.

O ministro também respondeu à alegação de que teria ocorrido fraude nas eleições de 2014, quando Dilma Rousseff (PT) venceu Aécio Neves (PSDB) no 2º turno.

“Especificamente, em relação às eleições de 2014, o PSDB, partido que disputou o segundo turno das eleições presidenciais, realizou auditoria no sistema de votação e reconheceu a legitimidade dos resultados”, diz Barroso.

Por fim, o ministro lembrou que Bolsonaro alegou a ocorrência de fraude nas eleições de 2018, em que o presidente ganhou de Fernando Haddad (PT), mas nunca demonstrou provas de que houve falha no processo eleitoral.

É a 2ª vez que o ministro reage a Bolsonaro nesta semana. Na 4ª (7.jul), o informou que estava em um compromisso acadêmico fora do Brasil e pediu “para não ser incomodado com mentiras e miudezas” contadas pelo presidente.

LEIA A ÍNTEGRA DA CARTA DE ROBERTO BARROSO:

Tendo em vista as declarações do Presidente da República na data de hoje, 9 de julho de 2021, lamentáveis quanto à forma e ao conteúdo, o Tribunal Superior Eleitoral esclarece que:

1. Desde a implantação das urnas eletrônicas em 1996, jamais se documentou qualquer episódio de fraude. Nesse sistema, foram eleitos os Presidentes Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro. Como se constata singelamente, o sistema não só é íntegro como permitiu a alternância no poder.

2. Especificamente, em relação às eleições de 2014, o PSDB, partido que disputou o segundo turno das eleições presidenciais, realizou auditoria no sistema de votação e reconheceu a legitimidade dos resultados.

3. A presidência do TSE é exercida por Ministros do Supremo Tribunal Federal. De 2014 para cá, o cargo foi ocupado pelos Ministros Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Luiz Fux, Rosa Weber e Luís Roberto Barroso. Todos participaram da organização de eleições. A acusação leviana de fraude no processo eleitoral é ofensiva a todos.

4. O Corregedor-Geral Eleitoral já oficiou ao Presidente da República para que apresente as supostas provas de fraude que teriam ocorrido nas eleições de 2018. Não houve resposta.

5. A realização de eleições, na data prevista na Constituição, é pressuposto do regime democrático. Qualquer atuação no sentido de impedir a sua ocorrência viola princípios constitucionais e configura crime de responsabilidade.

Brasília, 9 de julho de 2021.

Ministro Luís Roberto Barroso
Presidente do Tribunal Superior Eleitoral

Fonte: Poder360


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