Por Pedro do Coutto –
O Senado Federal, na noite de quinta-feira, aprovou uma incrível emenda constitucional, cuja validade vai até dezembro deste ano, permitindo que o governo, mesmo em período pré-eleitoral, dentro de uma situação de emergência, possa aumentar os benefícios sociais para a população.
A oposição acertadamente votou a favor para evitar que pudesse ser apresentada como uma força que impediu a contenção das vantagens previstas. No O Globo, a reportagem, edição desta sexta-feira, foi de Manuel Ventura, Alice Cravo e Camila Zarur. Na Folha de S. Paulo, de Renato Machado e Idiana Tomazelli.
PACOTE DE BONDADES – Entretanto, enganam-se os que consideram que o aumento do Auxílio Brasil, de R$ 400 para R$ 600 por mês até dezembro, a concessão do auxílio-caminhoneiro, a concessão do vale-gás, além da concessão de um auxílio para taxistas para que possam enfrentar o aumento dos combustíveis possam acrescentar votos para o presidente da República na corrida eleitoral.
Reconheço que eles acrescentam sufrágios a candidatos à Câmara Federal, uma vez que os benefícios geralmente são direcionados a redutos interligados com bases políticas. Mas não acrescentam nas eleições presidenciais, pois em primeiro lugar o seu raio de ação é limitado em termos de uma votação majoritária de caráter nacional.
Em segundo lugar, porque se de um lado os benefícios vão ao encontro de milhares de pessoas, talvez milhões, de outro lado deixa de fora tantos brasileiros e brasileiras que se sentem excluídos das concessões do governo. Mas não é somente este o problema.
LIMITAÇÃO – A questão é que a limitação do benefício até dezembro gera uma inquietação naqueles que vão ser beneficiados e, inevitavelmente, se perguntam: “E depois de dezembro de 2022, como ficará a nossa situação?”. O rol de dificuldades ainda não termina aí. Existe também a tendência de voto por classe social, conforme revelou pesquisa do Datafolha.
Menor renda, voto para Lula. Maior renda, voto para Bolsonaro, acentuando-se que menos entre as mulheres, diante do comportamento do próprio Bolsonaro em várias situações e, agora, agravado pelo episódio Pedro Guimarães.
Contemos agora também com a questão dos pastores do MEC e do ex-ministro Milton Ribeiro. Conforme afirmou Ruy Castro, ontem na Folha de S.Paulo, todos esses fatos somam-se para derreter o governo nas urnas de outubro.
EFEITO PEDRO GUIMARÃES – O reflexo do comportamento do ex-presidente da Caixa Econômica Federal Pedro Guimarães foi muito bem focalizado pela jornalista Flávia de Oliveira na edição de O Globo de ontem. É o resultado também de um clima misógino que indiscutivelmente impera no governo Jair Bolsonaro; clima que produz um comportamento no qual as mulheres são interpretadas como objetos e seres de segundo nível.
Essa interpretação repugnante da realidade humana é que fornece condições para comportamentos como esse de Pedro Guimarães e de outros que formaram com ele a Diretoria da CEF. A investigação tem que ser feita pela própria Caixa Econômica e não por empresa particular, como estão propondo. Não faz sentido.
EM SP, BOLSONARISMO ESTÁ FRACO – Pesquisa do Datafolha revelada na noite de quinta-feira pela GloboNews e pelo JN da TV Globo, e também na edição de ontem da Folha de S. Paulo, inclusive objeto de reportagem de Igor Gielow, demonstram a liderança, se as eleições fossem hoje, de Fernando Haddad com 34% das intenções de voto, vantagem bastante ampla sobre Tarcísio Freitas e Rodrigo Garcia, empatados com 13%.
Essa pesquisa não incluiu o nome de Márcio França, já que a tendência é que ele concorra ao Senado pela chapa de Haddad. A votação de Rodrigo Garcia é consequência dele ser o atual governador de São Paulo. A de Tarcísio de Freitas reflete a popularidade de Bolsonaro em São Paulo, com 13 pontos. Está fraco no segundo colégio eleitoral do país. O índice abalará os planos de campanha do Palácio do Planalto.
CHICO XAVIER – Marcelo Toledo, Folha de S.Paulo de quinta-feira, trata do acervo deixado pelo médium Chico Xavier, que resiste ao tempo 20 anos, após a sua morte. Entre o acervo, cartas psicografadas, resultantes de sessões espíritas que foram marcadas pela ideia da comunicação entre os que se foram na nuvem do tempo e os que mantinham parentesco próximo ou forte amizade.
Na minha impressão, trata-se de um assunto que merece uma análise mais detida, não só em função da dúvida, mas em função de um apelo que no fundo todos nós trazemos no sentido de decifrar o enigma entre a existência e a eternidade.
Há os que não acreditam não apenas no espiritismo, mas nas religiões em geral. Mas se as religiões, que têm mais de 5 mil anos de existência na face da Terra, fossem um absurdo total ou uma farsa, não poderiam resistir ao passar do tempo. Trata-se de uma questão que é eterna. Chico Xavier, lembra a matéria, sempre se afirmou cristão. Então, trata-se de um intelectual empenhado em unir a visão cristã, não apenas religiosa, mas humana, a um universo científico.
TESE DE LULA – O ex-presidente Lula da Silva, reportagem de Sérgio Roxo, O Globo de ontem, voltou a encapar uma tese da ala radical do PT que propõe absurdamente um tipo de medida capaz de regulamentar a atuação da mídia, sobretudo as redes de televisão e rádio. Pegou mal, pois trata-se de uma pessoa com grande destaque na mídia.
O equívoco central do radicalismo petista no plano que se aproxima do radicalismo bolsonarista é sonhar apenas com elogios tanto ao que foi feito quanto ao que não foi feito, fugindo da realidade. Não é por aí. A imprensa, seja ela pelos jornais, emissoras de TV e rádio, e agora também pela internet, é um reflexo da realidade diária, é uma testemunha da história.
Pedro do Coutto é jornalista.
Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ)
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