Redação –
A mais ampla manifestação por democracia sob o governo de Jair Bolsonaro (PL) teve ápice na manhã desta quinta-feira (11) com um ato na Faculdade de Direito da USP em que foi lida, sob aplausos e falas contra o autoritarismo, a carta iniciada na instituição e assinada por mais de 970 mil pessoas.
O texto, que não cita diretamente Bolsonaro, mas prega a manutenção do Estado democrático de Direito e o respeito às eleições diante das ameaças golpistas do presidente de contestar o resultado e questionar as urnas eletrônicas, foi precedido da leitura de outro manifesto, endossado por mais de cem instituições.
MARCO SIMBÓLICO – O movimento, a menos de dois meses do primeiro turno das eleições, é considerado um marco simbólico na reação da sociedade civil à escalada de ameaça às instituições promovida por Bolsonaro, que insufla apoiadores para saírem às ruas no 7 de Setembro, data do Bicentenário da Independência.
Segmentos que estavam inertes perante as intimidações por alinhamento ao bolsonarismo ou receio de represálias, sobretudo no ambiente empresarial e financeiro, decidiram aderir às mobilizações.
A “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito” remete à histórica “Carta aos Brasileiros”, apresentada em ato público em agosto de 1977, na mesma Faculdade de Direito da USP, que marcou a luta contra a ditadura militar (1964-1985) e por redemocratização.
ESPANTO E INDIGNAÇÃO – Oradores repudiaram, em tom de espanto e indignação, a necessidade de em 2022 a sociedade ter que brigar novamente por democracia e respeito à Constituição de 1988. O Poder Judiciário, que Bolsonaro frequentemente ataca, também foi defendido, assim como a Justiça Eleitoral. As falas também enfatizaram o combate à fome e à desigualdade, além de exaltar minorias, como negros e mulheres.
O ambiente envolveu um clima de denúncia, mas também de celebração pela materialização da revolta expressa nos documentos, que foram divulgados há menos de um mês. A adesão virtual à carta idealizada na USP surpreendeu organizadores, que esperam bater a marca de 1 milhão de adesões.
O salão nobre e o pátio da faculdade, no largo São Francisco, região central de São Paulo, foram tomados por organizadores e convidados, dos mais diferentes segmentos e correntes políticas ideológicas. A instituição é palco histórico de manifestações em defesa de direitos e democracia.
SOB FRIO E GAROA – Uma multidão de signatários e apoiadores da causa também se concentrou do lado de fora, sob frio e garoa. A plateia acompanhou as falas que ocorriam dentro do prédio por um telão. Organizações como a UNE, a UNES e a OAB paulista fizeram marchas até o local.
Não foram registrados incidentes na mobilização na capital paulista. Atos simultâneos em outras universidades em todos os 26 estados brasileiros também tiveram a leitura da carta.
Apesar do frio, a amanhã foi calorosa dentro da faculdade, com uma confraternização de professores e alunos trocando abraços e relembrando histórias —todos usavam um broche da bandeira do Brasil com a frase “Estado de Direito sempre”. De pele e cabelos brancos, juristas renomados contavam sobre a luta contra a ditadura e seu período na faculdade.
Fonte: Folha de SP
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