Por Ricardo Cravo Albin

“O alarido efervescente dos tamborins esfria ainda mais os já gélidos embates da política.” – Marques Rebello, no MIS às vésperas do carnaval de 1969.

A frase acima de um dos maiores escritores do Rio, hoje injustamente não referenciado o quanto merecia, serve como uma luva para o texto abaixo. Convenho, contudo, que se atribuir alguma frieza ao ocorrido ao país nessa última semana é despropositado. A considerar-se como brasa incandescente o episódio denunciado pelo Senador Marco do Val ao Ministro Alexandre de Moraes. O tornar-se público finalmente toda a gênese de um golpe de estado é acender um incêndio. Porque tramado no gabinete presidencial e conduzido (apesar das muitas contradições do denunciante) pelo deputado federal cassado Daniel Silveira.

Mas fico com os tamborins e o baticum apregoados pelo inestimável carioca Marques Rebello. Afinal, o já às portas Carnaval de 2023 tem tudo para ser o melhor dos sombrios tempos da pandemia que mergulhou o mundo em luto, vítimas e medo.

Estive relendo há pouco comentários do cronista João do Rio sobre o carnaval da cidade no ano seguinte à Gripe Espanhola, uma explosão de “de féerie e de vivas” às ruas e ao grito dos foliões, a liberarem as energias aprisionadas pela pandemia que fez milhares de vítimas.

No Rio, o renascimento do carnaval nas ruas se deve sobremaneira à Sebastiana, nome simpaticíssimo que coordena e promove os 445 desfiles de 402 blocos de rua entre 21 de janeiro e 26 de fevereiro.

E há, acreditem, uma grande figura feminina atrás disso tudo, uma leoa chamada Rita Fernandes. Entre tantos, citaria ao menos os megablocos Cordão do Bola Preta, Bloco da Anitta ou Monobloco. Este ano, infelizmente sem o Bloco da Preta Gil, em tratamento de saúde e para quem daqui erguemos calorosos votos de rápida recuperação. Os megablocos atraem às ruas milhões de foliões em um único dia. Mas, a par da necessidade de o povo exercitar seu grito libertário de alegria e de união coletiva, o desfile gigantesco de pessoas pelas vias públicas pode causar muitos problemas. E de fato ocasionam. Mas essas concentrações populares exigem infraestrutura condizente. E eficazmente planejada por Rita ao lado do Prefeito Eduardo Paes. Por certo que segurança e conforto para quem está expandindo suas energias dentro dos desfiles serão fundamentais. Como também, atenção! para os moradores das muitas áreas cuja rotina está sendo alterada.

Festa de abertura dos 50 dias do Carnaval Rio 2020 na praia de Copacabana (Divulgação)

Claro que interdições no trânsito, acúmulo de lixos e péssimo comportamento dos mijões mal-educados serão inevitáveis. Mas a Prefeitura + Sebastiana estão mobilizados para reduzir os danos à população. Falando na irritante malta dos “mijões” na via pública, cada vez mais essencial se torna um número maior de sanitários públicos adequados. Quero refletir aqui como tantos de nós (que amamos o Rio) sempre pedimos às autoridades cuidados de essência para o conforto dos cidadãos de um lado, e a limpeza sanitária das vias que eles podem utilizar. Portanto…limpeza e respeito às ruas da cidade.

A cidadania espera que a prefeitura preveja o dever de prover infraestrutura qualificada, começando pela vacinação anti-pandemia para aumentar a segurança dos milhares nos blocos. E. por certo, que os desfilantes cumpram a sua parte. O que deverá resultar na Festa Popular mais original do mundo sombrio de hoje.

RICARDO CRAVO ALBIN – Jornalista, Escritor, Radialista, Pesquisador, Musicólogo, Historiador de MPB, Presidente do PEN Clube do Brasil, Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.

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