Por José Carlos de Assis

O Banco Central está possibilitando que os bancos privados ganhem quase 9% do Tesouro em operações ditas compromissadas, o que é um acinte em tempos de epidemia. Sem fazer absolutamente nada a não ser participar de uma jogatina no mercado financeiro, estão ganhando até 8,88% nos contratos mais longos (Bradesco), entupindo-se de dinheiro na base de enriquecimento sem causa.

A “culpa”, segundo o Banco Central, é do “mercado”, que não aceita taxas mais baixas, mesmo que sejam mais de quatro vezes a taxa básica da Selic. Pois bem, porque nosso Banco Central não faz igual ao norte-americano, que em circunstâncias análogas simplesmente inundaria o mercado de dinheiro, a partir de simples emissão, para forçar a baixa das taxas no mercado pela sagrada lei da oferta e da procura. Acontece que isso não agradaria aos bancos.

Para eles, o importante é um mercado sem liquidez, a fim de forçar para cima a taxa de juros. Um banco central articulado com o Tesouro, numa situação sem risco de inflação a médio prazo, como exatamente acontece nos Estados Unidos e também do Brasil em recessão, poderíamos reduzir drasticamente a taxa básica de juros. O problema é que somos papagaios de imitação dos norte-americanos em tudo, menos em política fiscal monetária.

Tudo isso é comandado por um Banco Central que, tecnicamente, seria dependente do governo, na medida em que, para o bem do povo, sua Diretoria poderia ser demitida ad nutum em defesa de uma política monetária coerente. Imagine, agora, se fosse um banco central independente, como querem alguns oportunistas do mercado e políticos idiotas completamente ignorantes de como funciona a política fiscal-monetária?


JOSÉ CARLOS DE ASSIS – Jornalista, economista, escritor, professor de Economia Política e doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ, autor de mais de 25 livros sobre Economia Política. Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Foi professor de Economia Internacional na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), é pioneiro no jornalismo investigativo brasileiro no período da ditadura militar de 1964. Autor do livro “A Chave do Tesouro, anatomia dos escândalos financeiros no Brasil: 1974/1983”, onde se revela diversos casos de corrupção. Caso Halles, Caso BUC (Banco União Comercial), Caso Econômico, Caso Eletrobrás, Caso UEB/Rio-Sul, Caso Lume, Caso Ipiranga, Caso Aurea, Caso Lutfalla (família de Paulo Maluf, marido de Sylvia Lutfalla Maluf), Caso Abdalla, Caso Atalla, Caso Delfin (Ronald Levinsohn), Caso TAA. Cada caso é um capítulo do livro. Em 1983 o Prêmio Esso de Jornalismo contemplou as reportagens sobre o caso Delfin (BNH favorece a Delfin), do jornalista José Carlos de Assis, na categoria Reportagem, e sobre a Agropecuária Capemi (O Escândalo da Capemi), do jornalista Ayrton Baffa, na categoria Informação Econômica.