Por Pedro do Coutto –

A situação do ex-presidente Jair Bolsonaro e de seu ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Maurício Cid, se complicou com o indiciamento formalizado pela Polícia Federal no caso das joais que foram vendidas no exterior e recompradas para a devolução ao patrimônio nacional. Outros aliados e auxiliares do ex-presidente, entre eles os advogados Fabio Wajngarten e Frederico Wasseff, também tiveram o pedido de indiciamento feito pela PF.

Bolsonaro foi indiciado por peculato, que é a apropriação de bens públicos, associação criminosa e lavagem de dinheiro. O ex-presidente sempre negou irregularidades. Paulo Cunha Bueno, advogado de Bolsonaro, disse que não iria se manifestar neste momento por não ter tido acesso ao documento da PF. Também foram indiciadas outras 11 pessoas, todas por associação criminosa, sete por peculato, nove por lavagem de dinheiro e um – o ex-chefe da Receita Julio Cesar Vieira Gomes – por advocacia administrativa.

PEDIDO DE PRISÃO – No relatório final, não há pedido de prisão preventiva ou temporária de nenhum dos indiciados. O encerramento do inquérito é o momento em que a PF conclui quem praticou crimes – e quais foram os crimes. O relatório final com as conclusões e os detalhes sobre os indiciamentos é então enviado ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do caso.

Moraes, em seguida, encaminhará o caso à Procuradoria-Geral da República, que vai analisar os resultados e decidirá se há evidências suficientes para pedir o indiciamento de Bolsonaro ou se novas diligências são necessárias. Advogado de Bolsonaro, Fabio Wajngarten afirmou em seu perfil no X (ex-Twitter) que foi indiciado “porque, no exercício de minhas prerrogativas, defendi um cliente”.

O inquérito sobre as joias foi encerrado no mês passado, com nova oitiva do ex-ajudante do tenente-coronel Mauro Cid e do pai dele, o general Mauro Lourena Cid, sobre a nova joia que Bolsonaro teria surrupiado e que foi descoberta recentemente pela Polícia Federal.

DILIGÊNCIAS – A nova descoberta ocorreu durante as diligências da PF nos Estados Unidos, país em que emissários do ex-presidente teriam vendido algumas dessas joias e tentado negociar outras. Os investigadores descobriram um vídeo que mostraria a suposta negociação desta nova peça, cujo paradeiro, até o momento, é desconhecido.

As diligências nos EUA contaram com o apoio do FBI e ocorreram em diversas cidades americanas, como Miami (Flórida), Wilson Grove (Pensilvânia) e Nova York. Nelas, os policiais conseguiram depoimentos de comerciantes, documentos e imagens de câmeras de segurança.

As investigações apontam que emissários de Bolsonaro tentaram vender quatro joias nos EUA: duas presenteadas pela Arábia Saudita e outras duas pelo Bahrein. Para a PF, trata-se de organização criminosa montada em torno do ex-presidente com o objetivo de desviar os objetos de luxo. Relógios das marcas Rolex e Patek Philippe, avaliados em US$ 68 mil à época, ou R$ 347 mil, foram vendidos para a empresa Precision Watches. Mauro Cid esteve pessoalmente na Pensilvânia para fazer o negócio.

TRAGICOMÉDIA  – O caso é de uma singularidade impressionante. O ex-presidente recebeu as joias e depois livrou-se delas, vendendo-as. Mas quando a bomba estourou, enviou seu advogado Wassef para recomprá-las a fim de entregar ao Tribunal De Contas da União. Uma tragicomédia marcada por idas e vindas de um ex-presidente da República e de seus assessores.

O caso teve um grande destaque nos jornais desta sexta-feira, dando margem a uma situação gravíssima protagonizada por Bolsonaro e por Mauro Cid e demais indiciados. Bolsonaro poderá até terminar sendo preso se essa for a determinação do STF.

PEDRO DO COUTTO é jornalista.

Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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