Por Alexandre Farah

A tresloucada ideologia do desgoverno Bolsonaro, se é que é possível chamar isso de “ideologia”, foi manifestada na última terça-feira, dia 27 de abril, por ninguém menos do que o ministro da Economia, Paulo Guedes. Mais uma vez alguém importante do governo federal brasileiro agride a China com fake news absurdas, gratuitas e danosas ao nosso país. Paulo Guedes disse, em vídeo, que os chineses “inventaram” o coronavírus, e que a vacina do país para impedir o avanço da doença é “menos efetiva” do que o imunizante da Pfizer, dos Estados Unidos.

A declaração, feita em reunião do Conselho de Saúde Complementar, é mais um ingrediente para a CPI da Covid, recém-instalada no Senado Federal para investigar responsabilidades do governo nas quase 400 mil mortes de brasileiros nessa pandemia. Um número que especialistas estrangeiros projetam em 600 mil mortos em agosto desse ano.

Horas após o novo constrangimento internacional, o ministro Paulo Guedes se disse “muito grato à China” por fornecer vacinas para o Brasil (Marcos Corrêa/PR)

A declaração de Guedes chama a atenção por vários motivos. Em primeiro lugar, ele é ministro da Economia. A China respondeu por US$ 33,6 bilhões do superávit de US$ 50,9 bilhões na balança comercial do Brasil em 2020. Respeitar a China é, no mínimo, demonstração de inteligência ou, pelo menos, um sinal de que o ministro está preocupado em defender os interesses nacionais.

O que a declaração mostra é que faltam os dois.

O outro fator assustador no episódio é que Paulo Guedes expôs toda a sua ignorância. Primeiro por dizer que “a China inventou o coronavírus”. Essa fake news já foi desmascarada há muito tempo. O vírus já foi localizado nos Estados Unidos e na Europa em data muito anterior ao surgimento em Wuhan. Depois por dizer que a Pfizer tem uma vacina melhor e que seria “americana”. Diferentemente do que Guedes afirmou, porém, a vacina da Pfizer não foi desenvolvida por americanos, mas por um casal de cientistas alemães de origem turca, dono da empresa Biontech.

durante viagem a China, Jair Bolsonaro presenteou Xi Jiping com agasalho do Flamengo (Arquivo/Divulgação/Palácio do Planalto)

Tudo isso é um profundo desrespeito, não apenas aos chineses – que tanto têm ajudado o Brasil – mas também aos brasileiros. Atualmente, a vacina CoronaVac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, é a responsável por cerca de 80% das pessoas vacinadas no Brasil. O que o povo brasileiro deve pensar deste governo que, em agosto do ano passado, não aceitou a oferta de 70 milhões de doses da Pfizer para entrega até dezembro?

Temos muito a agradecer ao Butantan e ao laboratório chinês Sinovac. Não fossem eles, estaríamos ainda mais perdidos em meio à pandemia. A demora na vacinação é gravíssima. Causa milhares de mortes que seriam evitáveis e, pior, a demora na imunização da população facilita o surgimento de novas e perigosas cepas do novo coronavírus.

O quadro é triste, grave e revoltante. Que a CPI da Covid identifique os crimes cometidos contra o povo brasileiro e seus responsáveis. É o mínimo que o mundo político e as instituições devem aos nossos mortos e suas famílias enlutadas.


ALEXANDRE FARAH – Advogado, Membro Efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB, ex-presidente da RioTrilhos, ex-Conselheiro Federal da OAB, Deputado Estadual da primeira bancada do PDT-RJ.

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