Por Osvaldo González Iglesias 

No epicentro do turbilhão político e económico que abalou a Argentina nos últimos meses, o governo de Javier Milei permanece firme na sua visão da necessidade de enfrentar os problemas que afligem o país. Enfrentando uma crise económica que fechou o ano com uma inflação superior a 200%, a administração de Milei embarcou num caminho ousado para reverter os danos brutais à situação social e travar a acentuada deterioração da sua população.

Neste contexto, o famoso Decreto de Necessidade e Urgência (DNU) gerou choque no sistema político, desencadeando um terramoto que ameaça pôr em perigo o regime institucional e democrático. Para além das medidas económicas, o DNU parece conter uma reforma estrutural que visa alterar o funcionamento das esferas públicas do país, eliminando regulamentações que alimentam o poder de uma elite social, económica e política à custa da população.

O que para alguns é um plano de reformas económicas, para outros é uma mudança fundamental nas regras do jogo, tanto na esfera pública como na privada. O decreto omnibus enviado ao Congresso reflecte esta tentativa de transformação estrutural, procurando remover múltiplas regulamentações que permitiram o funcionamento e o poder de empresas que dominaram os interesses da maioria.

A lista de privilégios afetados é extensa, abrangendo desde sindicatos com empregados cativos e contribuições sindicais até farmacêuticos, proprietários beneficiados por restrições, o monopólio de transporte nas mãos de determinados atores e os obstáculos impostos pelos registros de automóveis. A reforma também atinge a gestão das importações e exportações, onde um seleto grupo de amigos tem tido o controle em detrimento da livre concorrência, do mérito e da qualidade.

Os críticos argumentam que estas reformas podem gerar resistência, mas os defensores insistem que este é um passo necessário em direcção à igualdade de oportunidades e à abertura à capacidade e ao esforço. A lista dos afectados é considerável, mas também o é o número de pessoas que agora vislumbram um futuro onde poderão lutar pelos seus sonhos com uma concorrência leal e sem as cadeias de privilégios que têm impedido o progresso do país.

As reformas promovidas por Milei e o seu governo não são apenas uma questão de números e economia; É uma reconfiguração profunda que busca mudar os alicerces sobre os quais está construído o destino da Argentina. À medida que a batalha política e social se intensifica, o país acompanha atentamente os passos desta administração que desafia o status quo e se aventura em direcção a mudanças sem precedentes.

Entre a Urgência e o Resgate do Futuro

A Argentina vive um momento crucial da sua história, onde as decisões tomadas pelo governo de Javier Milei não só afetam a economia, mas também provocam um profundo repensar da estrutura institucional do país. Nesta encruzilhada, é imperativo analisar a situação sob diferentes ângulos, compreendendo a importância de manter a integridade institucional e ao mesmo tempo abordar problemas urgentes.

1. Enraizamento Institucional e Salvaguarda da República:

É inegável que a Argentina construiu fortes raízes institucionais ao longo dos anos, sendo uma nação que valoriza as formas e alerta para qualquer ameaça aos mecanismos republicanos. A independência dos poderes e o livre exercício dos controlos institucionais são pilares fundamentais, e qualquer ação que comprometa estes princípios deve ser cuidadosamente examinada.

2. Conteúdo da Lei Omnibus e do DNU:

É necessário reconhecer que tanto a Lei Omnibus como o DNU contêm aspectos que requerem atenção especial. Questões como a situação dos reformados, a lei dos incêndios e a secção de terras estão ligadas não só à soberania nacional, mas também à segurança das fronteiras. A avaliação das empresas deficitárias e cruciais para o desenvolvimento energético e a riqueza nacional é essencial para compreender a complexidade das reformas propostas.

3. Emergências que não podem ser adiadas:

Apesar das considerações formais, existem necessidades urgentes que não podem ser adiadas se pretendemos construir um país viável, superar a pobreza e o atraso. A recuperação das crianças à mesa da família e nas escolas, bem como a projecção para um futuro promissor, são objectivos urgentes. Enquanto alguns enriquecem a cada dia, as famílias saem do sistema, juntando-se à massa de pessoas marginalizadas que exigem um esforço coletivo para a sua reincorporação.

4. A última chance para a Argentina:

Este momento poderá ser a última oportunidade para a Argentina se tornar protagonista do seu destino e deixar para trás anos de atraso e corrupção. A janela da mudança está aberta e a sociedade tem a responsabilidade de participar ativamente na construção de um futuro mais próspero e equitativo.

Conclusão:

As reformas de Milei vão além das medidas económicas; representa uma oportunidade única de transformar a realidade do país. O delicado equilíbrio entre o respeito institucional e a urgência de enfrentar problemas fundamentais definirá o caminho que a Argentina tomará nos próximos anos. A sociedade é chamada a fazer parte deste processo, tomando decisões informadas e participando ativamente como crítica e promotora das reformas de que o país necessita há mais de quarenta anos.

Tradução: Siro Darlan de Oliveira.

OSVALDO GONZÁLEZ IGLESIAS – Escritor e Dramaturgo. Director do jornal eletrônico Debate y Convergencia, correspondente do jornal Tribuna da Imprensa Livre na Argentina.Radiografiara de una sociedad deprimida. (Como no agradecerle eternamente a Messi) - Debate y Convergencia

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