Por Paulo Metri
Em artigo anterior (“Até quando vão abusar da nossa paciência?”), foi dito: “sabemos que as petrolíferas estrangeiras estão levando nosso petróleo e deixando quase nada de contribuição para o desenvolvimento do Brasil, sabemos que órgãos do Estado brasileiro são coniventes com esta apropriação indébita, que muito ativo do setor do petróleo foi vendido a preço vil, podendo, por isso, ser recuperado, sabemos que empresas sem compromisso ético com a sociedade brasileira começaram a atuar aqui com o propósito único de auferir muitos lucros, … sabemos que sempre atuaram apostando na inocência do povo, que, agora, está alerta”.
Um novo futuro nos espera e os tribunais a eles, os inimigos da nossa sociedade. A mídia corrupta, anestesiadora do povo, não conseguirá mais ludibriar. Queremos uma mídia que mostre todos os ângulos de análise de um fato, que dê informação! Não queremos cobrar juros na reparação, apesar de merecermos. Queremos novas condições, novos rumos que já deveríamos estar desfrutando. Trata-se da correção de erros impostos. Muitos dos quais tiveram a participação consciente de brasileiros, traidores de seus irmãos.
Um novo Brasil irá emergir desta catástrofe. Um novo grupo de empresários com amor a sua terra. Uma nova classe política, consequência da nova consciência da sociedade. Novos militares que tenham a única tarefa de dissuadir inimigos externos a nos invadir, que não queiram impor a lei e a ordem a nacionais, segundo a sua ótica. Novas Polícias que se reformularão para serem aprovadas pela sociedade como um todo, não só por uma classe. Nova comunicação de massa sem mentiras, sem domínio do capital, com a tarefa exclusiva de bem informar. Com tudo isto acontecendo, a nossa paciência não estará mais sendo abusada.
Outras sociedades conseguiram atingir altos níveis de maturidade política, onde este futuro ideal está mais próximo. Foi uma conquista consumidora de tempo e de esforço coletivo. Contudo, como primeiro passo, a sociedade precisa estar consciente da importância da sua atuação política.
Trata-se, portanto, de uma mudança da compreensão da política pelo conjunto da sociedade. Algo que consome muito diálogo e disposição para o acerto. A experiência continua de escolhas políticas é primordial. Ouve-se que gerações que participaram de guerras, dado os efeitos destrutivos delas, transmitem para as gerações seguintes o horror que elas representam. Esta transmissão de percepção é mais forte, por exemplo, que a transmissão consequente da leitura sobre o mesmo drama.
Assim, o crescimento da politização da sociedade pode ser considerado como o primeiro degrau a ser galgado para o sucesso de qualquer desenvolvimento social. Sendo a incompreensão política um gargalo, pode-se propor um “mutirão para conscientização política da população”, obviamente sem partidarização política. Este mutirão consiste, já que há falta de maior debate político na sociedade, em esclarecimentos básicos que devem nortear as decisões, por exemplo, mostrando que notícias falsas são veiculadas com interesse de enganar a população. Não se deve confundir este debate com aquele dos candidatos a postos eletivos.
Um exemplo atual é o fato que os preços dos derivados são definidos pela Política de Paridade de Importação, completamente irracional e lesiva aos interesses nacionais. A mídia busca impô-la como correta e tem o beneplácito do próprio governo. Assim, a Petrobras, atualmente, só representa interesses de grupos econômicos estrangeiros e, subsidiariamente, do atual governo brasileiro, que busca diminui-la, prejudicá-la, enfim, extingui-la. Não é soberano estar integrado à economia mundial como colônia, sem capacidade para defender os verdadeiros interesses nacionais.
Certa vez, um jovem me perguntou: “Por que ser soberano?” Meu primeiro pensamento foi ler para ele o poema de Bertold Brecht “O analfabeto político”. Mas, seria agressivo porque Brecht parece ter perdido a paciência ao redigir este poema. A resposta que encontrei, à hora, foi “sendo soberano você terá possibilidade de tomar a medida que melhor beneficia a sociedade brasileira”. Até hoje, acho que foi uma boa resposta. Poderia ser dito, também, que: “a soberania de um Estado nacional pode ser comparada ao ‘leitmotiv’ (motivo condutor) que transforma um acalentado aprazível futuro em realidade”.
Neste ponto surge a nova pergunta: “O que é ser nacionalista? ”, cuja resposta é bem mais simples: “trata-se daquela pessoa que protege a sociedade da sua pátria”. Não confundir esta definição com “proteger a pátria”, que se trata de “proteger o espaço físico da pátria e as benfeitorias nela existentes, sem preocupação com os seres humanos que nela habitam”.
O Brasil, hoje, já poderia fazer parte da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), o que seria bom para a sociedade brasileira, pois o país teria uma maior capacidade de barganha em negociações internacionais. Mas, sorrateiramente, o Brasil “salvou” o mundo de um novo choque de petróleo com o seu salvamento das grandes petrolíferas estrangeiras que começavam a ficar com suas produções futuras comprometidas pelo baixo nível de reservas. Até petrolíferas menores se beneficiaram do “roubo” do petróleo nacional, como é o caso da petrolífera de Portugal que, graças aos nossos neoliberais desprovidos de qualquer amor e respeito à sociedade brasileira, entregaram reservas que equivalem a dezenas de anos de abastecimento de Portugal. Deve ter sido pela saudade da colonização portuguesa.
O Brasil tem, no mínimo, 150 bilhões de barris de reservas petrolíferas, que não se fala no país para a sociedade não saber da sua riqueza. Desta reserva, uma boa parte já foi entregue em condições desfavoráveis pelos governos Temer e Bolsonaro. Resta, agora, dependendo do caso, simplesmente anular licitações e recuperar o bloco, ou questionar na Justiça estas licitações. Sabe-se que interpretações errôneas colocaram blocos em licitações para a concessão, quando deveriam ser utilizados os contratos de partilha. Outras imprecisões técnicas foram admitidas com prejuízo para a sociedade brasileira. Enfim, deve-se fazer uma revisão cuidadosa neste rico setor.
É primordial que esta conscientização política não procure convencer o cidadão que soluções a direita ou a esquerda, conservadoras ou progressistas, privatistas ou estatistas são as ideais para solucionar os problemas da nossa sociedade. Algumas podem até ser boas soluções, mas são questões muito polémicas, sobre as quais as pessoas divergem, honestamente, muito. Entretanto, o entreguismo deve ser combatido por todos, assim como o nacionalismo deve ser apoiado por todos. Outra postura que deve ser consensual é a definidora do nosso grau de civilidade. Apoio à misoginia, homofobia, racismo, fascismo e a outras deformações humanas devem ser usadas como teste preliminar para eliminação de candidatos a cargos políticos.
O cidadão comum, aquele que é manipulado pela mídia e alvo das fake news, não precisa ser, necessariamente, diplomado ou culto para ser politizado. Nem mesmo grande estudioso de política. Nem profundo conhecedor da legislação que rege os poderes e suas relações. Basta ter convicção do que é bom para o próximo e para si próprio e procurar esclarecer dúvidas que surjam. Estar consciente que forças poderosas usufruem da ignorância política da grande massa. Em geral, elas controlam os meios de comunicação tradicionais e, por isso, não é fácil contradizê-las. Mas suas contradições, às vezes, emergem e a verdade prevalece.
Este novo agente social precisará ser solidário e perseverante. Analisar as diversas propostas futuras de país com bom senso e debater causas e consequências. Ao passar a ser um agente da conscientização política da sociedade, estará ajudando ela a trazer um futuro melhor para todos.
Enfim, ele deverá trazer maior nexo para as escolhas.
PAULO METRI – Engenheiro, conselheiro do Clube de Engenharia, vice-presidente do CREA-RJ, colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.
Tribuna recomenda!
NOTA DO EDITOR: Quem conhece o professor Ricardo Cravo Albin, autor do recém lançado “Pandemia e Pandemônio” sabe bem que desde o ano passado ele vêm escrevendo dezenas de textos, todos publicados aqui na coluna, alertando para os riscos da desobediência civil e do insultuoso desprezo de multidões de pessoas a contrariar normas de higiene sanitária apregoadas com veemência por tantas autoridades responsáveis. Sabe também da máxima que apregoa: “entre a economia e uma vida, jamais deveria haver dúvida: a vida, sempre e sempre o ser humano, feito à imagem de Deus” (Daniel Mazola). Crédito: Iluska Lopes/Tribuna da Imprensa Livre.
MAZOLA
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