Por Karlos Holanda

O título desse artigo já deve ter passado pela cabeça de muitos de nossos leitores.

Mas na realidade qual a necessidade de vacinar nossos idosos e os imunossuprimidos com a terceira dose? A resposta mais simples é: Para aumentar a imunidade, mas como sei que uma resposta sucinta não será capaz de saciar a curiosidade de muitos, vou mostrar, o porquê dessa parcela da população estar começando a receber a terceira rodada da vacina.
Todos sabemos que ao longo de nossas vidas, nosso corpo vai sofrendo alterações, e com o sistema imunológico, popularmente conhecido como sistema de defesa não é diferente, pois ele passa a produzir uma menor quantidade de anticorpos, que são as células de defesa do nosso organismo. Dessa forma, principalmente os maiores de 70 anos produzem uma menor resposta a vacina, assim como os pacientes imunossuprimidos, que como o nome diz tem uma supressão de seu sistema imunológico, levando a uma menor produção de anticorpos após a vacinação.

Associado ao que foi descrito no parágrafo anterior, os cientistas sabem que todas as vacinas possuem uma queda de proteção ao longo do tempo, o que somado a menor resposta imunológica de nossos idosos e pessoas imunossuprimidas, eleva o risco de desenvolvimento de formas graves e óbitos, algo que já está sendo observado no Brasil nesse momento.

Como se não fosse o suficiente, hoje estamos observando um crescimento no Brasil da variante Delta do Covid19, e apesar da boa notícia de que todas nossas vacinas são capazes de dar imunidade contra ela, já se sabe também que essas mesmas vacinas tem uma eficácia menor para essa variante. Diante dessa nova informação nosso leitor mais atento, já deve ter relacionado a resposta imunológica menor, com a queda da proteção vacinal ao longo do tempo e agora com essa eficácia geral diminuída contra a Delta, deixando essa parcela da população mais exposta às formas graves da doença.

 

Agora vamos colocar mais um ingrediente nessa nossa discussão.

No Brasil grande parte da população idosa, foi vacinada com uma vacina de vírus vivo atenuado, que é a Coronavac, que era a que tínhamos disponível naquele momento, e foi de fundamental importância para reduzir os óbitos, em um momento tão crítico dessa Pandemia em nosso país. Porém os estudos realizados ao longo desse tempo, demostraram que esse tipo de vacina, produz uma menor quantidade de anticorpos neutralizantes, principalmente em maiores de 80 anos, o que leva a uma menor proteção, quando comparamos com vacinas de RNA. Diante desse novo fato, chegou-se a conclusão de que seria necessária uma dose adicional para aumentar a eficiência dela. Importante ressaltar que em pessoas mais jovens não há essa preocupação com a Coronavac, pois nessa faixa etária há a produção de um maior número de anticorpos neutralizantes.

Para essa terceira dose tem sido defendida uma vacinação heteróloga, ou seja com uma vacina diferente da que foi administrada nas duas primeiras doses, porém preferencialmente sem que seja de vírus inativado, pois daria uma maior proteção, lembrando que isso não é uma regra e que nesse momento vários estudos estão sendo realizados, o que pode vir a demonstrar evidências diferentes no futuro.

Diante de tudo que foi exposto, alguns questionamentos estão sendo feitos, como por exemplo o de que não seria correto iniciar a terceira dose, se ainda temos muitas pessoas que sequer receberam a primeira, além disso a Organização Mundial de Saúde já se posicionou contra alegando que ainda faltam estudos mais robustos para demonstrar a efetividade real da terceira dose, mas principalmente alega que deveria ser priorizada a vacinação de toda a população mundial, por uma questão ética e moral, ressaltando que em países mais pobres como os da África, nem sequer todos os idosos e profissionais de saúde foram vacinados ainda.

Fica então uma reflexão para todos nós.

Dr. KARLOS GUDDE DE HOLANDA MOURA – Médico, titular desta “Tribuna da Saúde”, colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Residência Médica em Anestesiologia pelo Hospital Beneficência Portuguesa da São Paulo; Pós-graduado em Laser, Cosmiatria e Procedimentos pela FATESA de Ribeirão Preto; Pós-graduando em Nutrologia pela USP de Ribeirão Preto; Professor da Pós-Graduação de Laser, Cosmiatria e Procedimentos na FATESA de Ribeirão Preto. @dr.karlosholanda


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