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A sorte está lançada: agora não dá para chorar o leite derramado
Charge do Clayton. (Arquivo do Google)
Colunistas, Política

A sorte está lançada: agora não dá para chorar o leite derramado

Por José Carlos de Assis

Agora não vale.

Recuar da tentativa de golpe depois de realizá-la é querer enganar o povo, como sempre enganou, com suas provocações verbais, arruaças de motoqueiros e bravatas irresponsáveis. Bolsonaro elevou a crise institucional que ele criou a seu nível máximo. Agora não tem recuo. Se o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional aceitarem sua desculpa esfarrapada, será a pior pedagogia para o povo. Significará que não há limite para a acusação sem prova, a injúria e a difamação.

Jair Bolsonaro pagará na cadeia ou no hospício os crimes que ele cometeu enquanto Presidente da República, e, muitas vezes, antes disso. Prefiro a alternativa do hospício. Pois está claro que ele é um psicopata. Não é preciso ser psiquiatra para se chegar a esse diagnóstico. Psicopatia é a doença de quem, fechado sobre si mesmo, acha que é dono do mundo e pode tudo. Nada o restringe no plano social ou institucional. Ele age na Presidência como se estivesse num botequim de esquina.

Um país de mais de 200 milhões de habitantes não pode ser governado por um psicopata. Se o Conselho Nacional de Medicina e a Associação Brasileira de Psiquiatria não fossem entidades dirigidas por bolsonaristas roxos, eles mesmos suspeitos de sociopatia, já teriam tomado providências concretas para afastar o Brasil do extremo risco de ser governado por um louco. Esses médicos de fancaria não são pessoas literalmente incultas. São imbecis políticos, com os que elegeram Jair Bolsonaro.

Desculpem-me. Muitos dos que elegeram Bolsonaro não são propriamente imbecis. O adjetivo se aplica a motoqueiros bárbaros, caminhoneiros ignorantes, militares ressentidos e psiquiatras bolsonaristas. Muitos outros, porém, são apenas ingênuos. É o caso dos evangélicos conduzidos por pastores movidos pela simonia, a busca desesperada do dinheiro dos pobres para encher os próprios bolsos, colhendo e vendendo os votos da massa ignorante, por 30 dinheiros, em nome de Jesus Cristo.

Os pastores chamados pentecostais são o estofo de grande parte da massa ignara que elegeu Bolsonaro. Mas o povo ingênuo, enganado por eles, não tem culpa. Pertence à camada mais baixa da sociedade que perdeu a esperança, submetida que está a tanta pobreza e a tanta miséria. Sua esperança é Jesus, e Jesus, da parte desses pastores vigaristas, bem vale um dízimo regular, saído do sangue dos pobres e repassado aos políticos ainda mais vigaristas na forma de votos nas eleições.

Mas que dizer de amplas camadas da classe média que votou em Bolsonaro?

Dos psiquiatras. Dos caminhoneiros, que foram esmagados pela política de preços estratosféricos de combustíveis iniciada no governo Temer. É que a grande mídia nunca explicou que se trata de uma farsa neoliberal que alinhou arbitrariamente os preços da Petrobrás aos preços internacionais mais elevados, para favorecer a entrada no país das petrolíferas estrangeiras que estão engolindo a Petrobrás aos pedaços.

Acaso caminhoneiros broncos sabem distinguir a escalada dos preços da gasolina, do diesel e do gás de gasolina de um princípio geopolítico que esconde, dentro de uma fórmula matemática grotesca e mentirosa, o fetiche da necessidade de alinhamento dos preços internos dos combustíveis aos preços internacionais das petrolíferas estrangeiras? Quem entende isso? Para os caminhoneiros, basta a demagogia de Bolsonaro dizendo que está do lado deles. E deixa os preços altos.

Mas muitos milhões não votaram em Bolsonaro, votaram contra o PT. Esses foram os doutrinados pela Lava Jato, no conluio entre juiz e procuradores treinados pelo Departamento de Justiça americano e pela CIA, mais a grande mídia, que reproduzia sem crítica, e sem qualquer esforço investigativo, as denúncias contra Lula e seu partido. Mais uma vez, estamos diante da geopolítica por trás da política. Os infiltrados e provocadores por trás de manifestações de massa de 2013 e 2014.

Essa massa inorgânica gerou Bolsonaro. E por ser inorgânica submergiu diante da sucessão de crises por ele estimuladas e levadas ao extremo em defesa de seu projeto pessoal fascista. Sobraram ainda grandes frações de massa nas avenidas e praças das grandes capitais que atenderam ao apelo do mito. Mas não houve o confronto na forma de uma grande convulsão social que estava nos planos do Presidente louco para chamar uma intervenção do Exército a fim de aclamá-lo ditador.

O que os comícios de Brasília e principalmente de São Paulo mostraram não foi uma exibição de força. Foi uma exibição explícita de loucura pública diante de milhões de pessoas. Crimes de responsabilidade perante centenas de milhares de testemunhas. Dispensam-se promotores, procuradores, presidente da Câmara, Procurador da República para converter esses atos em crimes de responsabilidade contra a Constituição, a fim de desencadear processo de impeachment, porém longo.

Não precisa ser tão longo. Basta que o Supremo ponha em pauta e julgue imediatamente a ação proposta pelo jurista Miguel Reale Jr, em nome de um grupo de psiquiatras, e declare o óbvio: Bolsonaro é um psicopata. A prova está nas gravações dos dois comícios. Só um Presidente psicopata ataca de público, pessoalmente, um integrante de outro Poder, estendendo o ataque a todos os demais participantes, portanto ao Poder inteiro. Basta.

O Brasil não pode ser governado por um louco.

JOSÉ CARLOS DE ASSIS – Jornalista, economista, escritor, colunista e membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Professor de Economia Política e doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ, autor de mais de 25 livros sobre Economia Política; Foi professor de Economia Internacional na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), é pioneiro no jornalismo investigativo brasileiro no período da ditadura militar de 1964; Autor do livro “A Chave do Tesouro, anatomia dos escândalos financeiros no Brasil: 1974/1983”, onde se revela diversos casos de corrupção. Caso Halles, Caso BUC (Banco União Comercial), Caso Econômico, Caso Eletrobrás, Caso UEB/Rio-Sul, Caso Lume, Caso Ipiranga, Caso Aurea, Caso Lutfalla (família de Paulo Maluf, marido de Sylvia Lutfalla Maluf), Caso Abdalla, Caso Atalla, Caso Delfin (Ronald Levinsohn), Caso TAA. Cada caso é um capítulo do livro; Em 1983 o Prêmio Esso de Jornalismo contemplou as reportagens sobre o caso Delfin (BNH favorece a Delfin), do jornalista José Carlos de Assis, na categoria Reportagem, e sobre a Agropecuária Capemi (O Escândalo da Capemi), do jornalista Ayrton Baffa, na categoria Informação Econômica. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.


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