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A Sombra do Fascismo e o Sonho Americano – por Michelle Meneses
Nos EUA assistimos a algo de consequências planetárias: o retorno de Trump ao comando da nação mais poderosa do planeta. (Divulgação/Flickr White House - 13.nov.2020)
Colunistas, Internacional, Política

A Sombra do Fascismo e o Sonho Americano – por Michelle Meneses

Por Michelle Meneses

“Toda Era tem seu próprio Fascismo.” (Primo Levi)

Na última terça-feira os Estados Unidos deram um passo firme em direção à extrema direita fascista.

Em uma votação histórica, Donald Trump se tornou o 47° Presidente dos Estados Unidos, com vitória acachapante no voto popular e no Colégio Eleitoral!

O que era uma projeção assustadora aconteceu: Donald Trump, a aberração política da extrema direita fascista americana volta à Casa Branca mais poderoso do que nunca!

Além disso, seu partido Republicano sai fortalecido da eleição com maioria no Senado e na Câmara dos Deputados.

A maior democracia do mundo elegeu um presidente que pela 1°vez na história americana foi condenado e é réu na Justiça.

Nem mesmo o incitamento ao violento ataque ao Capitólio em 6 de Janeiro de 2021, foi suficiente para tornar Donald Trump inelegível (lá não existe Justiça Eleitoral) para que fosse impedido de participar do processo eleitoral.

A vitória de Donald Trump, o “Engenheiro do Caos” do século XXI é um alerta para o mundo, pois, já vimos no passado que um homem enfurecido, ressentido, racista, perigoso, autoritário e fascista pode destruir tudo a sua volta!

A história mundial está repleta de homens ressentidos e cruéis que foram e serão sempre perigosos não por suas armas potentes, mas por sua arrogância e crueldade.

Trump mais do que qualquer outro político americano soube gerar o sentimento de medo no seio da sociedade americana!

Quando o ex presidente americano, por exemplo, coloca em dúvida a lisura e o resultado do próprio processo eleitoral, ele está passando uma mensagem de descrédito, de desconfiança e medo para a população.

Quando Trump promove uma fake news grotesca, que, imigrantes haitianos estão comendo os pets (gatos e cachorros) de famílias de Springfield em Ohio, onde, pasmem, ele venceu as eleições, isso se transforma em medo e ódio aos imigrantes.

Aliás, o discurso raivoso contra os imigrantes foi a tônica da campanha eleitoral trumpista!

Para Donald Trump, o imigrante é o inimigo a ser combatido e se possível, eliminado do território americano.

Como bem frisa, Giuliano da Empoli no excelente livro “Os Engenheiros do Caos”

“A indignação, o medo, o preconceito, o insulto, a polêmica racista ou de gênero se propagam nas telas e proporcionam muito mais atenção e engajamento que os debates enfadonhos da velha política.

Os engenheiros do caos estão bem conscientes disso.”

Um povo descrente da política, amedrontado e envenenado por mentiras é apenas “massa de manobra” nas mãos de um político inescrupuloso!

Quanto mais as pessoas têm medo, mais elas deixam de agir com a razão, e são levadas a acreditar nas maiores barbaridades e fake news que lhe são apresentadas.

A desinformação sistemática está contribuindo para corroer a democracia.

Gerar o sentimento de medo na população é o objetivo de um fascista.

Pessoas temerosas e confusas, são os alvos perfeitos para disseminação das mais fantasiosas teorias da conspiração, e assim, sem que elas percebam estão ajudando esse grupo político à aniquilar a democracia e os direitos dos cidadãos.

Um eleitor com dúvidas sobre a segurança do processo eleitoral, muitas vezes poderá pensar em não participar das eleições: “Para que votar, se essas urnas não são confiáveis?”

Um cidadão que diariamente recebe pelo WhatsApp e outras redes sociais as teorias de conspiração e as fake news mais fantasiosas e absurdas, tendem a se apavorar e correr para eleger aquele que se autodenomina defensor dos costumes conservadores e da família tradicional.

Ao longo da história mundial, muitos foram os líderes políticos que utilizaram o medo como a arma mais poderosa de propaganda política.

Um povo paralisado pelo medo, é um povo facilmente manipulado de acordo com a vontade de seu “líder”.

Aquele que detém o poder, mesmo sendo um completo estúpido, sabe como manipular o sentimento de medo no seio da sociedade, minando assim a confiança da população nas Instituições, bem como, gerando a descrença em todo o sistema político vigente.

Promover o medo é o combustível que move um governo autocrático.

Trump, O Fascista

Trump e Bolsonaro em visita oficial (Reprodução)

Em seu livro “Fascismo-Um Alerta” a política e diplomata Madeleine Albright, uma crítica ferrenha de Donald Trump, inclusive ela dedica um capítulo do livro a ele; explica como o fascismo é a “maior ameaça à paz internacional desde a Segunda Guerra Mundial.”

Mas, o que é um fascista?

Para Albright, “Um fascista é alguém com profunda identificação com um determinado grupo ou nação em cujo nome se predispõe a falar, que não dá a mínima para os direitos de outros e está disposto a usar os meios que forem necessários -inclusive a violência- para atingir suas metas.”

E mais, “A energia do fascismo é alimentada por homens e mulheres abalados por uma guerra perdida, um emprego perdido, uma lembrança de humilhação ou a sensação de que seu país vai de mal a pior. Quanto mais dolorosa for a origem da mágoa, mais fácil para um líder fascista ganhar seguidores ao oferecer a expectativa de renovação ou prometer restituir-lhes o que perderam.”

“Para alimentar o fervor, fascistas tendem a ser agressivos, militaristas e quando circunstâncias permitem, expansionistas. Para assegurar o futuro, transformam escolas em seminários para os verdadeiros fiéis, empenhando-se na produção de “novos homens” e “novas mulheres.”

“Aprendemos com a história que fascistas podem alcançar cargos de alto escalão por via eleitoral. Quando o fazem, seu primeiro passo é tentar minar a autoridade dos poderes centrais concorrentes, entre eles o parlamento.”

A mobilização de uma parcela da população americana não foi suficiente para barrar o retorno triunfal de Trump!

Assolada por uma crise econômica, pela incapacidade de manter seu padrão de vida e envenenada por fake news, mentiras e desinformação, a população preferiu eleger Trump que representa para essa parcela da sociedade: o verdadeiro “sonho americano” de prosperidade, riqueza e sucesso.

Apesar de Donald Trump ser abertamente negacionista, racista, xenofóbico, misógino, mentiroso, machista que insultou, ofendeu, atacou, manipulou e conspirou contra a democracia, nada disso foi empecilho para que ele fosse eleito para comandar novamente o seu país.

A primeira declaração de Trump diante da sua Vitória foi que “fechará fronteiras e promete virada nos EUA: “Será a era de ouro da América.”

Essa declaração comunga com os anseios da maior parte da população que deseja a prosperidade e de quebra o livramento dos “incômodos” imigrantes que seriam os verdadeiros culpados pela “desgraça” atual da América!

A ‘sensação de que seu país vai de mal a pior’ quanto mais for assustadora e dolorosa leva homens e mulheres a buscar um “salvador da pátria” que possa salvá-los do caos e sofrimento que estão vivendo!

E é exatamente nesse momento que para um líder com viés fascista é mais fácil ganhar seguidores e oferecer o sonho do pote de ouro no fim do arco-íris!

A democracia de um país sempre estará em risco quando um líder fascista estiver com o poder nas mãos, quando pessoas e grupos políticos defendem e têm como projeto uma ideologia baseada no racismo, xenofobia, preconceito, conservadorismo reacionário, atitudes antidemocráticas, nacionalismo e autoritarismo exacerbados que coloquem em risco uma convivência pacífica dentro da sociedade.

É certo também que as pessoas que formam a sociedade, vêm mudando ao longo dos últimos tempos, com o aumento da insatisfação em relação à política, seus governantes, com suas frustrações pessoais e com a sensação de que a vida foi piorando com o passar dos anos.

Donald Trump foi eleito em 2016 na onda das redes sociais, onde ele de modo estratégico e por meios ilegais , fez o seu nome crescer entre o eleitorado médio americano, que até então, pouco se sentia representado em seus anseios mais profundos!

Ele deu voz a uma parcela enfurecida do eleitorado, com muita desinformação, teorias da conspiração, mentiras e fake news, ele conseguiu penetrar em todas as camadas da sociedade americana.

A eleição de Donald Trump em 2024 representa uma real ameaça à democracia, bem como traz a assombrosa possibilidade de tempos de incertezas em todo o planeta.

A vitória de Trump representa o começo da derrocada da democracia americana; bem como o fortalecimento da extrema direita no mundo, especialmente aqui no Brasil!

Será que as instituições americanas conseguirão conviver pacificamente com um presidente antidemocrático?

Será que a democracia americana vai resistir ao furacão Trump?

São perguntas ainda sem respostas que irão pairar sobre a nação americana por longos quatro anos!

Para o cientista político Steven Levitsky, “de tempos em tempos as democracias em todo mundo podem ser atacadas, abaladas e questionadas, mas que são resistentes para serem mantidas pela maioria das nações.”

A democracia americana vive seu momento mais incerto de todos os tempos!

A DEMOCARACIA TEM QUE RESISTIR!

MICHELLE MENESES – Advogada, Cientista Política, Escritora, Mãe de 4 filhos e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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