Por Bolivar Meirelles

É sim. Os bons médicos sabem disso. Os maus médicos persistem na ignorância, matando mais pessoas do que lhes salvando a vida.

Recentemente, recebi dois artigos de um bom médico, profissional de saúde, Dr. Paulo Brindeiro. Meu amigo de longa data. Hoje, ambos octagenários, curtimos parte da infância juntos. Pernambucano, como eu, encontrou o Rio de Janeiro como sua moradia. Não esquece, no entanto, sua origem nordestina. Brindeiro me enviou dois excelentes artigos para mostrar ou demonstrar que os bons médicos ligados à medicina social, se entendem, também, como coparticipes desse amplo leque de “cientistas sociais”. A medicina é uma “ciência social”. Afirma, convicto, esse médico pernambucano que, em tempos idos, já foi assistente na Fiocruz na cadeira de “medicina social”. Lembra-se dos tempos em que o ex-secretário de saúde de Leonel Brizola, no Rio de Janeiro, Eduardo Costa, estava absorvendo esses conhecimentos na Fundação Osvaldo Cruz.

Hoje, é uma forte escola no ambiente de medicina social, sanitaristas enfaticamente.

Tal é a questão que os médicos “comerciantes de saúde”, por vezes, dizem que “sanitaristas são médicos que desejariam ser sociólogos”. Esses mercadores da Saúde, não entendem é que o saber não tem fronteiras. Brindeiro e Eduardo Costa fazem parte dessa escola. Karl Marx já se expressou de maneira enfática, logo ele que teve formação jurídica e exerceu o jornalismo, também: “só existe uma ciência, a história”. Não se animem muito os formados em história, para Marx a concepção de história era ampla, incluía todo o conhecimento humano. Da filosofia, às Ciências, às técnicas, à cultura. Às artes também. Ninguém domina toda história no sentido de Marx. Sinalizar para o total, a realidade concreta, na sua relação das partes com o todo, tão bem explicitada por Kosík, não é dar a cada profissional específico o domínio de todo o conhecimento adquirido pela humanidade.

O destino atual da saúde pública tem, no entanto, forte ligação com essa dimensão de totalidade. Não fogem os bons sanitaristas de entender esse assunto.

Uma escola de medicina vem surgindo com essa percepção. Encaminhei esses artigos a dois médicos os quais me dão segurança de serem profissionais capazes de perceber essa escola de médicos que entendem a medicina, também, como inserida no amplo espectro das “ciências sociais”. Encaminhei ao Eduardo Costa e ao Humberto, médico e político em Macaé. Encaminharei a outros, desejosos em entender o pensamento da saúde em sua totalidade. Boa sinalização desses bons profissionais de medicina, que se acham predispostos ao engajamento na luta existente na sociedade conflitiva, de classes. Entendem que, não resolvida a questão da sociedade de classes, exploradora do Ser Humano, as questões da saúde deram e continuarão dando nesse “vai e vem”. Vacinas se tornam, apenas, paliativo. Fármacos, também. As questões do envolvimento dos humanos com o meio ambiente, de forma irresponsável, vai buscar nesses habitats doenças retidas. Relacionamento com animais selvagens mal dirigido… invasão dos territórios indígenas, má relação com o meio ambiente…etc. Todos esses aspectos têm de ser observados. A antropologia, a sociologia, a economia política estão presentes no campo da saúde, também. Medicina não é, apenas, uma questão biológica, é também, claro. Nisso Karl Marx está presente.

“Baixando a bola” dos “historiadores apenas titulados”, “só existe uma ciência, a história”.

BOLIVAR MARINHO SOARES DE MEIRELLES – General de Brigada Reformado, Cientista Social, Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre, Mestre em Administração Pública, Doutor em Ciências em Engenharia de Produção, Pós Doutor em História Política, Presidente da Casa da América Latina.


Tribuna recomenda!