Por Sérgio Cabral Filho –

Curioso que toda vez que se discute a presença permanente da polícia em favelas e comunidades, o assunto é tratado como “ocupação”.

Agora mesmo, em função da excelente reportagem do repórter Paulo Renato Soares, à partir de uma longa investigação da polícia civil do Rio de Janeiro no Complexo da Maré, as autoridades de segurança do governo federal e estadual refutaram qualquer “ocupação” nas comunidades da Maré.

Bem, o Complexo da Maré é formado por dezenas de comunidades. São mais de 100 mil moradores. Como assim “ocupação”? Que distorção é essa a que nós nos habituamos? Ocupação é a milícia e o tráfico ditarem o modus vivendi nessas comunidades, assim como em tantas outras do Grande Rio. Isso é ocupação.

Ou será que os moradores dos bairros têm direito à segurança ostensiva e os moradores das favelas não têm esse direito?

Segurança Pública é pressuposto civilizatório. Sem paz, as pessoas não vivem com dignidade. Creches, escolas, postos de saúde, UPAs 24h, e todos os serviços públicos e privados ficam prejudicados. O direito do ir e vir, em paz, é condição preliminar para todas as atividades humanas.

No Rio, tivemos a maior e melhor experiência de policiamento nas comunidades: as UPPs, Unidades de Polícia Pacificadora. Os índices criminais nas favelas pacificadas foram ao chão. Reduzimos todos. Várias delas passaram anos sem homicídios. Negócios legais foram abertos, os furtos de energia caíram drasticamente, as escolas funcionaram sem problemas. A ex-secretária de educação da prefeitura do Rio, Claudia Costin, declarou que com o advento das UPPs, alunos das escolas instaladas nessas comunidades pacificadas tiveram um excelente rendimento escolar.

Investimos muito em infraestrutura e serviços nas favelas. A AgeRio, agência de desenvolvimento do governo de estado, financiou mais de 10 mil empreendedores nas comunidades. Muitos negócios novos abertos. Complexo Esportivo, UPA24, metrô, biblioteca-parque são exemplos de investimentos na Rocinha, o maior complexo de favelas da zona sul. O povo trabalhador de lá teve paz e atenção do poder público.

Fizemos o mais extenso teleférico da América Latina dentro de comunidades, no Complexo do Alemão. Ligando diversas comunidades desde o ponto mais alto até a estação de trens em Bonsucesso. Com capacidade para 30 mil viagens/dia está desativado desde o fim de 2016…

Portanto, autoridades federais, estaduais e municipais desejosas de enfrentar o problema da crise de segurança no Rio: façam o óbvio! Fornecer segurança permanente nas comunidades.

Por que deve ter policiamento ostensivo na Vieira Souto e não pode ter no Parque União, na Maré? Cidadão favelado não tem direito ao policiamento que os bairros estruturados da cidade têm?

SÉRGIO CABRAL FILHO – Jornalista e Consultor Político da Tribuna da Imprensa Livre.

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