Por José Macedo –
No meu silêncio, em minha solidão intelectiva, em minhas reflexões, leio clássicos, a bíblia e até, a dramaturgia.
Assim, por muitas razões, transcrevo um texto de Bertholt Friedrich Brecht: “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas”.
Neste momento em que estamos acompanhando a guerra entre Rússia X Ucrânia, sinto-me no dever de desculpar-me, deixando, por um instante, de falar do Brasil, como é o propósito deste artigo.
O mundo parou diante dessa guerra, mesmo anunciada, não sendo portanto uma surpresa.
Já escrevi sobre a guerra, demonstrei suas causas e motivações, algumas são, historicamente, remotas.
Ainda sustento o entendimento de que, essa guerra que, acontece, há um mês, entre Rússia e OTAN (diria USA), a Ucrânia é “boi de piranha” nessa história e lamentável episódio.
Chamo a atenção para a pessoa do presidente Volodymyr Zelensky, que, sempre, acenou para a OTAN, seu desejo de fazer parte da Europa, desde o golpe de 2014, quando foi derrubado o governo pró Rússia.
Essa ruptura ou ferida ficou, ao longo desse tempo, sangrando e aberta, até a explosão do conflito, no dia 24 de fevereiro, não havendo sinalização de seu término.
A Rússia, por razões de defesa territorial, sente-se ameaçada, justificando sua invasão.
Falando de desconstrução do Estado, prefiro conversar sobre nosso país e, vis-à-vis, em sendo ano de eleição.
Este ano de 2022 dará muito trabalho à Justiça Eleitoral.
O capitão presidente por sua negação ao voto eletrônico, mesmo sem qualquer prova de possível fraude, alega ser a votação fácil de ser hakeada e viciada, repetindo o discurso do ex presidente derrotado e seu líder, Trump dos USA.
Lembro que, nos USA, a votação é feita via cédula.
Aqui, o ex-presidente Lula é o preferido da população, com margem ampla nas pesquisas sobre o segundo, o próprio presidente Bolsonaro.
O presidente Capitão não desiste de usar de seus métodos de guerra, negacionismo e de desconstrução de fatos, apesar de não apresentar provas.
Essa postura gera descrédito à Justiça pela população e insegurança jurídica.
A desconstrução do Estado Brasileiro e das leis possui seu objetivo: a implantação do caos, um fenômeno limite do suportável e da “tolerância”.
O Capitão presidente ocupa seu tempo para pavimentar seu desejo, criando condições para a concretude do que, Ele, sempre, quis: dar o golpe.
O capitão ocupa o Palácio do Planalto, porque foi eleito, diga-se, democraticamente.
Porém, o presidente nunca foi favorável à democracia, nunca foi zeloso do Estado Democrático de Direito e da Constituição.
Assim, sua vontade, como se vê e lê, é a de ser um ditador.
Essa sua preferência era conhecida, há tempos, desde o exercício de seus 28 anos de mandatos de deputado federal.
Quando exercia o mandato de deputado, confessava ser a favor da ditadura e até, da tortura, bem como da eliminação de seus adversários.
A configuração da administração de seu governo foi formada nesse sentido e, dela participam centenas de militares, a maioria é de velhos conhecidos, já aposentados.
Obviamente, possuem vínculos com os quartéis, amizades e influências.
Não quero dizer que esse vínculo seja suficiente para trazer generais e oficiais da ativa para essa arriscada aventura golpista, ficando do lado e dando suporte e carta branca para o capitão.
Sabe-se que, o capitão foi obrigado a deixar o exército por atos de indisciplina, de violência e de ameaças de explosão de bombas, destruição de departamentos internos do exército.
Diante desses fatos é semifinal a desconfiança dos generais e oficiais, não fazendo coro aos desejos do presidente.
Assim, o capitão presidente procurou alternativas e iniciou seus acenos para as polícias Militares, bem como, armando a população, como reserva, segundo imagina, necessárias para sua mórbida tentativa de delírios autoritários.
Ficaria, aqui, por muito tempo, fazendo essas injunções, que não são visões infundadas e conspiratórias, mas constatações de fatos.
Muitos analistas e pensadores já disseram isso, não estou isolado nessas conjecturas. Portanto, não é novidade.
Para somar a seu grupo de apoio não esquecer que, a família Bolsonaro tem longa amizade com as milícias organizadas, marginais e extra oficiais, disseminadas por todo país, a partir do Rio de Janeiro.
Trata-se de uma relação antiga e conhecida.
O capitão presidente da República trabalha, ainda, nessa estratégia de desconstrução do Estado Brasileiro, desacreditando os poderes da República, na perspectiva da ótica do caos e da confusão, “o mal radical”, visão de Kant, século XVIII e Hannah Arendt, século XX.
O Bolsonaro, na sua mediocridade de típico psicopata, sua ideologia é a de, na espreita, propagar o ódio e o mal, o que pra ele é banal, é natural.
Alguns questionarão: ele tem entre 25 e 30% de seguidores! Ora, não superamos efeitos de duas guerras mundiais e dezenas de outras, os traumas, medos e ódios são marcas, fazem dessa população, psicologicamente, doente, fácil de acreditar em falsos mitos, salvadores e no Sebastionismo.
“Estamos na era dos extremos” e da “modernidade líquida”, do fast-food, onde tudo é fluido e passageiro.
Deliberadamente, Ele quer o caos, por isso agita seus apoiadores, faz carreatas, come farofa em botequim, suja-se, faz motociatas, navega de Jet ski, faz churrascos, mantém seu cercadinho, vai às igrejas evangélicas, não importando os milhões de gastos nos cartões corporativos.
Ele se junta a esses grupos despolitizados e interesseiros, marcados por visões de que os adversários são a representação do mal e do diabo, são comunistas, reais destruidores da família e dos bons costumes.
O medo e crenças de grande parte de seguidores ofuscam suas visões, suficientes para não enxergarem que, o Bolsonaro não é bom exemplo de família ajustada e longe de ter sido um militar exemplar.
Ele construiu no imaginário dessas pessoas ser o enviado de Deus, o Batman destruidor do petismo pecador e do mal.
Sua atuação não permitirá a implantação do comunismo no Brasil e destruição dos valores da família e dos cristãos, diz o presidente.
Nessa perspectiva de gerar insegurança e medo a seus apoiadores, busca e alimenta a todos com constantes conflitos, nesse processo de medo dessa população ralé (conceito da filósofa, Hannah Arendt), incapacidade para pensar e buscar a verdade, o que faz seguir o desejo do chefe, porém bate no peito, destilando ódio, afirma que odeia política.
Assim, nesse contexto de terror e fascínio, o capitão presidente não governa sem que tenha sempre brigas e conflitos, ora com o Congresso, ora com o STF, com o TSE e as urnas eletrônicas, procurando mostrar a seus fiéis apoiadores, portadores de dissonância cognitiva, que está em seus limites de tolerância.
O presidente diz estar sob ameaças e que, há justificativa para usar o artigo 142 da Constituição Federal, que prevê, in casus, a Garantia da Lei e da Ordem, podendo até, decidir pelo Estado Sítio, o que ganharia poderes adicionais e excepcionais.
Não faço ilações e exageros, constato o desejo do presidente.
O capitão ainda não se deu conta de que perdeu terreno para sua estratégia mórbida e antidemocrática, que não engana aos atentos e, politicamente, politizados.
No momento de baixa nas pesquisas, ele fica na espreita para uma possível instabilidade social e política, enfim dar golpe nos poderes do Estado, não importando passar para história como profonador da democracia e do Estado Democrático de Direito.
Ele não irá demover de sua mente o doentio desiderato.
Acrescento: Quando falo, de suas intenções autoritárias e golpistas, a derrota do Trump, sendo apeado do poder nos USA, perdendo as eleições, o que foi providencial para a democracia no Brasil e em outros países.
Nesse quadro de insegurança, tumulto, o presidente diz: “Nesses 3 anos de meu governo não existe corrupção”. É mais uma afirmação patética do presidente, quer tapar o sol com peneira, em seu estilo de negar tudo. Mas os casos se repetem. Há dois dias, estourou a grave denúncia contra o ministro da educação, Ministro Milton Ribeiro e os pastores, vinculados à prática de propinas, com conhecimento e aceitação do presidente Bolsonaro. Sobre essa acusação, aguardemos o pronunciamento do presidente e demais acusados.
E agora, José?
JOSÉ MACEDO – Advogado, economista, jornalista e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.
Tribuna recomenda!
MAZOLA
Related posts
Editorias
- Cidades
- Colunistas
- Correspondentes
- Cultura
- Destaques
- DIREITOS HUMANOS
- Economia
- Editorial
- ESPECIAL
- Esportes
- Franquias
- Gastronomia
- Geral
- Internacional
- Justiça
- LGBTQIA+
- Memória
- Opinião
- Política
- Prêmio
- Regulamentação de Jogos
- Sindical
- Tribuna da Nutrição
- TRIBUNA DA REVOLUÇÃO AGRÁRIA
- TRIBUNA DA SAÚDE
- TRIBUNA DAS COMUNIDADES
- TRIBUNA DO MEIO AMBIENTE
- TRIBUNA DO POVO
- TRIBUNA DOS ANIMAIS
- TRIBUNA DOS ESPORTES
- TRIBUNA DOS JUÍZES DEMOCRATAS
- Tribuna na TV
- Turismo