Por Wladmir Coelho –
1 – A Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte – CDL/BH – lançou a campanha Juros Zero para “sensibilizar” os bancos públicos e privados a promoverem linhas de crédito sem juros para socorrer o setor produtivo fundamentando este pedido nos elevados lucros das instituições financeiras.
2 – A iniciativa do CDL/BH reúne alguns aspectos importantes manifestando o seu presidente, Marcelo de Souza e Silva, uma intenção em promover não somente um socorro ao comércio, mas ampliado à indústria apelando inclusive ao sentimento patriótico dos banqueiros.
3 – Esta campanha do CDL/BH representa uma iniciativa no mínimo diferenciada das elites econômicas revelando inclusive uma cisão entre as parcelas da burguesia descobrindo o setor comercial a sua condição nacional e desta a necessidade de revisão do processo de dependência econômica inequivocamente o passo seguinte de uma campanha como esta aspecto já experimentado na história.
4 – A Federação do Comércio de Minas Gerais, no início dos anos 50, elaborou a partir dos trabalhos do professor Washington Albino a Tese Mineira do Petróleo defendendo a estatização total da exploração petrolífera como forma de garantir os meios necessários ao desenvolvimento industrial autônomo e deste a ampliação do mercado interno. Neste ponto, permitam-me, vou acrescentar uma impressão do próprio autor da citada tese de quem fui aluno e sou discípulo a respeito do interesse da Federação na instituição do monopólio estatal do petróleo: “foi um ato de patriotismo.”
5 – Destaco o fato patriotismo considerando este a partir do entendimento da realidade nacional necessitando para sua concretização o rompimento com aspectos culturais considerando a condição da classe dominante brasileira de aliada ao imperialismo cuja principal característica é não fazer exigências revelando-se, desta forma, como subordinada, colonizada, ou melhor, uma espécie de delegada destes interesses no Brasil encontrando-se historicamente acostumada a simplesmente copiar tornando-se desta forma preguiçosa e incapaz de criar.
6 – A alienação cultural de nossa classe dominante oculta o entendimento da realidade social incluindo neste processo de alienação as forças repressivas notadamente seus chefes simbolizados de forma evidente na figura dos generais entreguistas e seus ritos ditos patrióticos na prática meios de legitimação da dominação imperialista.
7 – Esta elite consome não somente a Disneylândia, o hamburguer, a música, a roupa, mas embutido nesta condição não criativa encontra-se o pensamento da classe dominante imperial igualmente consumido nas formas de organização do trabalho, da educação, do acesso aos direitos sociais configurando esta limitação criativa existente nas classes dominantes do Brasil o distanciamento do entendimento das causas associadas a dominação externa impedindo uma reflexão e desta a elaboração clara de uma proposta de um projeto nacional de desenvolvimento econômico relacionando-se este ao necessário rompimento com a subordinação imperialista.
8 – A crise econômica detonada a partir da pandemia do COVID-19 surge neste momento como espécie de terremoto no centro econômico e fim do mundo na periferia surgindo deste quadro adequações do capital internacional agora muito mais violento com relação a destruição da mínima possibilidade de concorrência aprofundando, desta forma, a destruição de qualquer obstáculo a sua reprodução.
9 – Desta realidade surgem os bancos e fundos de investimentos internacionais em sua condição de portadores das dívidas acumuladas ao longo dos últimos anos através da especulação pura e simples resumidos na farsa da recompra dos papeis pelos próprios emitentes criando a euforia da cocaína dos cassinos também chamados de bolsas de valores.
10 – Para a continuidade deste jogo dos grandes do centro do capitalismo é necessário retirar da periferia o que for possível e mais um pouco criando nestes a correta sensação de morte naqueles setores, embora participantes da orgia das bolsas, necessitam, para este fim, continuar minimamente a produção e venda de seus produtos no atacado e no varejo.
11– O sistema bancário brasileiro, todo ele associado e dependente do internacional, recebeu seus trilhões de reais do sr. Paulo Guedes e pede mais, mais e segue enviando tudo ao exterior comprando os títulos da sede do império faltando aqui na terra o necessário para o financiamento da produção e vendas no comércio.
12 – A elite colonizada agora começa a perceber que não passa disso e desesperada ensaiou o apoio aos pequenos e endividados da classe média através de carreatas da morte com frases amparadas no velho e conhecido racismo, mas percebeu o quanto era ridículo salvar de uma crise internacional a economia brasileira através da venda de ovos de páscoa ou abertura dos botequins.
13 – Neste momento a elite nacional – ou seu segmento produtivo e comercial – começa a perceber a necessidade de rompimento com seus irmãos do setor financeiro utilizando para este fim um discurso ainda tímido da redução dos juros ou apelar ao patriotismo como forma de salvar a economia nacional.
14 – Surgem aqui duas questões a primeira diz respeito ao necessário rompimento com o discurso colonizado da desregulamentação do setor financeiro exigindo a presença do Estado não somente não somente em sua condição de doador de recursos do trabalhador aos bancos ao modo do modelo defendido pelos srs. Guedes e Bom Rapaz Maia, mas responsável pelo planejamento econômico e deste da produção algo próximo, principalmente nestes tempos de crise aguda, de uma economia de guerra entendendo esta à necessária planificação da economia.
15 – O segundo refere-se a superação do conceito de patriotismo associado a reprodução da defesa dos interesses imperialistas e legitimação da prática da subordinação cultural exigindo, esta atitude, a valorização da criatividade através do financiamento público da pesquisa e inovação tecnológica, da garantia dos recursos do povo às escolas e universidades públicas, a garantia dos direitos sociais incluindo o trabalho e introdução de instrumentos democráticos, incluindo a representação dos trabalhadores, no processo de elaboração do planejamento econômico.
16 – A elite econômica brasileira sonhou até ontem em viver de renda em confortáveis mansões de papelão e gesso em Miami, contudo a forma de exploração do imperialismo sofre alterações implicando em necessária resposta de cunho soberano e intervencionista constituindo este fato em verdadeiro rompimento com a velha e carcomida fórmula imperialista.
WLADMIR COELHO – Professor do Instituto de Educação de Minas Gerais – IEMG, superintendente de juventude da SEE-MG, editor do blog Política Econômica do Petróleo e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.
MAZOLA
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