Por Wilson de Carvalho

Seria capaz de morrer pelo Vasco, conforme dizia. Ninguém o superou na defesa dos interesses de um clube. Fosse ele qual fosse. Como vice-presidente de futebol, ao lado do presidente Antonio Soares Calçada, comandou a conquista da Libertadores.

Na presidência, fez do Vasco o clube de todos os esportes, levando mais de 100 atletas para as Olimpíadas no Canadá e prometendo uma delegação superior à do próprio Comitê Olímpico Brasileiro, para a Austrália. Contratou os melhores em todas as modalidades, metade da seleção brasileira de voleibol, inclusive, e até Rodrigo Pessoa, campeão mundial de hipismo, e Vargas, da NBA, com participação em um torneio em Milão, sagrando-se vice-campeão.

Projetou a reforma do estádio de São Januário para transformá-lo no mais moderno da América Latina. Sob as arquibancadas, centenas de atletas praticavam esportes com uma escola-modelo e um mini-hospital, à disposição. Promoveu a compra de várias casas no entorno do estádio, algumas transformadas em alojamentos de garotos da base. Além de ter aumentado a área de todo o complexo, com mais vagas no estacionamento, quadras polivalentes e um ginásio.

Perfeccionista, queria sempre o melhor. Detalhista, poucos perceberam, mas o Vasco jogava com os números tradicionais nas camisas, de 1 a 11, longe da bagunça amparada pela própria FIFA, a exemplo, aliás, dos próprios uniformes. Era assim o Vasco de Eurico Miranda, um arrogante, polêmico, sim, mas de um coração enorme, transparente, franco. Incansável. Em geral, mal interpretado. Desejado até pelos inimigos no desespero para salvar os seus clubes nos momentos mais difíceis.

Apaixonado ao extremo pelo Vasco, foi pessoalmente ao Jornal dos Sports para obter o fotolito da página de minha autoria sobre o Centenário do clube. Reproduziu dezenas de cópias e as enviou para clubes e amigos em todo o mundo. Chegou a me perguntar como eu podia escrever sobre o Vasco como se também fosse um torcedor vascaíno e não do América. “Sou jornalista. Temos que saber escrever sobre tudo e todos”, disse-lhe.

Convivi com ele exatamente nessa fase, editando a revista do Vasco, com apoio da Editora M4 e as fotos de Ari Gomes, durante quase três anos. Era a melhor revista de clubes, conforme dizia e exigia. Pena que o Vasco perdeu o patrocínio do National Bank, devido aos altos custos do fantástico sonho para transformar o Vasco imbatível em tudo e todos os esportes.

Curiosamente, o último jogo do Vasco que assistiu, pouco antes de morrer em 2019, foi um empate  contra o Flamengo. Só não pôde comemorar uma vitória, para ele, sempre com o sabor de decisão e conquista de título sobre o inimigo número um. Descanse em paz, Eurico Miranda, personagem incompreendido, amado e odiado e bem diferente da imagem que deixou para os que não o conheceram de perto. Ou apenas por ouvir dizer.


WILSON DE CARVALHO – Jornalista, ex-secretário da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e colunista do Jornal Tribuna da Imprensa Livre