Por Daniel Mazola –
Com audiências de números impressionantes, obtidas a partir de um conteúdo relacionado à violência, os programas de televisão, da mídia corporativa, que veiculam o chamado jornalismo policial exercem um forte impacto sobre seus telespectadores. Para compreender como se dá esse processo de influência social resultante da exposição sistemática à criminalidade na mídia, Davi Romão desenvolveu a dissertação de mestrado Jornalismo policial: indústria cultural e violência, apresentada no Instituto de Psicologia da USP.
Durante cinco anos de pesquisa, a qual envolveu a leitura de uma ampla bibliografia sobre o tema e a análise de edições dos programas Brasil Urgente, Cidade Alerta e Balanço Geral, o estudo examinou a construção dessas atrações, feita sobre três pilares comuns: os clichês, o discurso autoritário e o sensacionalismo. Os programas de jornalismo policial, a partir do uso de estereótipos, posicionam-se como referências na temática da violência e adotam uma estratégia de cunho apelativo para envolverem os telespectadores, método que contribui para enraizar nas pessoas a perspectiva de que estão constantemente rodeadas pela ameaça da criminalidade.
Essa estrutura resulta em uma abordagem superficial da violência e revela aspectos importantes a respeito da sociedade brasileira. “A grande audiência desses programas se deve ao fato de que nossa sociedade tem uma cultura autoritária, violenta, moralista e incapaz de fazer análises políticas e sociais minimamente profundas”, segundo Romão.
Paranoia e conformismo
Outros resultados da construção desses programas são o estímulo, na sociedade, de um sentimento de conformismo e de uma relação de paranoia com a realidade, a qual se deve, principalmente, ao formato adotado por essas atrações, que fazem uso do medo para a construção de seu conteúdo. Para Romão, esse é um dos problemas mais graves desse tipo de programa e é uma questão que deveria ser pensada atentamente.
“Precisamos refletir sobre como essa maneira paranoica de lidar com a violência, presente nesses programas e, certamente, disseminada no imaginário social, é nociva para todos os envolvidos, inclusive as vítimas imediatas da violência”, ressalta. Outro efeito promovido por essas atrações é a repulsa em relação ao criminoso, visto que o discurso usado pelos programas incita o ódio dos telespectadores em relação aos infratores, o que contribui para a consolidação de estereótipos e atrapalha o processo de ressocialização daqueles que passaram pelo sistema penitenciário.
No entanto, é curioso perceber que, antes de qualquer coisa, essas atrações representam uma violência contra a própria população. “Esses programas são desrespeitosos com os cidadãos. Antes de fazer a pesquisa, já conhecia a estrutura básica deles, mas nunca os acompanhei. No entanto, no processo de pesquisa, foi terrível ver como os apresentadores, de modo geral, se dão permissão para serem absolutamente grosseiros com os entrevistados, os suspeitos, as vítimas, e, inclusive, com a própria equipe dos programas”, observa.
“É uma tristeza ver que esse grau de desrespeito pelo outro pode ser algo valorizado na nossa sociedade, pode ser algo que faz com que esses apresentadores construam a imagem de ‘autoridades’ “.
Diariamente nos depararmos com matérias “jornalísticas” que ferem a ética e maculam a imagem dos profissionais de Comunicação. Sobretudo quando se está assistindo Televisão, especialmente os “programas policiais”, ou navegando em portais de notícia na grande rede. Mais o cerne do problema estará longe de ser solucionado, porque reside na carência ética e moral a qual o Jornalismo brasileiro vive.
No ramo jornalístico sempre tivemos “profissionais” que desonram a profissão, é perceptível que ainda há “picaretas” atuando como jornalistas, seja no jornalismo de mercado ou nos jornais de bairro, bem como há pessoas graduadas academicamente e habilitadas em Jornalismo que não agem de forma condizente à sua formação. Prejudicando todos nós.
Por fim, é principalmente na chamada “grande mídia”, que questões éticas relacionadas aos jornalistas são deixadas de lado por patrões e chefias, porque não atraem a tão desejada e necessária AUDIÊNCIA, não geram acesso e lucros fabulosos, não aumentam pontuação do Ibope.
Até quando?
***
*Com informações do Instituto de Psicologia da USP – Publicado originalmente dia 14/01/2014 no site da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e Tribuna da Imprensa Sindical.
DANIEL MAZOLA – Jornalista profissional (MTE 23.957/RJ); Editor-chefe do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Consultor de Imprensa da Revista Eletrônica OAB/RJ e do Centro de Documentação e Pesquisa da Seccional; Membro Titular do PEN Clube – única instituição internacional de escritores e jornalistas no Brasil; Pós-graduado, especializado em Jornalismo Sindical; Apresentador do programa TRIBUNA NA TV (TVC-Rio); Ex-presidente da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI); Conselheiro Efetivo da ABI (2004/2017); Foi Assessor de Imprensa da Federação Nacional dos Frentistas (Fenepospetro) e do Sindicato dos Frentistas do Rio de Janeiro (Sinpospetro-RJ); Vice-presidente de Divulgação do G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira (2010/2013); Editor do jornal FAFERJ (Federação das Associações de Favelas do Estado do RJ); Editor do jornal do SINTUFF (Sindicato dos Trabalhadores da Universidade Federal Fluminense-UFF); Editor do jornal Folha do Centro (RJ); Editor do jornal Ouvidor Datasul (gestão empresarial e tecnologia da informação); Subeditor de política do jornal O POVO; Repórter do jornal Brasil de Fato; Radialista e produtor na Rádio Bandeirantes AM1360 (RJ).
MAZOLA
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