Por Siro Darlan –
O Flamengo, assim como o mundo dos esportes é um ambiente eminentemente machista.
Por essa razão o Movimento político Fla-Tradição & Juventude que representa a volta do Flamengo para os braços do povo, e pleiteia um acesso mais democrático a custos accessíveis dos torcedores mais pobres a seus ídolos, através de ingresso mais baratos e compra do Manto Sagrado a preços que permitam assalariados vestirem, coerente com seu compromisso de igualdade e democratização, lança o FLAMIGAS, sob o comando de uma das mais valorosas torcedoras do Flamengo a Dra. Amira Sharif.
O FLAMIGAS pretende resgatar a dignidade da mulher rubro negra ainda muito pouco valorizada pelas administrações rubro-negras, muitas delas responsáveis por inúmeras conquistas no campo esportivo e por tantas glorias de nossa Nação. Recordemos algumas dessas valorosas mulheres:
1 – Gazela Negra – Érica Lopes
Uma das grandes atletas da história rubro-negra, além de maior estrela do atletismo do clube. Conquistou o bicampeonato estadual feminino em 1960 e 1961, além dos troféus Brasil 1962 e 1965. Quebrou recordes nos 100 e 200 metros rasos. Voltou ao clube para atuar como treinadora da modalidade em 1974, onde permaneceu até 1990. É citada no samba enredo da Estácio de 1995, que homenageou o centenário do Flamengo. Tem seu nome gravado na calçada da Fama do Flamengo. Erica afirmou numa entrevista que “Comecei a tomar aquele amor, aquela paixão (pelo Flamengo), ao ponto de morrer a minha irmã, eu tinha que ir para Porto Alegre para o enterro. Mas no dia seguinte tinha um campeonato que Flamengo sonhava em ganhar, o Troféu Brasil. Deixei de ir ao enterro, estava triste, chorando e venci todas as provas, e o Flamengo foi campeão”.
2 – Isabel Salgado
A jogadora chegou ao Flamengo com apenas 12 anos, após ser vista pelo treinador Ênio Figueiredo jogando pelo Colégio Notre Dame de Ipanema. Conquistou os títulos brasileiros de 1978 e 1980, além do sul-americano de 1981. Defendeu a seleção brasileira na Olimpíada de Moscou, em 1980. Na temporada 1999/2000, treinou a equipe feminina na Superliga. Isabel Salgado atuou como jogadora e treinadora do Flamengo. Seus primeiros passos no esporte foi com o Manto Sagrado, nos anos 70. Três títulos simbolizam a grandiosidade de Isabel no clube: foi bicampeã brasileira (1978 e 1980) e campeã sul-americana (1981).O desempenho no Flamengo permitiu a jogadora também brilhar pela Seleção.
3 – Patrícia Amorim
Patrícia Amorim chegou ao Flamengo em 1977, onde conquistou 28 Campeonatos Brasileiros nos 200, 400, 800 e 1500 metros livres. Quebrou 29 recordes sul-americanos entre 1983 e 1989, os dois primeiros batidos quando Patrícia tinha apenas 14 anos. Na Olimpíada de Seul, em 1988, superou os recordes sul-americanos de 200 e 400 metros. Foi a primeira presidenta da história do clube. Os esportes olímpicos foram destaque com Patrícia na presidência, com o Flamengo vencendo 33 medalhas nos jogos Pan-Americanos de 2011.
4 – Jackie Silva
Jacqueline Silva também chegou ao clube depois de Ênio Figueiredo vê-la jogando no Colégio Notre Dame, quando tinha nove anos. Conquistou cinco cariocas na base, um campeonato nacional, em 1980, e um sul-americano, em 1981. Em 1996, já no vôlei de praia, entrou para a história quando ela e a parceira Sandra se tornaram as primeiras mulheres brasileiras a conquistarem um ouro olímpico.
5 – Daniele Hypólito
Nascida em Santo André em 1984, chegou ao Flamengo com apenas 10 anos como contratada, algo inédito no Brasil. Conquistou seu primeiro campeonato nacional com 12 anos. Estreou em uma Olimpíada com 15. Foi a primeira ginasta brasileira a conquistar uma medalha em um Mundial. Ao todo, foram cinco participações olímpicas e dez medalhas em Pan-Americanos. Pelo Flamengo, conquistou diversos campeonatos brasileiros.
6 – Rebeca Andrade
Com apenas 24 anos, Rebeca Andrade já carrega o título de maior ginasta da atualidade, ao lado de Simone Biles. A atleta chegou ao Flamengo com apenas 11 anos e foi lapidada pelo maior clube do Brasil. A galeria de medalhas de Rebeca já conta com ouro e prata olímpico (Tóquio 2020), além de dois ouros e duas pratas em Pan-Americano (Santiago 2023). Maior medalhista da história do Brasil, Rebeca Andrade foi a atleta do país que mais faturou com seu desempenho nas Olimpíadas de Paris. A ginasta recebeu, ao todo, R$ 826 mil em premiação do Comitê Olímpico do Brasil (COB), graças às quatro medalhas conquistadas na capital francesa – um ouro, duas pratas e um bronze. Fora do tatame, Rebeca Andrade também é engajada com programas de valorização a mulher no esporte.
7 – Fabi (Fabiana Alvim)
Uma das maiores jogadoras de vôlei da história, Fabiana Alvim, a Fabi, também deixou sua marca no Flamengo. A líbero deu seus primeiros passos no esporte na Gávea, ainda na década de 90. Depois de passar pelo Macaé, em 98, Fabi voltou ao Flamengo para ganhar títulos com o Manto Sagrado, incluindo Campeonato Brasileiro de Voleibol Feminino, Copa do Brasil e Torneio Internacional. Pela Seleção, não foi diferente: a cria da Gávea foi bicampeã olímpica em 2008 e 2012.
8 – Rafaela Silva
Na luta, o maior nome do Flamengo na atualidade é de uma mulher. Rafaela Silva é o grande potencial no Judô, outra atleta que também já faturou ouro olímpico (Rio 2016). A judoca está na Gávea desde 2021. Rafaela mostrou que nem as consequências pesadas do antidoping e os dois anos afastadas do esporte foram capazes de pará-la. Em 2022, a judoca pode voltar aos tatames e logo de cara se consagrou campeã mundial do peso leve. Em 2023, mais uma demonstração de força e determinação: faturou também o ouro no Pan de Santiago.
9 – Berta Duarte
Apesar de aparecer pouco no imaginário do torcedor rubro-negro, Berta Duarte teve um papel importantíssimo no Flamengo. Entre as décadas de 50 e 60, época em que era impossível imaginar uma mulher envolvida nos esportes, Berta atuava organizando e dirigindo as modalidades do clube. Ela, inclusive, foi madrinha do time tricampeão carioca em 1953, 1954 e 1955. Nos esportes olímpicos, Berta Duarte esteve na linha de frente do Vôlei e Basquete Feminino.
10 – Virna Dias
Assim como Fabi e Isabel, Virna Dias está na prateleira das maiores jogadoras de vôlei da história do Brasil. Ela surgiu pelo Bradesco/Atlântica, fez seus primeiros jogos pela Seleção em 1988 e chegou ao Flamengo em 1999, ficando até 2001. Na Gávea, Virna levantou o título mais importante da carreira: a Superliga Feminina de Vôlei, em 2000/2001. A final foi decidida em clássico entre Flamengo e Vasco, com o Mengão ganhando no tie-break. Virna também levou para casa o prêmio de melhor jogadora da final.
11 – Rosicleia Campos
Rosicleia tem uma vida intensa de trabalhos dedicados ao Flamengo. Como atleta, a judoca defendeu o Flamengo por 15 anos, participando das Olimpíadas de 1992 e 1996. Após se aposentar do tatame, Rosicleia Campos decidiu iniciar a carreira de treinadora. Foram mais de 20 anos também como técnica da Seleção, de 2005 até 2021. Nesse período, a ex-lutadora venceu o importante Prêmio Brasil Olímpico, que a escolheu como melhor técnica do Brasil entre todas as modalidades olímpicas. Hoje em dia, Rosicleia continua a frente do Judô Feminino rubro-negro.
12 – Maria Lenk
A histórica nadadora Maria Lenk é o maior nome da Natação feminina do Brasil. Seus feitos a colocaram no Hall da Fama dos Esportes Aquáticos, sendo a única mulher brasileira a conseguir essa conquista. Vestindo o traje do Flamengo, Maria Lenk foi pioneira em diversos momentos. Entre 1932 e 1935, venceu seus primeiros títulos: o tetracampeonato da Travessia de São Paulo a Nado. Lenk se tornou a primeira mulher sul-americana a competir em Olimpíadas, quando participou dos Jogos de Los Angeles, em 1932. Ela também foi a pioneira na introdução do nado borboleta, que atualmente é uma das provas da Natação nas Olimpíadas. O ícone do esporte morreu aos 92 anos, em 2007, após nadar na piscina do seu clube do coração.
14 – Georgette Vidor
Georgette é coordenadora de ginástica artística do Flamengo. Ela é a responsável por preparar as mulheres de uma das modalidades mais vencedoras do clube nos últimos anos. E sua história na Gávea começou há muito tempo, em 1980. O Flamengo contratou Georgette Vidor quando ela tinha apenas 22 anos, mas já contava com uma experiência e estudo aguçado para a função de treinadora. Ela se afastou do clube em 2004 e retornou em um cargo superior há quatro anos. Além do trabalho notável na Ginástica, Georgette também é voz importante na luta PcD (Pessoa com Deficiência). A treinadora sobreviveu a um grave acidente de ônibus em 97 e ficou paraplégica.
Mas não foi só no campo das atletas que as mulheres se destacaram, apesar do patriarcado que ainda domina o Flamengo, tivemos aa primeira mulher dirigente de Clube de Futebol do Brasil. Virginia Luiza Ferraz Goulart ou Virginia Goulart ou Virgininha, era filha do famoso goleiro da copa de 38, Walter Goulart e de Léa Goulart, benemérita do Flamengo, considerada a “ministra sem pasta”, pois trabalhava por amor ao clube, sem ter nunca tido um cargo na diretoria.
No final da década de 50, o compositor de “Aquarela do Brasil” e ” Na baixa do sapateiro” Ary Barroso, convidou a menina Virginia para ser sua diretora social. Ary, à época era o vice-presidente social do Clube de Regatas do Flamengo. Aliás, essa história está no livro ” No tempo de Ary Barroso” do saudoso biógrafo e jornalista Sérgio Cabral (pai).
Na década de 60, as mulheres estavam em busca de igualdade de direitos, de salários e de decisão. Foi uma época em que, pela primeira vez, as mulheres passaram a se questionar e a querer participar de coisas que estivessem fora do universo do lar.
E, visionária e acertadamente, um dos melhores e maiores presidentes do Flamengo de todos os tempos, o empresário Fadel Fadel (foto abaixo) escolhe a jovem professora Virginia Goulart, para ser a vice-presidente social em sua gestão na década de 60 e, assim, o Flamengo se tornou o primeiro clube de futebol a dar cargo de dirigente a uma mulher. A mulher de Vicente Matheus, Presidente do Corinthians Paulista, Marlene Matheus, tida como a primeira mulher a ser dirigente de um clube, so sucedeu o marido no de 1991/1993. Portanto, cabe a Virginia Goulart esse título de primeira mulher dirigente de um clube de futebol.
Como vice-presidente social, Virginia conseguiu obter lucro para o clube com os bailes de carnaval nas sedes velha (Praia do Flamengo) e nova (Morro da Viúva). Antes, os bailes de carnaval eram conhecidos como antros de brigas de torcidas. Qual a solução de Virginia? Convidar cada chefe de torcida “brigão” para ser segurança do baile. E não é que deu certo? Gestão de clube de futebol se faz compartilhando com os torcedores.
Em sua gestão como presidente, Fadel transfere as atividades administrativas do Flamengo para a Gávea. Em 8 de dezembro de 1963, (adiada do dia 22 de novembro em razão do assassinato do Presidente John Kenedy) Virginia convida o filho do presidente João Goulart, o menino rubro-negro João Vicente para inaugurar a piscina social do Flamengo. O projeto da piscina idealizado pelo arquiteto João Khair ganhou medalha de ouro nos Estados Unidos por sua beleza e modernidade e, em 1965, Fadel inaugura a piscina olímpica, montando o melhor parque aquático do Rio de Janeiro, na época.
Ouvido, o filho do Presidente João Goulart, João Vicente declarou: “Mas era sim flamenguista doente, ao ponto de que quando o Brasil ganhou a Copa do Chile e o pai recebeu a seleção na Granja do Torto, recusei uma flâmula do Santos que o Pelé me deu por ser Flamenguista. Sou carioca de nascimento e flamenguista por lembrança”.
Muitos artistas rubro-negros como Elizeth Cardoso, Cauby Peixoto, Miltinho, a convite de Virginia Goulart, passaram pelo salão nobre da sede nova do Flamengo. Faziam os shows e cobravam apenas um cachê simbólico. Afinal, eles estavam cantando na sede do clube do coração.
Virginia Goulart conseguiu superar o preconceito e as críticas e abriu portas para que outras mulheres pudessem ocupar uma cadeira na direção de um clube de futebol até então só ocupada por homens.
Virginia foi pioneira. O Flamengo foi pioneiro.
E como disse certa vez o renomado arquiteto João Khair: “quisera ser imortal para viver a glória eterna do Flamengo”.
Vivam as mulheres! Viva o Flamengo! Viva a FLAMIGAS!
SIRO DARLAN – Advogado e Jornalista; Editor e Diretor do Jornal Tribuna da imprensa Livre; Ex-juiz de Segundo Grau do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), aposentado compulsoriamente por conceder benefício a preso em risco de vida, que uma vez preso faleceu nas grades da crueldade estatal; Especialista em Direito Penal Contemporâneo e Sistema Penitenciário pela ENFAM – Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados; Mestre em Saúde Pública, Justiça e Direitos Humanos na ENSP; Pós-graduado em Direito da Comunicação Social na Universidade de Coimbra (FDUC), Portugal; Coordenador Rio da Associação Juízes para a Democracia; Conselheiro Efetivo da Associação Brasileira de Imprensa; Conselheiro Benemérito do Clube de Regatas do Flamengo; Membro da Comissão da Verdade sobre a Escravidão da OAB-RJ; Membro da Comissão de Criminologia do IAB. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.
AMIRAH SHARIF é jornalista, advogada, protetora dos animais, colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre e fundadora da Flamigas.
asharif@bol.com.br
Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
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