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Uma lei para chamar de minha – por Kakay
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Uma lei para chamar de minha – por Kakay

Por Kakay

“Tem mais presença em mimo que me falta.” (Manoel de Barros)

Em uma sociedade que se pretenda civilizada, é necessário cumprir certas leis de convivência. O cidadão não pode viver seguindo regras próprias que atentam contra o que regem as normas civilizatórias. Durante a campanha eleitoral, presenciamos certos abusos teratológicos. Candidatos que se portavam como se as pessoas fossem obrigadas a acompanhar as mais deslavadas mentiras e promessas sem nenhum fundamento com a realidade. Mesmo com todo o risco que corremos com figuras escatológicas, como o Pablo Marçal, as eleições servem como um termômetro para acompanhar o que acontece no país.

As eleições municipais refletem, de alguma maneira, o que as pessoas pensam e querem para o dia a dia nas suas cidades. E tem um perfil diferente da eleição para Presidente da República. É uma espécie de eleição caseira. Os indivíduos se comportam, em muitos casos, como se fossem vizinhos. Aparecem pedindo votos o “Zé da Mercearia”, a “Maria Costureira”, o “Alemão do Gás” e o “100 Miséria”. São eleições importantes e fundamentais para o cotidiano do eleitor.

É claro que, em uma cidade como São Paulo, com 9,3 milhões de eleitores e o terceiro maior orçamento do país, a pegada é um pouco diferente e os interesses nacionais estão postos no tabuleiro. A cidade teve 1.016 candidatos a vereador e 10 ao cargo de prefeito. A capital é o quinto maior eleitorado do país e o estado o maior, com 34,6 milhões de eleitores. Por isso, os candidatos com projeção nacional se empenham para mostrar força e poder. Muitas vezes, com medo de perder, optam por não se exporem tanto, mas tudo faz parte de uma estratégia.

Nas eleições de 6 de outubro, a grande mídia parecia tratar quase só da eleição de São Paulo. Com isso, mesmo quem mora em Brasília – onde não existe eleição para prefeito ou vereador –acompanhou, meticulosamente, o que acontecia na capital paulista. E o fenômeno Pablo Marçal ultrapassou muito as barreiras do município. Virou uma questão nacional. Até onde o “pode tudo” deve imperar para se chegar ao poder? Existe algum limite que possa, de certa forma, preservar o Estado democrático de direito, ou o vale-tudo é a regra? A mentira, a agressividade, o baixo nível e o engodo estão liberados e nada pode conter a manipulação escancarada?

Este é um momento bom de reflexão, entre o primeiro e o segundo turno das eleições. De certa maneira, foi muito bom que a Justiça Eleitoral, agindo aqui e ali, não tenha cassado o direito de candidatura do Pablo Marçal. Tivesse sido impugnado, seria um mártir e teria um discurso de que tiraram dele a prefeitura. Disputou e perdeu. Mas isso não significa que devemos passar uma borracha em tudo o que ele fez durante a campanha. Com seus 1.719.274 milhões de votos, 28.14% do eleitorado, o candidato se habilitou para outros voos em eleições futuras. Parece evidente que a Justiça Eleitoral, e mesmo a criminal, precisam prestar contas à sociedade.  Não é uma questão de perseguir quem quer que seja. Trata-se de uma questão civilizatória e de justiça.

A investigação sobre os métodos de se fazer campanha deve ser levada a efeito de maneira técnica e isenta. Senão, terá valido a pena abusar e cometer inúmeros atos ilegais, e até criminosos, para se habilitar em eleições futuras. Com a monetização que ocorre hoje, nas redes sociais, os abusos podem servir para ganhar dinheiro e popularidade.

Daqui a 2 anos, teremos eleições nacionais para Senado, Câmara Federal, legislativos e governos estaduais e Presidência da República. Quem usou e abusou de uma campanha criminosa, mesmo perdendo, deve ser responsabilizado. Não é possível, em um Estado democrático de direito, que o acúmulo de erros propositais possa, ao final, significar uma vantagem para as próximas eleições.

Por isso, talvez nessa campanha municipal, a maioria dos candidatos não apresentaram nenhuma proposta para governar a cidade. Proposta séria, ao que parece, não dá votos. A aposta é nas mentiras, nos laudos falsos e na agressividade vulgar. Para os que ganham com o caos, faz-se necessário o olhar atento do Ministério Público, da Polícia Federal e do Judiciário.

O eleitor civilizado agradece, lembrando Churchill: “Atitude é uma pequena coisa que faz uma grande diferença.”

ANTÔNIO CARLOS DE ALMEIDA CASTRO, o Kakay, tem 67 anos. Nasceu em Patos de Minas (MG) e cursou direito na UnB, em Brasília. É advogado criminal e já defendeu 4 ex-presidentes da República, 80 governadores, dezenas de congressistas e ministros de Estado. Além de grandes empreiteiras e banqueiros.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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