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Encontros amorosos no supermercado, ou, o abacaxi de cabeça para baixo – por Sérgio Vieira
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Encontros amorosos no supermercado, ou, o abacaxi de cabeça para baixo – por Sérgio Vieira

Por Sérgio Vieira

Portugal / Europa – Séc. XXI.

Sinceramente, todos os dias sou confrontado com novos e bizarros acontecimentos tendo sempre como palco as chamadas redes sociais. (redes sociais estas, que heroicamente vou evitando ter).

Desta vez foi no Tik Tok. E mesmo com a minha provecta idade, confesso que ainda me surpreendo com a anormalidade que inunda as ditas redes sociais.

Esta estória tem como pano de fundo a rede espanhola de supermercados Mercadona. Sempre duvidei da seriedade do marketing agressivo das marcas conceituadas. Ou melhor, duvido que este insólito caso tenha surgido assim…espontaneamente. Huummm, duvido!

Bem, as coisas se desenrolam da seguinte forma: Os protagonistas são os próprios clientes. Entre as 19 e 20:00 hrs, se deslocam até ao Mercadona mais próximo, empurram seus carrinhos de compras com um, digamos…sinal. Sinal este que consiste em levar no carrinho de compras um abacaxi de cabeça para baixo.

Os potenciais candidatos aos encontros amorosos caminham por entre as fileiras aonde estão expostos os vinhos, tentando encontrar alguém que esteja também empurrando um carrinho com a mesma sinalética. Ou seja, o abacaxi de cabeça para baixo.

Depois de um premeditado toque/esbarrão no carrinho da outra pessoa, isso serve como um chamado, e a partir daí se desenvolve (ou não) o diálogo.

Tudo começou com a atriz espanhola Vivy Lin num vídeo do Tik Tok.

Em menos de uma semana o vídeo já possuía cerca de 1,5 milhões de visitas e levou mesmo muitas e muitas pessoas ao Mercadona entre as 19 e 20:00 hrs. Embora Vivy Lin, diga que tudo não passou de uma brincadeira que se tornou viral.

Se no lugar do abacaxi, estiverem legumes embalados, procura-se uma pessoa para um relacionamento sério. Chocolates, por sua vez, indicam um encontro mais casual.

Nas redes sociais multiplicam-se os memes e os relatos de quem já tentou a sorte amorosa com hora e lugar marcado. Encontrar o amor no supermercado é por enquanto uma tendência espanhola, mas também já chegou aos Mercadona(s) portugueses.

Tornando-se o assunto do momento, essa rede de supermercados aproveitou o impulso e se destaca dos demais hipers na península ibérica.

Outra rede de supermercados (Lidl), publicou desde logo uma imagem onde parece querer aludir à “fidelidade” dos clientes. “Você pode ter encontro onde quiser, mas casar é aqui”. E acrescenta: “podem vir…também temos abacaxis, bananas, chocolates, legumes e donuts”.

Dentro do possível, vou resistindo à essa maré fútil de fofoca que emana das redes sociais. Não critico quem as tem, mas não consigo ver algo de útil e sério nas mesmas.

Numa reflexão um pouco mais aprofundada, vejo o fútil, o banal, a promiscuidade, o rocambolesco e a desvalorização do próprio ser humano quando dedica demasiado tempo a essas coisas.

Neste ano de 2024, a minha cidade é capital portuguesa da cultura, e tem um extenso calendário de atividades, passando por teatro, cinema, fotografia, dança, exposições…enfim, um leque imenso de ofertas culturais. Tenho desde o início do ano já contabilizado na minha agenda pessoal ter visto já umas boas dezenas de espetáculos e/ou manifestações culturais. Isto, para dizer que tenho mais com que me entreter e preocupar sem ser atualizar o meu perfil nas redes sociais.

É um fato consumado e constatado por mim. Às duas últimas gerações falta o poder da comunicação e o desenvolvimento para atividades que requeiram alguma sensibilidade artística. Noto nesta nova geração uma capacidade imensa no domínio das novas tecnologias, e aqui falamos do Q.I propriamente dito. Mas falta o poder da comunicação verbal. É para eles muito complicado o simples fato de socializar.

Vemos diariamente, jovens em grupos de 3,4, 5 ou mais, cada um agarrado ao seu celular, e vivendo cada qual no seu mundo completamente alheios ao que se passa ao seu redor. No mundo das redes sociais, com um olhar mais atento ao fenômeno, vemos os tais “influencers”, que nada mais são do que produtos fabricados pelo próprio fenômeno das redes.

Quantos de nós já não assistimos pais que para não serem digamos… chateados em alguma situação social, dão para as inocentes mãos dos filhos de tenra idade o seu próprio celular. Isso sem falar naqueles que com poucos anos de idade já possuem o seu próprio aparelho.

Há de tudo no (in)fértil mundo da Internet. As redes sociais, nada mais são do que um produto mal acabado de uma pseudo-educação.

Recentemente fui “convidado” a abrir uma conta no Instagram, para ter acesso a um conteúdo educacional que sigo. Pois bem, tirando essa finalidade lúdica, não faço minimamente a ideia de como se mexe naquilo. Alguns dirão que nesse assunto sou “marginal”. Discordo. Sou à margem. Orgulhosamente à margem.

Voltando e finalizando com o caso do abacaxi de cabeça pra baixo, prestarei bastante atenção à minha próxima ida ao supermercado, não vá a fruta erótica se encontrar “upside down” no meu carrinho de compras e um estranho (ou estranha) abalroar o meu “veículo”.

SÉRGIO VIEIRA é colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre, representante e correspondente internacional em Aveiro, Portugal. Jornalista, bancário aposentado, radicado em Portugal desde 1986.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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