Redação –
O voto que o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, levou mais de quatro horas para proferir na quarta-feira (dia 20) deixou todo mundo confuso porque estava em “javanês”, segundo o comentário maldoso do ministro Luís Roberto Barroso.
Vale ressaltar a presença inesperada, em ambiente tão oficial e pomposo, do carioca Lima Barreto (1881-1922), nosso maior exemplo de escritor antioficial.
LIMA BARRETO – A língua malaio-polinésia falada na ilha de Java, na Indonésia, virou na cultura brasileira sinônimo de idioma incompreensível graças ao conto “O homem que sabia javanês”.
Nessa peça cômica, Lima Barreto conta como um picareta chamado Castelo, vendo-se endividado e sem tostão, decide se passar por especialista numa língua da qual nada sabe a fim de tomar dinheiro de um barão decrépito.
A sorte do sujeito é que, num “Brasil imbecil e burocrático”, ninguém sabe javanês, mas tem um respeito enorme por quem finge saber. O malandro vira glória nacional, com direito a um belo emprego público e convite para almoçar com o presidente da República.
Não se sabe se Barroso pretendeu levar tão longe o paralelo entre Toffoli e Castelo.
NOTAS EXPLICATIVAS – De todo modo, com a ajuda das notas explicativas que o presidente do STF se viu obrigado a colar no pé do seu voto, a fim de dirimir as dúvidas levantadas pelos colegas, é razoável concluir que Toffoli compartilha nesse episódio pelo menos uma característica com o personagem de Lima Barreto: o jeitão elusivo, certa sinuosidade escorregadia.
Não a sinuosidade de quem não sabe o que está falando, como o malandro de um século atrás, mas a de quem deseja afirmar alguma coisa (a constitucionalidade do compartilhamento de dados sigilosos dos cidadãos com o Ministério Público, sem a necessidade de ordem judicial) sem que a afirmação chame demasiada atenção para o fato de que derruba liminar expedida por ele mesmo em julho.
COMPLEXIDADE – O STF, como todo o Judiciário brasileiro, cultiva por sobre a complexidade natural da matéria um juridiquês denso, palavroso, floreado e hermético.
Esse é um problema linguístico-social que já começa a ser entendido assim por muita gente da área, por distanciar o cidadão da compreensão do que ali se decide e fazer o país perder tempo.
O problema é que uma boa medida de obscuridade parece ser parte desejável das regras do jogo. Mesmo para os padrões nacionais, porém, Toffoli pode ter se excedido.
O voto que o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, levou mais de quatro horas para proferir na quarta-feira (dia 20) deixou todo mundo confuso porque estava em “javanês”, segundo o comentário maldoso do ministro Luís Roberto Barroso.
Vale ressaltar a presença inesperada, em ambiente tão oficial e pomposo, do carioca Lima Barreto (1881-1922), nosso maior exemplo de escritor antioficial.
LIMA BARRETO – A língua malaio-polinésia falada na ilha de Java, na Indonésia, virou na cultura brasileira sinônimo de idioma incompreensível graças ao conto “O homem que sabia javanês”.
Nessa peça cômica, Lima Barreto conta como um picareta chamado Castelo, vendo-se endividado e sem tostão, decide se passar por especialista numa língua da qual nada sabe a fim de tomar dinheiro de um barão decrépito.
A sorte do sujeito é que, num “Brasil imbecil e burocrático”, ninguém sabe javanês, mas tem um respeito enorme por quem finge saber. O malandro vira glória nacional, com direito a um belo emprego público e convite para almoçar com o presidente da República.
Não se sabe se Barroso pretendeu levar tão longe o paralelo entre Toffoli e Castelo.
NOTAS EXPLICATIVAS – De todo modo, com a ajuda das notas explicativas que o presidente do STF se viu obrigado a colar no pé do seu voto, a fim de dirimir as dúvidas levantadas pelos colegas, é razoável concluir que Toffoli compartilha nesse episódio pelo menos uma característica com o personagem de Lima Barreto: o jeitão elusivo, certa sinuosidade escorregadia.
Não a sinuosidade de quem não sabe o que está falando, como o malandro de um século atrás, mas a de quem deseja afirmar alguma coisa (a constitucionalidade do compartilhamento de dados sigilosos dos cidadãos com o Ministério Público, sem a necessidade de ordem judicial) sem que a afirmação chame demasiada atenção para o fato de que derruba liminar expedida por ele mesmo em julho.
COMPLEXIDADE – O STF, como todo o Judiciário brasileiro, cultiva por sobre a complexidade natural da matéria um juridiquês denso, palavroso, floreado e hermético.
Esse é um problema linguístico-social que já começa a ser entendido assim por muita gente da área, por distanciar o cidadão da compreensão do que ali se decide e fazer o país perder tempo.
O problema é que uma boa medida de obscuridade parece ser parte desejável das regras do jogo. Mesmo para os padrões nacionais, porém, Toffoli pode ter se excedido.
Fonte: Folha, por Sérgio Rodrigues
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