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A banalidade do mal – por Siro Darlan
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A banalidade do mal – por Siro Darlan

Por Siro Darlan

Nunca essa frase da filósofa alemã Hannah Arendt esteve tão presente como no sistema penitenciário brasileiro em estado de coisa inconstitucional. Não apenas os carcereiros, mas promotores e juízes se jactam da mediocridade de não pensar.

Nada é mais importante para o homem moderno que a sua liberdade. Como afirmou Huxley em seu Admirável Mundo Novo, não é aquilo que tememos que irá nos oprimir no futuro, mas aquilo que amamos. Como amar e respeitar uma “Justiça” que oprime e seleciona suas vítimas pela cor da pele e por sua posição social?

A Academia Brasileira de Letras do Cárcere foi convidada para ser representada através de seus Acadêmicos, homens e mulheres que já saíram do cárcere ou não, mas se reconciliaram com a sociedade escrevendo literatura sobre a superação do crime, do sofrimento e a dor do cárcere, para participar do lançamento Internacional da Rede Global Freeddom Scholar – Rede Global de Acadêmicos da Liberdade a se realizar em São Paulo nos dias 31 de agosto e 1 de setembro. A finalidade do encontro é discutir a educação e a literatura como forma de superação do encarceramento e o não encarceramento.

A cerimônia de posse dos primeiros membros da ABLC aconteceu na Faculdade Instituto Rio de Janeiro (FIURJ) no Centro da cidade do Rio. (Daniel Mazola / Tribuna da Imprensa Livre)

Estarão presentes egressos dos sistemas penais de diversos países. Acreditando que o discurso apregoado pelo CNJ fosse à vera, e que a leitura e escrita fossem estar na ordem do dia na aplicação privativa de liberdade em substituição às torturas, corrupções e violências psicológicas e físicas, fomos animados solicitar às cavernas das Varas de Execução Penal as respectivas autorizações para que os apenados em cumprimento de pena em liberdade condicional viajassem para São Paulo e participar desse evento educacional.

Iludidos compramos roupas e passagens para os acadêmicos da ABLCarcere nos representassem com suas poesias e literatura. Ledo engano, quando um promotor opinou contrariamente a essa viagem e o Poeta das Favelas Edilberto caísse em prantos e recitasse: “ Ao meio dia bato na porta da VEP/ Quero respostas para as minhas perguntas/ Como Poeta já deixei meu legado/ Não sou cavalo pra ninguém andar montado”. Certamente teria sido mais fácil para esses heróis da resistência a volta para o crime onde seriam mais respeitados do que muitos ditadores da Lei, mas tiveram sensibilidade social e trocaram as armas pela pena. Eles saíram da Caverna de Platão, mas seus algozes continuam numa caverna mais profunda que a de Platão. Por essa razão só livros são importantes. Por essa razão, nada suprime a cultura e a capacidade de pensar sobre si próprio e por si mesmo.

Em certa medida, a liberdade é também uma questão de escolha.

Certamente os Acadêmicos, ainda que frustrados, são mais libertos que seus algozes.

Bem, é claro que o juiz é quem decide, mas sua pouca cultura humanista torna mais fácil despachar, “Indefiro na forma da promoção do MP”.

Com certeza essa decisão que banaliza o mal será tema do seminário, onde a liberdade do ser humano será valorizada como não tem sido por aqueles que fazem corar de vergonha o Rei Salomão bíblico, sobretudo quando seu homônimo tem sido o Ogro das Trevas Togadas.

SIRO DARLAN – Advogado e Jornalista; Editor e Diretor do Jornal Tribuna da imprensa Livre; Ex-juiz de Segundo Grau do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ); Especialista em Direito Penal Contemporâneo e Sistema Penitenciário pela ENFAM – Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados; Mestre em Saúde Pública, Justiça e Direitos Humanos na ENSP; Pós-graduado em Direito da Comunicação Social na Universidade de Coimbra (FDUC), Portugal; Coordenador Rio da Associação Juízes para a Democracia; Conselheiro Efetivo da Associação Brasileira de Imprensa; Conselheiro Benemérito do Clube de Regatas do Flamengo; Membro da Comissão da Verdade sobre a Escravidão da OAB-RJ; Membro da Comissão de Criminologia do IAB. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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