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A simpatia de Sergio Cabral – Ricardo Cravo Albin
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A simpatia de Sergio Cabral – Ricardo Cravo Albin

Por Ricardo Cravo Albin

No momento em que nós, veteranos no meio musical, lamentamos o desaparecimento de Sergio Cabral, me recordo de repente de um telefonema de Vinicius de Moraes, logo depois da reunião do à época célebre Conselho Superior de MPB do Museu da Imagem e do Som – “Ricardinho, minha flor cravínea (assim o poeta me chamava quando em estado de grande alegria ou exaltação), você acertou em cheio em pedir ao Sergio Cabral para convencer o Almirante(Henrique Foréis) em não ir procurar na tevê Tupi o Flávio Cavalcanti para tomar satisfação sobre as eventuais rusgas que, segundo Flavio, o Almirante teria mantido com Noel Rosa a propósito da Vila Isabel.

O Almirante chegou até à porta da Tupi na Urca, deu meia volta e já está em casa. Aliás muito calmo.

De fato, o Cabral foi o rei da simpatia, e podia fazer inimigos se abraçarem em segundos”.

Sergio Cabral, além do boa-praça que sempre foi, exibia uma simpatia exuberante.
Ficamos muito amigos logo que cheguei ao Museu da Imagem e do Som para implantar nele os depoimentos para a posterioridade. Ao ouvir de mim que abriria o MIS inicialmente para os velhinhos que foram os pioneiros do samba, como os negros João da Baiana, Donga, Pixinguinha, à época quase esquecidos pela avalanche da Bossa Nova, Sergio exclamou “To dentro, só me chamar que estarei aqui”. Dali pra frente Sergio Cabral sempre esteve presente ao meu lado no MIS, inclusive nos acalorados debates para as cobiçadíssimas premiações anuais Golfinho de Ouro e Estácio de Sá, entregues solenemente pelo governador na Sala Cecilia Meirelles.

Como esquecer do momento que Sergio me puxou para um canto, ao final de show concorido no Canecão e me confidenciou, em meia voz, – “Agora o único Sergio que existe é o Serginho. Peço a você, velho amigo, o voto para ele, mas também diga à nossa turma que poupe meu filho dos pedidos intermináveis. Serginho está na flor da idade e não posso deixa-lo se afogar no mar de solicitação de empregos e de favores que se acumulam a cada dia mais e mais. – “Conte comigo, mas se prepare que ter um Sergio Cabral como pai de um Sergio Cabral como governador, não será mole. A avalanche de pedidos deverá lhe tirar o sono.”

– “Não dormirei, mas o Sergio governador sonhará com os anjos.”

– “Amem, amem. Assim seja” encerrei a entrevista, piscando o olho para o velho amigo.

Ao gravar neste domingo entrevista sobre ele para o Fantástico, da TV Globo, lembrei-me de evocar uma originalidade do Sergio. Ele foi pioneiro como entrevistador para os depoimentos para a posteridade no Museu da Imagem e do Som, que lançaria o MIS para o Rio e para o Brasil em 1967/68. Convidei-o para entrevistar o núcleo dos fundadores do Samba, aos quais me referi logo acima, João da Baiana, Donga, Pixinguinha, todos negros e esquecidos.

Sergio ficou entusiasmadíssimo e era o primeiro a chegar ao MIS. E arranjava com seu imbatível humor um jeitinho de prolongar cada depoimento por mais incontáveis minutos – com o meu assentimento, agradecido e encantado.

– “Vou pedir aqui ao Diretor do MIS espaço para perguntar aos pioneiros do samba sobre seus times de futebol e seus pratos preferidos”
Respondi-lhe de pronto:” Sua sugestão passa a ser uma encomenda agora minha”…

RICARDO CRAVO ALBIN – Jornalista, Escritor, Radialista, Pesquisador, Musicólogo, Historiador de MPB, Presidente do PEN Clube do Brasil, Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.

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