Por Jeferson Miola

O presidente do Banco Central Roberto Campos Neto fabrica cenários desfavoráveis e superestima impactos e dificuldades para justificar a manutenção dos juros altos. Ou, ainda, para aumentar a taxa de juros, que continua a mais alta do mundo, com ganhos reais de quase 7% acima da inflação.

Em seminário na Fundação Getúlio Vargas/FGV [24/5], Campos Neto alardeou o risco inflacionário decorrente do evento climático no Rio Grande do Sul.

Ele disse que “por causa das coisas que estão acontecendo, o preço dos alimentos vai ser um pouco mais alto, aí de fato você tem um número [de inflação] que pode ser um pouco maior”.

Além da inflação, Campos Neto menciona preocupação com o impacto fiscal do esforço de reconstrução do Rio Grande do Sul.

O banqueiro é da mesma escola do governador tucano Eduardo Leite, que mesmo alertado sobre o evento climático, negligenciou e optou por deixar a população desprotegida porque “a agenda que se impunha ao estado era aquela especialmente vinculada ao restabelecimento da capacidade fiscal do estado […]”.

Quem ouve as forçadas profecias do presidente bolsonarista do Banco Central tem a impressão de que a inflação e as contas públicas estão descontroladas, o que está longe da realidade. A previsão de inflação de 2024, por exemplo, é de 3,2% a 3,8%.

Este alarmismo de Campos Neto é interessado. Ele proclama o caos para aumentar os juros.

Cada 1% a mais que os tecnocratas “independentes” das finanças adicionam na taxa de juros significa pelo menos 80 bilhões de reais sequestrados por ano do Tesouro Nacional para serem embolsados por financistas, especuladores e parasitas da dívida pública.

Tal cifra desviada dos cofres públicos para o setor financeiro é equivalente ao orçamento do Estado do RS para 2024, e próximo do valor que o governo Lula deverá aportar para a reconstrução do estado.

No mesmo dia em que Campos Neto recitava na FGV suas notas de terrorismo financeiro para ambientar a estratégia de aumento dos juros na próxima reunião do COPOM, o economista e fundador do ICL Eduardo Moreira denunciava a manipulação da pesquisa Focus, do Banco Central, por instituições financeiras, financistas e operadores do mercado, com o objetivo de fraudar a expectativa de inflação e, com isso, corroborar a tese altista do presidente do BC.

Segundo o economista, “alguns bancos pegaram e meteram 8% de inflação só para puxar a média para cima e fazer confusão no mercado. E isso, só para vocês terem a noção, é um escândalo, pois analista de banco nunca muda mais do que 3% para 3,1%, ou 3% para 3,2%, e de 4% para 3,8%”.

Eduardo Moreira diz que “o Banco Central parece técnico, mas não é”. Ele denunciou que o esquema: “tem toda a pinta de já combinado com os veículos de imprensa para gerar as notícias que eles querem para já chegarem batendo. Como é anônimo, [o analista] mete 8% lá para forçar o BC a tomar uma decisão em cima de uma mentira”.

É um disparate o Banco Central não ter um sistema próprio de análise, integrado por instituições ilibadas, como o IPEA e o IBGE, e, ao invés disso, basear suas decisões sobre as taxas de juros a partir de pesquisa sobre a expectativa de ganho que o próprio mercado tem, não que a realidade econômica indica. O absurdo [ou crime] é ainda maior quando o mercado manipula projeções para justificar ganhos maiores com juros.

Roberto Campos Neto não tem compromisso com o desenvolvimento do Brasil e com a soberania monetária do país. Nos meses que ainda tem de mandato na presidência do Banco Central, ele está empenhado em intensificar o ataque ao butim.

JEFERSON MIOLA – Jornalista e colunista desta Tribuna da Imprensa Livre. Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial.

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