Por Pedro do Coutto –
A prisão do tenente-coronel Mauro Cid pode excluir o acordo da delação premiada a qual teria direito se tivesse observado todas as regras que regem o processo. Mas as críticas que dirigiu ao Supremo agravaram a sua posição pessoal. Os áudios do militar nos quais ele faz ataques à PF e ao ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, revelados pela revista “Veja”, poderá fazer com que ele perca os benefícios até então obtidos.
Nas gravações, o militar afirma que foi pressionado a falar sobre fatos que, segundo o próprio Cid, não teriam acontecido ou dos quais não teria conhecimento. “Você pode falar o que quiser. Eles não aceitavam e discutiam. E discutiam que a minha versão não era a verdadeira, que não podia ter sido assim, que eu estava mentindo”, disse Cid. O militar disse ainda que a PF está com “a narrativa pronta e não queria saber a verdade”.
“É A LEI” – Sobre o ministro Alexandre de Moraes, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro afirmou: “O Alexandre de Moraes é a lei. Ele prende, ele solta, quando ele quiser, como ele quiser. Com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação”.
Em outra gravação, Cid disse: “o Alexandre de Moraes já tem a sentença dele pronta, acho que essa é a grande verdade. Ele já tem a sentença dele pronta. Só tá esperando passar um tempo. O momento que ele achar conveniente, denuncia todo mundo. O PGR acata, aceita e ele prende todo mundo”.
O ex-ajudante de ordens também mostra mágoa com militares e cita Jair Bolsonaro, ao afirma que o ex-chefe ficou “milionário”, enquanto ele próprio foi quem mais perdeu. “Quem mais perdeu coisa fui eu. Pega todo mundo aí. Ninguém perdeu carreira, ninguém perdeu vida financeira como eu perdi. Todo mundo (militar) já era quatro estrelas. Já tinha atingido o topo. O presidente teve PIX de milhões, ficou milionário”, disse
DESABAFO – A defesa reconheceu como sendo de Cid os áudios, mas afirmou que “não passam de um desabafo” e não colocam “em xeque a independência, a funcionalidade e a honestidade da Polícia Federal, da Procuradoria-Geral da República ou do Supremo Tribunal Federal”.
Apesar da nova prisão de Mauro Cid, provas apresentadas na delação premiada continuarão válidas. Para os investigadores, as suspeitas de que Cid descumpriu termos de sua delação ao comentar sobre o assunto, não mudam a situação dos inquéritos que miram Jair Bolsonaro, uma vez que os fatos delatados por Cid foram corroborados pelos diálogos encontrados nos telefones celulares apreendidos durante a investigação.
Nesta linha, as articulações relacionadas a um suposto planejamento de um golpe de Estado, por exemplo, foram confirmadas não apenas pelos diálogos, mas também por testemunhos de ex-comandantes das Forças Armadas consultados por Bolsonaro sobre o assunto.
PEÇA IMPORTANTE – Mauro Cid assim transforma-se mais uma vez numa peça extremamente importante no processo, não só pelas revelações que fez, mas também pelas que possam surgir daqui por diante. O resultado da sua atuação não ajuda em nada o esforço que logicamente poderia ser feito pela defesa de Jair Bolsonaro, inclusive porque o processo contra o ex-presidente inclui também o que aconteceu com as joias presentadas para o governo, negociadas nos Estados Unidos e depois devolvidas à União.
O processo se mantém, como tudo indica, e a defesa de Bolsonaro sofreu mais um rude golpe, sobretudo porque a figura de Cid compromete o posicionamento da administração passada numa série de questões que são do conhecimento público.
PEDRO DO COUTTO é jornalista.
Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
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