Por Pedro do Coutto –
Excelente reportagem de Edison Veiga, Folha de S. Paulo, deste domingo, destaca amplamente a decisão do Papa Francisco de escolher o bispo argentino Víctor Manuel Fernández para prefeito do Dicastério para a doutrina da fé, dando sequência a seu projeto de reforma, uma vez que Fernández pertence à corrente avançada e progressista da Igreja, sendo inclusive autor de livro que incentiva os casais a colocarem mais erotismo em seus beijos.
A decisão do Papa Francisco, é claro, desagradou os conservadores, aqueles que consideram necessária a distância entre a Cátedra de São Pedro (como chamava Otto Maria Carpeaux) da população. Agora, o ato de Francisco conduz a uma identificação e uma aproximação maior entre os executores da doutrina e a opinião pública.
DICASTÉRIO – Ao tentar impor comportamentos, assinalou o Papa, em outras épocas a Igreja de Roma chegou a utilizar métodos imorais, a exemplo da Inquisição e, acrescento, o silêncio do Papa Pio XII em relação ao nazismo. O Dicastério para a doutrina da fé é o mais antigo organismo do Vaticano. Quando em 1959, o Papa João XXIII lançou a Encíclica Mater et Magistra, esse ato representou uma ruptura com um comportamento tradicional e tradicionalista do clero que defendia a ideia exclusiva da vida eterna como meio de realização humana.
João XXIII destacou que o ser humano tem que se realizar tanto na terra quanto no céu. Foi uma ruptura, foi um avanço de modernização. Afinal, na verdade, o céu é um endereço que depende do comportamento humano e o cristianismo na minha ótica de pensamento é um princípio essencial do humanismo, portanto da valorização do ser humano em relação a si mesmo e também em relação ao sentimento religioso.
Por isso, é estranho quando partidos políticos, em suas propagandas na televisão, se apresentam como cristãos e conservadores. A discussão não abrange apenas o plano moral e individual. Abrange o espaço mais amplo que depende da dignidade e da reforma.
CONTRA A OPRESSÃO – O cristianismo nasceu além do aspecto divino, da luta pela liberdade e pela reforma contra a opressão romana que invadiu a Judeia, tempo do imperador Tibério, e contra o governo de Herodes Antipas, imposto pela tirania romana. A tirania romana na Judeia tinha a sua base em dois governadores; Pôncio Pilatos e Herodes Antipas. No meu livro “Cristo, o Maior dissidente da História”, focalizo o tema.
Mas, voltando à nomeação de Víctor Manuel Fernández, o vaticanista Robert Mickens, em artigo no diário católico La Croix International, avalia a nomeação como uma bomba que deve incomodar os católicos das alas tradicionalistas, sobretudo porque Fernández é considerado um teólogo de sólida formação, um homem extraordinariamente culto e comprometido com as ideias modernas de reforma.
CRÍTICAS – Conservadores, inclusive, já iniciaram as críticas à nomeação de Fernández, ressaltando que ele é favorável à abertura temática voltada para corrente LGBT e ao acolhimento dos casais em segunda união, portanto os casais divorciados. Fernández também é destacado por seu enfrentamento à ditadura militar argentina que começou em 3 de outubro de 1955 com a deposição do presidente Juan Perón. Por uma coincidência histórica, nesse mesmo dia, o Brasil elegia Juscelino Kubitschek.
Na ocasião da Encíclica Mater et Magistra, Dom Helder Câmara, bispo auxiliar do Rio de Janeiro, deixou a seguinte frase: “Com a Mater et Magistra, a Igreja deixa de ser freio e passa a ser acelerador”. De fato, a integração da fé com a evolução social dos seres humanos é uma face essencial do avanço do Vaticano e de seu encontro com a condição humana.
INADIMP’LÊNCIA – Reportagem de Renan Monteiro, Beatriz Coutinho e Daniela Nogueira, O Globo desta segunda-feira assinala que a emissão em série de cartões de crédito incentivadas por cerrada campanha publicitária, está contribuindo para elevar a inadimplência no país. No momento, como as pessoas podem ter vários cartões cada uma, o número de cartões de crédito atingiu 208 milhões, número maior do que o da própria população. A informação é do próprio Banco Central.
As pessoas vão assumir cartões de crédito com grande facilidade, sejam eles emitidos por bancos tradicionais ou por lojas comerciais. A publicidade oferece crédito bastante elástico e não inclui em suas mensagens os juros cobrados. Os créditos rotativos, inclusive, passam de 400% ao ano, taxa inacreditável que torna impossível o pagamento de dívidas acumuladas.
FINANCIAMENTO – O problema atingiu uma escala tão impressionante que o governo tomou a iniciativa de financiar através do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal os débitos atrasados de até R$ 5 mil. São milhões de casos e o programa que está custando a entrar em vigor não leva em conta que o resgate de um débito pode habilitar a pessoa a assumir um outro compromisso. Além disso, o Ministério da Fazenda fixou em 1,9% ao mês as taxas de financiamento para zerar os débitos.
Muito alta essa taxa que significa praticamente 30% ao ano, considerando-se os montantes aplicados aos juros. Um problema grave que inibe o consumo e incentiva o não pagamento, uma vez que as taxas cobradas não podem ser assumidas pelos devedores.
PEDRO DO COUTTO é jornalista.
Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
Tribuna recomenda!
MAZOLA
Related posts
Editorias
- Cidades
- Colunistas
- Correspondentes
- Cultura
- Destaques
- DIREITOS HUMANOS
- Economia
- Editorial
- ESPECIAL
- Esportes
- Franquias
- Gastronomia
- Geral
- Internacional
- Justiça
- LGBTQIA+
- Memória
- Opinião
- Política
- Prêmio
- Regulamentação de Jogos
- Sindical
- Tribuna da Nutrição
- TRIBUNA DA REVOLUÇÃO AGRÁRIA
- TRIBUNA DA SAÚDE
- TRIBUNA DAS COMUNIDADES
- TRIBUNA DO MEIO AMBIENTE
- TRIBUNA DO POVO
- TRIBUNA DOS ANIMAIS
- TRIBUNA DOS ESPORTES
- TRIBUNA DOS JUÍZES DEMOCRATAS
- Tribuna na TV
- Turismo