Por Pedro do Coutto –
Na posse de Aloizio Mercadante na Presidência do BNDES, na última segunda-feira,o presidente Lula da Silva voltou a atacar fortemente o Banco Central pela decisão de manter a taxa Selic em 13,75% ao ano, o que representa uma despesa de praticamente R$ 800 bilhões para o governo, uma vez que a Selic remunera os títulos do Tesouro que lastreiam a dívida interna brasileira.
A dívida do Brasil é de aproximadamente R$ 6 trilhões. Os bancos, os fundos de investimentos e os fundos de pensões das estatais são os credores que recebem a remuneração pelo índice anual da Selic. Como se observa, cada ponto da Selic equivale a algo em cerca de R$ 60 bilhões.
DESPESA – Para se ter uma ideia sobre esse valor, basta dizer que o orçamento da Prefeitura do Rio de Janeiro para 2023 é de R$ 43,9 bilhões. É muito dinheiro, muita despesa, que não é considerada no déficit orçamentário. O fato predominante é que o presidente da República não sintoniza, como os fatos comprovam, com Roberto Campos Neto.
Na edição de ontem de O Globo, reportagem de Letícia Cardoso, Carolina Nalin, Sérgio Roxo, Jennifer Gularte, Geralda Doca e Fernanda Trisotto, focaliza o assunto sob o título “Artilharia contra o BC”. O assunto tem sido tema de debates variados, especialmente na GloboNews. Pessoalmente, acho que Lula tem razão de estranhar esse nível.
A despesa real com a Selic elevou-se 8% num prazo de 12 meses, ampliando assim (já que um ponto vale R$ 60 bilhões) em R$ 480 bilhões de desembolso anual. Alega-se que a Selic e os juros altos são para frear a inflação. Ao contrário, os juros altos aumentam a inflação e a concentração de renda, é claro. Sobretudo na medida em que faz com que aumente a diferença entre a inflação do país e a taxa Selic.
CONCENTRAÇÃO – Mas não é apenas isso. Com a remuneração de 13,75% ao ano, as aplicações de capital dos bancos e dos fundos de investimentos vão se concentrar no mercado financeiro e bloquear investimentos de ordem mais reprodutiva, com reflexo no mercado de trabalho. Por outro lado, com uma remuneração garantida de 13,75% ao ano, os bancos vão manter os juros altos na cobrança de seus empréstimos. Por isso é que eles estão basicamente no crédito direto na escala de 30% anuais.
A contradição entre Lula e Roberto Campos Neto, apesar da tentativa do ministro Fernando Haddad de reduzir as tensões entre o Planalto e o Bacen, existe por outros motivos que influem na rejeição que Lula mantém em relação a Campos Neto. A reportagem do O Globo, assinala que Roberto Campos Neto participava de um grupo do WhatsApp em que se integravam vários ex-ministros de Bolsonaro. Além disso, nas eleições presidenciais de outubro, Roberto Campos Neto foi votar vestindo as cores da campanha de Bolsonaro.
Lula, portanto, não confia nele. E conforme já escrevi, não importa que o presidente do BC tenha um mandato estabelecido em lei. Na verdade, ninguém pode exercer um cargo dessa importância em conflito com o presidente da República. Não há a menor possibilidade de superação do que está ocorrendo. Provavelmente, Lula tenha um nome de sua confiança para substituir Campos Neto no Banco Central.
POUPANÇA – Renan Monteiro, O Globo desta terça-feira, revela que no mês de janeiro deste ano, as retiradas das cadernetas de poupança somaram R$ 334 bilhões e os depósitos R$ 307 bilhões. Com isso, houve uma redução de R$ 33 bilhões aproximadamente. A maior verificada até hoje para um só mês.
O motivo principal está nos compromissos dos depositantes que se elevam sempre em janeiro com despesas sobretudo no setor de ensino. Mas não é apenas esse o único motivo. É também o endividamento de mais de 60% das famílias brasileiras com os pagamentos de juros dos cartões de crédito. O total de inadimplentes atinge quase 70 milhões de brasileiros e brasileiras.
PEDRO DO COUTTO é jornalista.
Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
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