Por Miranda Sá –
“Do fanatismo à barbárie não há mais do que um passo” (Denis Diderot)
Poucos entre pensadores célebres (a quem tive acesso pela leitura) não imaginaram que o século 21 trouxesse sob suas asas temporais o ceticismo, a farsa religiosa e a picaretagem corrupta dos líderes políticos.
O que veio foi o contrário. Enquanto projetaram otimistas a chegada de novas gramas de humanismo, vieram toneladas de desamor ao próximo. É isto, infelizmente, o que constatamos: orbita em torno desta época tudo o que é condenado nos livros sagrados de todas as religiões.
Neste quadro funesto temos a volta macabra do neonazismo! Com esta perversidade vem o racismo, o ódio a quem pensa diferente e a xenofobia. Triste é que a obsessão pelo totalitarismo e o culto da personalidade não é um fenômeno limitado aos tolos, filhos da ignorância; abrange todos fracassados sociais levando-os à carona do extremismo para conquistas políticas.
Vemos, assim, principal diferença entre os homens de consciência social e os individualistas fanáticos: os primeiros têm receios, dúvidas e fazem reflexões; os outros agarram-se às convicções irrefletidas. Para os inteligentes, o questionamento; para os fanáticos, o estado de graça da estupidez….
O fanático não consegue elevar-se acima da mediocridade. Como racista, não enxerga o gênio de Charlie Chaplin, vendo-o apenas como um judeu; seu ódio não respeita o sucesso mundial de Oscar Niemeyer por ser comunista; e não guarda admiração pela cultura nordestina com aversão xenófoba.
Ocorre que Chaplin tornou-se eterno pela ternura humana dos seus filmes; que Niemeyer é um patrimônio internacional da arquitetura; e que os nordestinos mostram agora a solidariedade, ajudando os catarinenses assolados pelas chuvas.
Pelo fanatismo estúpido, o prurido da covardia cria uma falsa superioridade sobre os outros. Por isto, os fanáticos moldam esquizofrenicamente à sua maneira, o bem e o mal, o certo e o errado, o justo e o injusto. Convencionam serem os únicos filhos amados do deus que adotam com a sua imagem e semelhança.
Deste jeito, a História que reflete e enaltece os dominantes das épocas, obriga-nos a filosofar sobre o passado e revisando os capítulos fundamentais do tempo presente, para que no futuro seja diferente a História da Civilização que herdamos; porque esta é a história dos conquistadores e não a dos resistentes.
Nas Américas devemos por obrigação repassar a barbárie do massacre dos indígenas nos Estados Unidos e a rapina espanhola destruindo as antigas civilizações asteca e inca pela cobiça dos seus tesouros no México e na Mesoamerica.
No Brasil português não esconder a escravidão indígena e africana nem negar a herança maldita dos privilégios cortesãos e do “jeitinho” típico dos lusitanos, impostos pelas capitanias hereditárias distribuídas aos espertalhões favoritos da corte portuguesa.
O que ocorreu aqui, está resumido no romance Quincas Borba de Machado de Assis: “Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas”; mas, revisando este conceito, os brasileiros devíamos mandar perdedores e vencedores ao lixo com as cascas de batatas.
Nós, que criticamos o artigo do mesmo título, o fanatismo da seita negacionista do bolsonarismo, devemos obrigatoriamente denunciar o fanatismo lulopetista, omitindo após as eleições as promessas de campanha do Pelegão. Agora, os cultuadores de Lula aceitam a aliança com os picaretas do Centrão; aplaudem a multiplicação dos ministérios para o repasse do butim; apoiam a imoralidade do “orçamento secreto” e a sua infecção gangrenosa, a PEC Fura Teto, o assalto ao bolso do trabalhador para pagar promessas concorrentes das esmolas sociais.
Vemos neste quadro a degenerescência política dos populistas de direita e de esquerda, que, sempre dispostos à corrupção, se defendem sob o guarda-sol de uma legislação de compadrio sobejamente usada pela magistratura ideologicamente comprometida pelo fanatismo partidário.
Nesta conjuntura, temos o dever patriótico de apontar como desastroso, à beira do crime, o culto à personalidade dos políticos, sem considerar suas ambições pessoais. Assim, devemos repetir a pergunta feita pelo escritor e pensador gaúcho Érico Veríssimo:
“Porque essa corrida desenfreada atrás do dinheiro, sem consideração pelas pessoas humanas?”
MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo. mirandasa@uol.com.br
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