Por Isa Colli

É necessário cuidar da saúde mental dos alunos, manter um olhar atento aos comportamentos agressivos, tentar integrar os que preferem se isolar e buscar ajuda de profissionais, como psiquiatras e/ou psicólogos quando a situação parecer fora de controle.

Os ataques a tiros nas escolas em Aracruz, no Espírito Santo, ainda repercutem e nos fazem refletir sobre as razões que levam um jovem a invadir uma escola e matar professores e alunos de maneira banal e aleatória. Foram quatro mortos e 13 feridos, sobreviventes que jamais esquecerão o trauma vivido. Ferida que também será levada para sempre nos corações dos familiares das vítimas.

Os atentados em instituições de ensino no Brasil crescem de maneira preocupante. De 2019 até este ano, houve pelo menos 11 ataques registrados, nem todos com mortes, mas todos violentos. Em 2022, somente nos últimos três meses, foram quatro ataques: em Barreiras e Chapada Diamantina, ambos na Bahia; Sobral, no Ceará; e Aracruz no Espírito Santo. Os agressores são sempre crianças e adolescentes entre 13 e 16 anos.

Para mim, nada é coincidência. Essa cultura da violência está vinculada a uma política equivocada que prega e incentiva o discurso de ódio e facilita o acesso às armas. E se esses ataques acontecem de forma recorrente, há necessidade de um envolvimento de toda a comunidade escolar na busca de soluções. A família, na minha opinião, deve ser o pilar, mas ela não pode agir sozinha. A escola precisa estar preparada para atuar.

Penso que é urgente trabalhar em sala de aula os valores humanos, a Educação para Direitos Humanos, as mediações de conflito e as práticas restaurativas, que são atividades que podem colaborar para a prevenção e na resolução positiva desses conflitos, contribuindo para evitar a violência e garantir as boas relações no espaço escolar.

Eu insisto na questão da prevenção porque percebo que as escolas, sejam públicas ou particulares, estão sempre apagando incêndios. Embora exista uma lei antibullying, que atribui responsabilidade às instituições de ensino na promoção da cultura de paz e de medidas de combate ao bullying, não há fiscalização para garantir que essa lei seja cumprida.

E não é difícil se adequar. O caminho para frear essa onda de atentados é capacitar todos os professores e demais profissionais, fazer campanhas de educação, oferecer assistência psicológica e orientar os pais. É preciso falar também com as crianças sobre esses ataques recorrentes e discutir os motivos pelos quais as tragédias acontecem.

Essa garotada precisa ser ouvida, reconhecer seus sentimentos e trabalhar as dores, inseguranças e angústias. É necessário cuidar da saúde mental dos alunos, manter um olhar atento aos comportamentos agressivos, tentar integrar os que preferem se isolar e buscar ajuda de profissionais, como psiquiatras e/ou psicólogos quando a situação parecer fora de controle.

Temos de colocar em prática, urgentemente, a cultura da não-violência. A Educação precisa vencer. E vai vencer!

ISA COLLI – Escritora ítalo-brasileira, de Presidente Kennedy, Espírito Santo, atualmente reside em Bruxelas, na Bélgica. Jornalista, membro do Conselho Consultivo e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Começou a escrever aos 12 anos, sempre preocupada com o futuro do meio ambiente, e como ensinar as crianças a preservá-lo, atenta aos anseios humanos e às suas dúvidas em relação à vida. Seu primeiro livro foi editado em 2011. O romance, ‘Um Amor, um Verão e o Milagre da Vida’. Porém a partir de 2013, consagrou seu tempo à literatura infantil e conta em 2019 com mais de dez títulos editados, que abordam temas como a sustentabilidade e a necessidade de proteção ao meio ambiente, o respeito pelo próximo, a tolerância às diferenças e a valorização do consumo de alimentos saudáveis e sem agrotóxicos. A autora tem por alicerce a família, em especial, o esposo José Alves Pinto e os filhos Valdeir e Philip. E o sonho de transformar o mundo por meio da escrita, que é o seu principal combustível. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2018 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ. Inicialmente publicado em O Dia.

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