Por Carlos Newton

Quando o excelente repórter Marcelo Godoy anunciou no Estadão que as posses dos três comandantes militares seriam antecipadas para o final de dezembro, estranhei esta notícia  e comentei aqui na Tribuna da Internet que o informante do jornalista deveria ter cometido um engano, porque as Forças Armadas não funcionam assim e jamais marcariam posse de comandante antes da nomeação em Diário Oficial.

Porém, a Folha de São Paulo confirmou que realmente os três comandantes militares, na maior surdina, combinaram entregar os cargos na mesma data, na segunda quinzena de dezembro.

SEM DESMENTIDO – Esse tipo de notícia, se fosse mera especulação, teria sido prontamente repelido pelos chefes militares, em nota oficial e tudo mais. No entanto, os comandantes Marco Antônio Freire Gomes (Exército), Carlos de Almeida Baptista Junior (Força Aérea) e Almir Garnier (Marinha) não se manifestaram, estão fechados em copas, como se diz no carteado.

Portanto, o fato é verdadeiro e gravíssimo. Em tradução simultânea, pode-se dizer que não se trata simplesmente de insubordinação, que seria um ato simbólico, apenas para mostrar que não se submetem ao comando de Lula, por ser um ex-presidiário que saiu da cadeia por obra e graça de um conluio judicial que desmoraliza a Justiça brasileira.

Não, decididamente, não! Trata-se de uma conspiração, acertada entre os três comandantes militares, com a participação do próprio presidente da República, a quem caberia coibir e punir esse tipo de manifestação.

INÍCIO DE GOLPE – Como assinalou o experiente jornalista Igor Gielow, da Folha, “por óbvio, isso não é um golpe, mas abre um precedente perigoso nos escalões inferiores”. Exatamente, porque é aí que mora o perigo.

Como se sabe, o exemplo sempre vem de cima, e nas Forças Armadas a noção de hierarquia pesa muito, é obrigatório obedecer ao superior, embora alguns oficiais-generais sejam claramente inferiores, digamos assim.

Portanto, se os oficiais-generais em comando se comportam dessa forma, o que impediria que os oficiais subalternos adotassem o mesmo procedimento? Nada, rigorosamente nada,

OTIMISMO E PESSIMISMO – Há dois lados nessa questão. O otimista acredita que se trata de uma decisão positiva dos três comandantes militares, que sempre foram contrários à eleição de Lula. A tese é de que, ao deixar os postos, os comandantes estariam garantido uma transição mais tranquila. Parece brincadeira, mas há quem creia numa bobagem dessas.

Mas o lado pessimista sabe que o momento é delicadíssimo. Com toda certeza, o que pretendem Bolsonaro e os três comandantes é abrir as condições para um golpe militar que impeça a posse de Lula. Apenas isso. Exatamente isso.

Ou há alguma dúvida?

Charge reproduzida do The New York Times

P.S. – O fato concreto, sem pessimismos ou otimismos, é que a situação é gravíssima e sem precedentes. Jamais se viu esse tipo de comportamento em países democráticos. Bolsonaro é otimista e acredita que continuaria na Presidência, em caso de golpe militar. Eu sou pessimista e desconfio que, caso a tragédia ocorra, o poder caia nas mãos do general Braga Netto, que é uma espécie de Rasputin sem barba. O assunto é importantíssimo e logo voltaremos, como outras informações.

CARLOS NEWTON é jornalista, editor do blog Tribuna da Internet.

Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


PATROCÍNIO


Tribuna recomenda!