Por Pedro do Coutto –
Como era previsto, o início das articulações envolvendo candidatos a governos estaduais não seguem plenamente as decisões partidárias nacionais. No Rio, o primeiro exemplo surgiu quando, numa entrevista com Jan Niklas e Thiago Prado, O Globo deste sábado, o deputado André Siciliano, do PT – que apoia Marcelo Freixo para o governo do RJ – considerou natural o voto independente em Lula da Silva e ao governador Cláudio Castro que tenta a reeleição.
Para André Siciliano situações assim fazem parte da política. A declaração de Siciliano, que disputa as eleições para o Senado e cuja candidatura é contestada por Alessandro Molon do PSB, que também disputa o posto, servem de exemplo des articulações e também desarticulações de candidaturas aos governos estaduais dos candidatos escolhidos por seus próprios partidos para as eleições presidenciais.
OFENSIVA – O exemplo de Sicialino dará margem a uma ofensiva dos que preferem Molon ao Senado numa chapa liderada por Lula da Silva. O candidato do PT, Siciliano, ao admitir o voto em Lula para Presidência e em Castro para o Palácio das Laranjeiras, abriu uma brecha na coligação, uma vez que a aliança PT e PSB apoia a candidatura de Marcelo Freixo.
Há tempos escrevi sobre o assunto de modo geral, destacando o fato de que alianças estaduais muitas vezes não acompanham os apoios federais comprometidos por esta ou aquela legenda. O Rio de Janeiro foi um exemplo marcante, mas surgiram vários no fim de semana. Reportagem de José Matheus Soares, Folha de S. Paulo, focaliza desavenças que começaram a ocorrer no Ceará com a participação de candidatos do PDT à campanha de Lula da Silva , afastando-se assim da candidatura de Ciro Gomes.
Reflexos estão se fazendo sentir por parte do ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio, apontado como preferido de Ciro e Cid Gomes, mas que estaria tendendo a se afastar de Ciro e apoiar Lula. Na Paraíba ocorrem problemas semelhantes. Candidatos ao governo estadual, por partidos que apoiam o governo Bolsonaro, estão também se articulando com o PT. Em São Paulo, o afastamento da candidatura de Márcio França que concorrerá ao Senado com o apoio de Lula fortaleceu a posição de Fernando Haddad.
EM SILÊNCIO – Em Minas Gerais, Romeu Zema, de acordo com o Datafolha, lidera com 44% dos votos na disputa pelo governo do estado. Zema ainda não se pronunciou, como era esperado, em favor de Bolsonaro para o Planalto. Em segundo lugar, também como define o Datafolha para o governo mineiro, Alexandre Kalil, que apoiou Lula, aparece com 26 % dos votos.
Enfim, não adianta projetar e fazer previsões sobre legendas que apoiam esse ou aquele candidato, pois isso muda muito, sobretudo no fim das campanhas. No Rio de Janeiro, é certo que haverá segundo turno, na minha opinião, colocando Freixo e Castro em confronto. Essa tendência favorece, no fundo, a candidatura de Lula, pois mantida a diferença de hoje do petista sobre Bolsonaro, será mais fácil para candidatos a governos estaduais se alinharem ao PT do que ao PL.
NOVA TENTATIVA – Matéria de Fernanda Trisotto, O Globo, destaca o capítulo importante com o qual o presidente da Câmara, Arthur Lira, vai se defrontar e que é a nova tentativa de votar e aprovar a PEC dos combustíveis, dos auxílios, dos vales dirigidos a setores que foram atingidos nos últimos meses.
Na quinta-feira, não houve número para votar a questão e o presidente Arthur Lira assumiu uma posição patética e singular afirmando que suspendesse a votação por não ter certeza de que a emenda seria aprovada. A oposição deveria ter protestado por manter a sessão. Pela lógica de Lira, a sessão só terá razão se tiver maioria para a aprovação da matéria. Um absurdo.
QUÓRUM – O governo está se empenhando a fundo para que não falte número, como aconteceu na última semana, e quer mobilizar as suas bancadas de qualquer maneira para dar sequência à aprovação da PEC. Integrantes do governos e das correntes aliadas do Centrão estão se concentrando neste fim de semana e trabalhando com parlamentares não muito comprometidos com o governo para comparecerem na sessão de terça-feira.
A preocupação é grande, pois parte dos parlamentares em virtude do recesso, já estão em suas bases eleitorais, trabalhando em suas campanhas. O governo está se empenhando também em aprovar a PEC como ela se encontra, não aceitando subemenda, pois isso acarretaria além de duas votações na Câmara, mais duas no Senado.
NOGUEIRA E AS URNAS – Excelente reportagem de Felipe Frazão, o Estado de S.Paulo de sábado, focalizando o novo pronunciamento do general Paulo Sérgio Nogueira, ministro da Defesa, colocando uma sombra de dúvida sobre as urnas eletrônicas, depois de ter dito que confiava nelas.
A impressão que deixam essas oscilações é a de que o presidente Jair Bolsonaro continua exercendo pressão para que ocorra um desentendimento entre o ministro Edson Fachin, presidente do TSE, e o ministro Paulo Sérgio Nogueira. Inclusive porque numa live que circulou no final da tarde de sexta-feira, Bolsonaro, acentua a matéria, voltou a insistir que houve fraude na eleição de 2018.
Bolsonaro disse que vai convocar embaixadores estrangeiros para falar de episódios nas últimas eleições. Mas o TSE convocou observadores internacionais para acompanhar as eleições deste ano. Há, portanto, no ar uma ofensiva do presidente da República contra o sistema eleitoral afim de arrumar um pretexto para justificar a sua possível derrota nas urnas de outubro.
ELETROBRAS – Em artigo publicado no O Globo de ontem, José Luiz Alquéres, ex-presidente da Eletrobras, sustenta a tese de que a Eletrobras privatizada deve desenvolver uma atuação internacional, pois sua dimensão permite que possa agir atingindo mercados de vários países.
A privatização assim, digo, teria um efeito mágico para a empresa, superando a sua condição de deficitária como revelou a reportagem de Bruno Rosa, O Globo, quando a Eletrobras divulgou nota sobre a questão do débito cobrando pela Andrade Gutierrez e a Odebrecht relativo a problemas de pagamento quando da construção da Usina Santo Antônio, em Rondônia.
Foi criada na ocasião, a Santo Antônio Energia que teve como acionistas tanto a Odebrecht quanto a Gutierrez, na base de 18% cada uma. Furnas participou com 47%. Surpreendente nessa matéria de Bruno Rosa, a Eletrobras diz que a participação de Furnas foi de 72,3% do capital. A Andrade Gutierrez e a Odebrecht, embora acionárias do empreendimento, cobram uma dívida da própria empresa de mais de R$ 1 bilhão.
ASSEMBLEIA – Furnas, inclusive, promoveu uma assembleia de titulares de debêntures para aumentar o capital da Santo Antônio no valor desse alegado endividamento. A assembleia aprovou a emissão de debêntures para cobrir o prejuízo. Para defender a operação, a Eletrobras afirmou que não fosse esse lance de dados, a privatização não seria realizada porque existiria uma dívida da holding da ordem de R$ 41, 6 bilhões.
Mas, em relação ao artigo de Alquéres, deixo a pergunta. Se a Eletrobras está endividada e a salvação é a privatização, como ela poderia operar no mercado internacional ao mesmo tempo que opera no mercado brasileiro?
*Pedro do Coutto é jornalista.
Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ)
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