Por Cid Benjamin

Vultosas compras de Viagra e de prótese peniana. Nada contra o uso de tais artifícios por parte de quem tem dificuldades em conseguir a ereção, mas eles devem comprar o remedinho com o seu dinheiro.

Em meu tempo de exílio, morei no Chile e, depois, fui casado com uma chilena. Aprendi que o povo daquele país, no seu dia a dia, usa à exaustão o recurso a ditos populares. Alguns são deliciosos e expressam de forma muito interessante a sabedoria popular. Um deles, sempre presente quando se fala em política, é o que dá título a este artigo: “Del ridículo no hay vuelta”.

Em outras palavras, quando um político cai no ridículo fica em apuros. É difícil dar a volta por cima.

Como explicar a compra de grandes quantidades de picanha para seus integrantes? Os quartéis vão virar churrascarias?

E a aquisição de quantidades industriais também de bacalhau? Estariam os militares se preparando para a Semana Santa e mudando o cardápio do chamado “rancho” nas unidades militares?

Na lista de compras, obtida em portais oficiais do governo, está também remédio contra a calvície. Por que? Será isso resultado de um gigantesco acesso de vaidade?

Mas das críticas espantadas com essas compras, as coisas foram além e se tornaram deboche.

Vieram à tona outras informações, sobre vultosas compras de Viagra e de prótese peniana. Nada contra o uso de tais artifícios por parte de pessoas do sexo masculino com dificuldades em conseguir a ereção necessária para um ato sexual. Assim, não tem razão o general vice-presidente, Hamilton Mourão, quando protesta: “Eu não posso usar meu Viagra, pô?”

Pode, general, ninguém questiona esse seu direito. Mas o senhor deve comprar o remedinho com o seu dinheiro. Não há razão para nos obrigar a pagar o seu Viagra.

Ora, o sexo faz parte da natureza humana.

Millor Fernandes já dizia: “Das taras sexuais, não existe nenhuma mais estranha do que a abstinência”.

Aldous Huxley tinha dito antes algo semelhantes: “A castidade é a mais anormal das perversões sexuais.”

Assim, não é o caso de moralismo ou de se defender a abstinência sexual dos militares. A prática do sexo faz bem à saúde. Mas os integrantes da Forças Armadas ganham muito bem (e têm tido reajustes salariais mais do que generosos no governo Bolsonaro). Podem perfeitamente comprar os remédios de que precisem contra uma eventual disfunção sexual.

As esquisitices na lista de compras do Ministério de Defesa não param por aí. Nela consta também botox, usado para cirurgias plásticas de embelezamento. De novo, nada contra quem está insatisfeito com a sua aparência e resolve modificá-la. É problema de cada um. Mas que custeie de seu próprio bolso a compra dos ingredientes necessários para tal. Por que as Forças Armadas têm que comprar botox, gente?

A verdade é que, a cada dia, a liberdade de expressão e a luz do sol se mostram uma pedra no sapato do governo. Ele se vê em palpos de aranha para explicar o que faz.

Para os democratas, que compreendem a necessidade de desmascarar Bolsonaro e derrotá-lo em outubro, isso é muito bom. Para a democracia, é preciso varrê-lo do poder.

Assim, que caia mais e mais no ridículo.

Afinal, se os chilenos afirmam que “del ridículo no hay vuelta”, Napoleão Bonaparte já advertia: “Do sublime ao ridículo há um só passo”.

CID BENJAMIN foi líder estudantil nos movimentos de 1968, participou da resistência armada à ditadura e foi dirigente do Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8). Libertado em troca do embaixador alemão, sequestrado pela guerrilha, passou quase dez anos no exílio. De volta ao Brasil em 1979, foi fundador e dirigente do PT e, depois, participou da criação do PSOL. É jornalista, professor e autor dos livros “Hélio Luz, um xerife de esquerda” (Relume Dumará, 1998), “Gracias a la vida” (José Olympio, 2014) e “Reflexões rebeldes” (José Olympio, 2016). Organizou, ainda, a coletânea “Meio século de 68 – Barricadas, história e política” (Mauad, 2018), juntamente com Felipe Demier.


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