Por Ricardo Cravo Albin –
“Brincar com fogo será sempre arriscado, quando não queima, chamusca.” (Monteiro Lobato pela voz de Dona Benta)
Nesta segunda-feira de carnaval vejo nos telejornais a inquietante informação de que o mês de fevereiro bateu todos os recordes de contaminação pela pandemia (21.250 infecções). Os desfiles das Escolas foram adiados para o dia de Tiradentes, os blocos acertaram com a prefeitura cancelar suas programações neste carnaval de agora, graças às intervenções sensatas de Rita Fernandes da Sebastiana e de Eduardo Paes.
Certamente que todas as consciências com um mínimo de respeito à Saúde Pública estarão de pleníssimo acordo em defesa da vida e dos mais vulneráveis, as crianças e os idosos.
Leio na internet uma declaração pertinente do Secretário de Saúde de São Paulo, que confirma minhas sombrias expectativas em relação à indisciplina e desobediência civil pela vida dos outros. Diz ele que a pandemia está longe do fim – vide o recorde de contaminações em fevereiro. Aduz o Secretário ainda que o cenário do carnaval merece sinal vermelho, não sendo o momento para pessoas se aglomerarem e ficarem juntas. A autoridade insiste com coragem: jamais tirem as máscaras, especialmente quando estiverem soltando os gogós, ou seja, cantando. Os vírus da pandemia irão direto para a boca, o nariz e os olhos da pessoa que estiver em sua frente soltando a voz.
Deus do Céu, como mudam as coisas, inclusive as de meu afeto particular, incorporadas a minha alma por décadas a fio. Quando eu imaginaria que o Cordão do Bola Preta (agora liderado pelo belo casal Diogo Nogueira e Paolla Oliveira) poderia me amedrontar. Isso além dos temores pela certa animação dos programados para sair no Monobloco e no Sargento Pimenta.
Confesso que sou tomado de pena e comiseração pelos que podem estar em risco, ao saber de tantos bailes programados e tantas festetas particulares ou até mesmo em locais públicos como acontece na Zona Portuária do Rio.
Este velho folião se declara retiradíssimo nesta pandemia. Não saio de casa por nada. Mas os jovens inquietos e cheios de hormônios, como contê-los…
Um apelo desta modesta crônica, que não será lida para quem endereço as inquietações aqui perfiladas de pouco servirá. E quando, e se for lida, será taxada de passadista e mal humorada.
Portanto, registro alguns consolos por ações de bom senso. A prefeitura proibiu há dias o encontro dos blocos de rua do Rio na feira de São Cristóvão. A SEOP também informou que o carnaval da Varanda Lagoon na Lagoa estava sendo vetado. Em outros recantos da cidade aniversariante (457 anos!) como o Largo da Prainha, as festas seguem para os amantes do carnaval de ontem. Como precisamente este escriba, que mal tem coragem de assinar o texto aqui apresentado, recomendando subtração de alegria à gente do meu bem querer pessoal. O que fazer se as pessoas estão de fato ansiosas para sair, se agrupar aos outros e requebrar.
Por tanto tempo todos ficamos isolados e tomados pelo medo. Agora, o que fazer…
Ainda me disponho, contudo, a refletir sobre medidas que cidades como Salvador, Recife e São Paulo adotaram com sabedoria. Cancelaram a festa.
É verdade que em todo país a situação sanitária comprova um declínio de ocupações hospitalares. Mas, convenhamos, será quase intolerável imaginar consequências funestas para as exauridas equipes do SUS, caso atropeladas por súbita recaída da pandemia, após um ataque da farra momesca.
Algumas cidades cancelaram os feriados do carnaval para desestimular a desobediência. Mas esses perdulários dias apelidados por décadas “pontos facultativos” permanecem como uma praga a envergonhar o país de Macunaíma. Ou pensando melhor, para glorificá-lo ainda mais.
Em resumo, que a fiscalização pública exija absoluto rigor na verificação do comprovante de vacinação de quem entre em qualquer multidão. E cobre todos os protocolos sanitários, como as máscaras. Incomode a quem incomodar.
Acode-me para finalizar essas talvez amargas palavras uma reminiscência que se incorporou à crônica carioca. Em 1912 o Rio decretou às vésperas do carnaval o adiamento da folia para depois da Páscoa, em virtude da morte do Barão do Rio Branco. O luto seria solenemente ignorado pelos cariocas e o Rio teria dois carnavais. Um posterior, ingenuamente imposto pelo governo. E o mais animado como também o mais lúgubre de todos – o carnaval blasfemo para “celebrar” a morte do Barão.
***
P.S-1: Com possível autorização do presidente da ABL Merval Pereira, a Rádio Roquette Pinto poderá transmitir diretamente da Academia a posse de Gilberto Gil e a entrega do Prêmio Machado de Assis ao escritor Ruy Castro. O jornalista Claudio Magnavita preside o Conselho da emissora oficial do Rio.
P.S-2: Repercute pelo mundo literário o apelo do Pen Clube do Brasil contra a guerra da Ucrânia. Os escritores e intelectuais brasileiros também pedem a paz.
RICARDO CRAVO ALBIN – Jornalista, Escritor, Radialista, Pesquisador, Musicólogo, Historiador de MPB, Presidente do PEN Clube do Brasil, Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.
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