Por Bolivar Meirelles –
Boas memórias.
Dei aula na faculdade de economia da Cândido Mendes. Frente ao Centro Histórico do Rio de Janeiro. Seis anos de atividades de Magistério. O Professor Cândido Mendes de Almeida possibilitou atividade pedagógica a vários que, como eu, haviam sido atingidos por atos discricionários da ditadura dos governos militares. Dos golpistas do pós abril de 1964. Grande professor Cândido Mendes de Almeida! Boa memória dos perseguidos políticos. Católico verdadeiro. Cristão de “boa cepa”. Irmão de Don Luciano Mendes de Almeida. Ajudou a volta de Darcy Ribeiro à sua pátria. Abriu espaço sim. Lutou como intelectual internacionalmente conhecido, leigo importantíssimo, católico de alta expressão. Foi o professor. Foi o lutador democrático. Foi o ampliador do espaço possível. Armas de intelectual culto. Defensor da educação e da cultura. Manobrou, como estratega, confrontando nos espaços possíveis os inimigos da cultura e do saber. Estivesse Darcy Ribeiro vivo, discursaria na despedida desse grande liberal político. Vai professor Cândido Mendes…dos últimos liberais verdadeiros. Recebia os comunistas perseguidos e os que lutavam contra o execráveis governos da Ditadura Militar. Recebia os democratas defensores da democracia burguesa.
Não simpatizava, sim, com os torturadores, os estupradores e os assassinos em quartéis ou estabelecimentos civis como a Casa de Torturas de Petrópolis.
Sim, ateus ou crentes, quando defensores da volta ao Estado Democrático eram, por esse fervoroso cristão, bem recebidos. Presto esse depoimento com tranquilidade até pelo fato de, eu, pertencer ao conjunto dos atingidos pelo primeiro ato Institucional dos governos militares Ditatoriais. Presto esse depoimento por eu pertencer ao grupo dos não religiosos. Saí da atividade de magistério na faculdade Cândido Mendes de Economia, por vontade própria. Quando, anos passados, me encontrei com o professor Cândido Mendes de Almeida, em missa de sétimo dia do professor Paulo Pinto Kelly, ex-professor e ex-coordenador da instituição, militar também cassado, ao falar que me afastara de “moto próprio”… O professor Cândido Mendes se expressou: “as portas estão abertas”. Da Gama Filho e da Estácio de Sá não tenho condições de dizer o mesmo. Essas duas instituições agiram de forma muito diversa da do estimado Professor Cândido Mendes de Almeida. Dei aula nessas também. Enfim, a realidade é como é. A luta continua e os bons exemplos estruturam a nossa existência.
Vai professor Cândido Mendes de Almeida. O adeus não nos afasta. Seu exemplo fica.
BOLIVAR MARINHO SOARES DE MEIRELLES – General de Brigada Reformado, Cientista Social, Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre, Mestre em Administração Pública e Doutor em Ciências em Engenharia de Produção, Pós Doutor em História Política, Presidente da Casa da América Latina.
Tribuna recomenda!
