Por Amirah Sharif –

Direito dos Animais.

Na semana passada, o gato de estimação da jornalista colombiana Sandra Vélez invadiu transmissão ao vivo do telejornal e, como era de se esperar, viralizou.

A apresentadora noticiava o fato de que uma ambulância havia sido encontrada com drogas, quando entra seu pet roubando a cena e se tornando o personagem principal.

A pandemia mudou alguns hábitos de profissionais de toda a parte do mundo, que tiveram que se adaptar às modalidades do home office, inclusive os da área da comunicação, que passaram a apresentar as notícias diárias de dentro de suas casas.

O que chamou mais a atenção dos internautas foi o fato de Sandra ter mantido a postura e o foco na informação, não deixando seu gatinho atrapalhá-la, nem distraí-la.

“Que profissionalismo de Sandra Vélez, como ela lida com a situação sem se desconectar das notícias!”, comentou um dos internautas sobre o ocorrido.

Por quem os sinos miam….

Quando fui pesquisar sobre os gatos, fiquei surpresa com o fato de alguns escritores e cantores dedicarem uma obra falando sobre os felinos.

O escritor americano William S. Burroughs escreveu “O gato por dentro”, em homenagem a seus bichanos.

O poeta americano T.S. Eliot era um intelectual sisudo, mas para seus gatos, era só sorrisos. Seu livro infantil “Os gatos” inspirou o musical “Cats”, que teve sua estreia em Londres, em 1981 e que se consagrou por dezoito anos em cartaz na Broadway. Para realizar esse espetáculo, Andrew Lloyd Webber musicou uma série de poemas de T.S. Eliot sobre gatos, onde “Memory” foi a música de maior sucesso.

Um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos, o maranhense Ferreira Gullar escreveu o livro infantil “Um gato chamado Gatinho” em homenagem a seu amigo peludo.

O cantor Freddie Mercury, da banda Queen, teve 10 gatos ao mesmo tempo e, um deles, a pequena Delilah serviu de inspiração para o astro compor um dos sucessos da banda.

O criador do surrealismo nas pinturas, Salvador Dali (foto acima), era conhecido pelos seus bigodes enrolados e por ser um amante de gatos, sendo que alguns serviram de modelo para seus quadros.

O escritor de contos de terror alienígena e sobrenatural, o americano Howard Phillips Lovecraft em “Os gatos de Ulthar” narra as coisas terríveis que os gatos fazem com os humanos que maltratam felinos. Pois é:um dia da caça, outro do caçador.

Ernest Hemingway, um dos maiores autores de todos os tempos, tinha muitos, mas muitos gatos andando livres em sua casa em Cuba. Opa! Descobrimos “sem querer querendo” por quem os sinos miam.

Todo dia é dia de gato

Existem três “dias internacionais” dedicados aos gatos e um “dia mundial”, além de vários dias nacionais para países específicos. Ficaram curiosos?

O dia mundial do gato é celebrado no dia 17 de fevereiro, graças à jornalista Claudia Angeletti , que por meio de votação com leitores da revista “Tuttogatto”, resolveram criar a data.

Nos Estados Unidos, no dia 20 de fevereiro, é celebrado o dia do gato, uma homenagem ao Socks, o gato que “cogovernava” com o ex-presidente Bill Clinton.

Socks era um carismático gato preto e branco adotado pela adolescente Chelsea Clinton, quando o pai ainda era governador de Arkansas.

Até que Socks aguentou bem a pressão midiática quando, em janeiro de 1993, a família Clinton se mudou para a Casa Branca. O sucesso do felino foi tão grande que logo começaram a chegar milhares de cartas de crianças dirigidas ao charmoso felino. Anos mais tarde, Hillary reuniu-as em livro.

Mas, em 1995, Socks descobriu que a fidelidade não era uma das virtudes de Bill Clinton. Saudoso da companhia de um cão, o ex-presidente adotou o labrador Buddy. Até que tentaram a convivência pacífica, mas o felino não aceitou. Quando os Clinton deixaram a Casa Branca, Buddy acompanhou a família e Socks ficou com a ex- secretária do presidente, Berry Currie. Bom, melhor não comentar. Apenas uma observação: um gato que foi inspiração para celebrar o dia do gato termina seus dias longe da família que o criou.

No dia 22 de fevereiro é celebrado o dia dos gatos no Japão. No dia 1º de março é quando a Rússia comemora. Tem até dia de abraçar seu gato: 4 de junho.

Dia do gato preto

Pra início de conversa, o gato preto não dá azar. Ingleses e irlandeses torcem para encontrar o pet na rua que, para eles, é sinal de sorte.

Na verdade, essa crença de boa sorte vem lá do Egito. A deusa da fertilidade, da mulher e da divindade solar, Bastet, era representada em partes por um gato preto.

O dia do gato preto acontece todo 27 de outubro. A data foi criada para conscientizar os humanos e, assim, diminuir o preconceito sofrido por questões de superstição. Boatos foram criados (“fake news”) de que as bruxas se transformavam no animal.

Doce lembrança

Já contei que fui adotada por uma senhora viúva de coração rubro-negro. Certo dia, no primário, disse a ela que havia tirado 9 numa prova e minha mãe me perguntou ( toda mãe pergunta): por que não tirou 10?

Havia perdido um ponto ao responder sobre as 3 raças que existiam no mundo. Disse que havia muito mais de três, mas citaria a canina, a felina e a humana.

Minha mãe não entendeu a perda do ponto e foi lá na escola. E eu, morrendo de vergonha, disse pra ela não ir. Ela foi falar com a diretora. Meu Deus! Mais vergonha ainda.

A diretora explicou que eu deveria responder que as três raças são a branca, a negra e a amarela, no entanto eu havia respondido outra coisa.

Minha mãe, perplexa, retrucou. Percebi que a diretora só estava “ouvindo” aquela mãe de aluna, porque não poderia perder a polpuda mensalidade.

E percebam o que minha mãe serenamente falou: me causa estranheza minha filha estar matriculada em um colégio católico em que se ensina que no mundo há 3 cores de pele como se fossem raças. Onde já se viu isso? Ela está certa! Raça é a humana, canina, felina, equina, caprina, etc. e não essa resposta cretina (acho que ela falou pra rimar) de que seria preta, branca, amarela, azul, sei lá que cor. Não estou criando minha filha para olhar a cor da pele das pessoas e perceber diferenças a partir daí. Eu crio minha filha para olhar o coração das pessoas. Cor de pele é um detalhe, portanto exijo que essa questão seja anulada para que eu não tenha que retirá-la desse colégio, que está ensinando tudo errado.

Naquele dia, tive algumas certezas: a de que não há criança branca ou preta ou amarela, há criança; a de que não há mãe solteira ou casada ou viúva, há mãe; e a de que não há três raças no mundo!

Vira, vira, vira!

A canção de Ney Matogrosso “Vira” nos diz que “o gato preto cruzou a estrada, passou por debaixo da escada e lá no fundo azul, na noite da floresta a lua iluminou a dança, a roda, a festa…. Vira, vira, vira!”

E eu pergunto: quando é que o homem vai virar Homem?

Talvez dona Milu, personagem interpretada pela atriz Miriam Pires, na novela Tieta saiba responder:

“Mistéééério…”.

AMIRAH SHARIF é jornalista, advogada, protetora dos animais e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. asharif@bol.com.br


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