Por José Macedo

Moïse era um ser humano é, sua pátria, a terra.

Ele estava no seu lugar, não ocupava o lugar de ninguém, porque, onde vivia e trabalhava era, também, seu lugar. A terra, suponho, é de todos ou dever ser.

Quem matou Moïse foi o ódio, foi a estupidez de um povo, mergulhado no obscurantismo, que nega o outro, nega tudo, imaginando estar salvando sua vida, seu umbigo, mas plantando a semente da maldade, significando semear o que está oculto, raízes vivas do nazifascismo, este portador do racismo, da exclusão, por consequência, nega o negro, o pobre, o favelado, o índio. Para os 57 milhões que elegeram esse governo, que impõe sua filosofia de psicopatia, a vida é posta em plano secundário.

O descuido com nossas florestas e a opção pelo excesso de agrotóxicos são exemplos. Agrotóxicos, proibidos por países que os fabricam, são aceitos, aqui, com facilidade. Por que, então, importar-se com um congolês? A vida pertencia, tão-só, a Moïse, a Marielle e a tantos e tantos, que foram roubados de suas vidas e dizimados. Porém, todos eram, suponho, “protegidos” por uma Constituição, que reza ser a vida e a proteção, cláusula pétrea.

Quem matou Moïse foram os mesmos, (plural) que mataram Marielle, matam pobres, pretos e favelados.

Moïse e Marielle representam os milhares, que morrem, esquecidos, muitos, até, não são contabilizados, não servem para engrossar as estatísticas oficiais. Às vezes, tenho vergonha de proclamar o local ou o país onde nasci, ou até, de que sou humano. Castro Alves, o poeta dos escravos, teve a coragem de perguntar a Deus: onde estás? A resposta está naqueles que o negam, apesar de assumirem responsabilidades para governar esse país.

Havendo, seja onde for, está habitado por aqueles, que deram poderes ao protofascista para governar. Muitos elegeram seu mandatário, sabendo da visão do passado do candidato. O ódio, o preconceito e o fascismo cegaram-nos e o protofascismo venceu. Vocês sabiam e assim elegeram seus representantes, seus algozes, portanto não peçam a intervenção divina. O poeta fez uma denúncia, quando já esgotaram os meios e seu grito, imaginou, possíveis de serem ouvidos. Ah, no desespero do poeta, seu grito de quase choro ecoa, até hoje!

O nazifascismo, altamente, autoritário, nacionalista e racista, governando nosso país, matou Moïse, Marielle e muitos anônimos. Você não os matou? Onde vocês estão? A cada 6 horas, uma mulher é violentada, é assassinada, em sua maioria, preta, pobre ou favelada.

Essas vidas perdidas não importam?

JOSÉ MACEDO – Advogado, economista, jornalista e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.


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